No Orçamento português, as previsões baseiam-se num preço médio de 54,8 dólares, mas a valorização neste ano já ultrapassa os 10%
Os cortes de produção coordenados entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Rússia estão a dar os resultados pretendidos por esses produtores. Em pouco mais de dois anos, o preço do ouro negro duplicou. Só em 2018, o brent já ganha mais de 10%.
Uma subida que interessa a economias muito dependentes da produção de petróleo, como Angola ou Venezuela, mas para economias que dependem da importação de petróleo os preços elevados podem ser uma má notícia. No Orçamento do Estado para este ano, por exemplo, o governo estimava que, se o preço do ouro negro ficasse 20% acima do estimado, isso teria um impacto negativo de 0,1 pontos percentuais e levaria a uma degradação do saldo da balança comercial.
No Orçamento, o governo estimava um preço médio de 54,8 dólares do brent. O barril custa atualmente quase 75 dólares e os analistas sondados pela Reuters reviram em alta a cotação média deste ano para 67,40 dólares, um preço 20% acima do estimado pelo governo. E não descartam que haja momentos durante o ano em que o ouro negro passe a fasquia dos 80 dólares. Filipe Garcia, economista da IMF, diz que “durante algum tempo a subida do preço do petróleo foi acompanhada de uma valorização do euro, o que alisou o movimento”. Mas observa que “agora não é isso que está a acontecer”. Desde o início do ano, em euros, o petróleo ganha 11%, para mais de 62 euros por barril (ver gráfico). O preço mais do que duplicou desde o início de 2016.
Apesar desta subida, o economista da IMF diz que ainda não se notam os efeitos do petróleo mais caro na inflação. Ainda assim, Filipe Garcia explica que “para a economia europeia, dependente energeticamente, a subida do petróleo será negativa, como já aconteceu”. E, apesar de os preços não estarem a pesar na recuperação, o economista considera que um “regresso a cem dólares poderia voltar a ter impacto recessivo”. Acrescenta que “para Portugal seria o mesmo por duas vias: porque é dependente energeticamente e porque uma desaceleração nas economias europeias iria fatalmente contaminar a atividade económica nacional”.
Além da menor produção da OPEP e da Rússia, a subida dos preços é também explicada pelas ameaças sobre o fim do acordo nuclear entre EUA e Irão. Trump vai anunciar uma decisão a 12 de maio e nesta segunda-feira Israel acusou Teerão de ter quebrado as promessas que serviram de base ao entendimento (leia mais na pág. 23).
No longo prazo, há quem aposte em subidas de grande dimensão. Pierre Andurand, segundo a Bloomberg, um dos investidores mais conceituados no mercado petrolífero, avisou que a falta de investimento em inovação das grandes petrolíferas pode levar a choques de oferta em alguns anos, o que arriscaria levar o petróleo para preços mais altos. Não exclui a possibilidade de chegar a 300 dólares se as empresas continuarem relutantes em investir.