Costa e Temido apelam à utilização da Stayaway Covid, a aplicação de rastreio de “grande responsabilidade”
A sessão de apresentação pública da aplicação portuguesa de rastreio digital da Covid-19 – Stayaway Covid teve lugar esta terça-feira no Instituto Superior de Engenharia do Porto. António Costa esteve acompanhado pela ministra da Saúde, Marta Temido, e pelo ministro da Ciência, Tecnologia, e Ensino Superior, Manuel Heitor.
A primeira a falar na conferência de imprensa foi a ministra da Saúde. A governante considerou que a aplicação é uma “ferramenta muito útil nos tempos que agora começamos a trilhar”, nomeadamente, “tempos de regresso às aulas, tempos de regresso à normalidade possível”.
Marta Temido frisou que a aplicação é “confidencial e segura” e que descarregar a Stayaway Covid é “um exercício de responsabilidade” e de “solidariedade”. Depois, pediu prudência e calma na sua utilização — e enfatizou que só porque um utilizador recebeu um alerta a dizer que contactou com alguém positivo, tal não significa que a pessoa esteja infetada.
“A questão do alerta emitido por esta ferramenta tem de ser lida com prudência. Nunca é demais reforçar isto: a exposição não significa infeção”, aferiu. Por isso, apelou àqueles que descarregarem a aplicação e recebam o alerta de que estiveram em contacto com alguém infetado, para que fiquem tranquilos para que possam fazer os contactos telefónicos necessários com a SNS24.
Marta Temido salientou que este processo é voluntário nas suas várias fases: não só no descarregamento, mas depois quando o utilizador recebe o alerta de que contactou com alguém infetado. E pediu para “confiar no médico, no clínico”. E explicou porquê: apenas aquele profissional pode fornecer o código que se insere na aplicação — e que vai permitir alertar os outros utilizadores que estiveram próximos.
Por fim, a governante deixou um apelo: a de que aplicação seja de facto descarregada. (Ainda que tenha confidenciado que a própria “estava em processo” de o fazer porque o seu sistema “disse que tinha de ligar [o seu dispositivo] à corrente durante a noite”. Ou seja, deu o seu exemplo para sinalizar que o mesmo pode acontecer com outros utilizadores; assim, pediu para que “ninguém” desista de tentar instalar a aplicação.)
Contudo, a ministra está ciente de que “há riscos”, mas que estes não devem nos inibir de tentar fazer “a vida normal possível” e que devemos de encontrar ferramentas que o permitam levar a cabo — aproveitando para reiterar um pedido já feito anteriormente, isto é, apelando tanto à instalação da aplicação como à sua “efetiva utilização”.
Apesar das vantagens, a governante assumiu que a aplicação tem limitações, como qualquer ferramenta, nomeadamente o facto de nem todos terem tecnologia compatível, nem todos descarregarem a aplicação e nem todos andarem com o telemóvel por todos os locais por onde passa. Por isso, a calibração e aperfeiçoamento desta é “essencial”.
“A calibração desta ferramenta é essencial. Neste momento a exposição dois metros + de 15 minutos será o adequado. Estes são as referências que temos numa área em que sabemos que o nosso conhecimento é ainda muito imperfeito e está sujeito a uma grande incerteza que temos de continuar a aperfeiçoar”, disse.
Além disso, a governante frisou que esta é “fundamental” para apoiar as autoridades da saúde porque acelera o seu trabalho, é um auxiliar de memória, regista acontecimentos quase impercetíveis, ou seja, contactos que as pessoas não inscrevem na memória e, num mundo global onde as pessoas se movimentam entre vários países, pode ser um “auxiliar precioso”.
Depois da ministra da Saúde, interveio o primeiro-ministro
António Costa afirma que a aplicação é mais um instrumento e uma ferramenta (“de grande responsabilidade”) a alicerçar ao que já é por esta altura sobejamente conhecido para diminuir a carga dos profissionais de saúde e lutar contra a pandemia, isto é, ao distanciamento social e à higienização das mãos.
“Já tive a oportunidade de descarregar ontem [segunda-feira] a aplicação — já a tenho no meu telemóvel e ela informa-me que não foram registados quaisquer contactos com elevado risco de contágio”, salientou o Chefe de Governo, brincado que não teve “os mesmos problemas durante a noite” que a ministra da Saúde durante o descarregamento da Stayaway Covid.
Mas porque considera António Costa esta aplicação importante? Porque é aquilo que vai permitir, caso estejamos infetados, de “informar não só os nossos familiares, as pessoas com quem trabalhamos, os amigos com quem estamos, as últimas pessoas com quem nos lembramos de ter estado nos últimos 14 dias”.
“Eu comprometo-me a se algum dia estiver infetado — embora espere que nunca a venha a estar — em fazer essa comunicação e a alertar todos aqueles a quem involuntariamente possa ter infetado. E isto tem uma contrapartida. É que eu também agradeço a todos aqueles que tenham estado comigo numa fila do supermercado, num transporte público, num Congresso, numas aulas, num emprego ou em qualquer outro local, que também avisem”, afirmou António Costa.
O líder do executivo lembrou que este cuidado é fundamental porque um dos elementos mais perigosos da pandemia é que a generalidade das pessoas (“pelo menos até agora”) não apresenta sintomas. Assim, é importante descarregar a aplicação — e não há motivos para não o fazer, segundo Costa, que apela às pessoas para não terem receio de descarregar a aplicação.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
“As pessoas não devem de ter receio de descarregar a aplicação”, frisou, antes de salientar que é “segura”, uma vez que não “dá para os engraçadinhos fazerem partidas”. Isto acontece porque o alerta só pode ser dado “se o médico fornecer o código”, o que não deixa emitir “falsos alertas”.
António Costa reforçou algo que a Ministra já tinha adiantado também durante a sua intervenção. Quem receber um alerta não tem que “entrar em pânico” porque tal não significa que tenha ficado infetado. Ou seja, só tem “pegar no telefone, ligar para a linha de Saúde 24 e seguir as instruções das autoridades de saúde que lhe sejam transmitidas”.
O Chefe do Governo diz que se trata de “um esforço pequeno”, mas que é esforço “fundamental de todos nós”— da mesma forma como “lavamos as mãos, utilizamos as máscaras e deixamos de dar abraços e apertos de mão e mantemos a distância social”. Em suma, a ferramenta que vai ajudar a “travar” esta pandemia enquanto a vacina não está disponível.
“É um dever cívico descarregar esta aplicação e sinalizarem se vierem a ser diagnosticados como sendo positivos”, completa.
Num momento em que recomeçam as aulas, reabrem os tribunais, as pessoas regressam de férias e aos seus locais de trabalho, fazendo com que hajam mais concentrações e deslocações de metro ou autocarro, o chefe do Governo afirmou que a ‘Stayaway covid’ é “muito importante” para travar os contágios.
A única forma de garantir que a pandemia da covid-19 não se descontrole e que o país não volta a passar pelo mesmo do que nos meses de março e abril depende “unicamente dos cidadãos”, lembrou, acrescentando que a aplicação não garante a cura, mas garante a interrupção das cadeias de transmissão.
Não cura, mas é um “exercício de responsabilidade cívica”
O ministro da Ciência, Manuel Heitor, afirmou hoje que apesar de “não curar”, a aplicação ‘Stayaway covid’ é um “exercício de responsabilidade cívica”, apelando aos dirigentes do ensino superior para massificarem a propagação de utilização junto dos estudantes.
“A aplicação, ela própria não cura, mas previne e sobretudo, é um exercício de responsabilidade cívica que todos temos de seguir e partilhar. Obviamente, o arranque do ano letivo é uma oportunidade particularmente importante para, também com esta aplicação, garantirmos um ensino do sistema de ensinar e aprender presencial”, afirmou hoje Manuel Heitor.
O governante lembrou que este foi “um processo inédito em Portugal”, particularmente, porque, pela primeira vez, teve de se cumprir um relatório de avaliação da privacidade de dados.
“Este processo, que de certa forma, é inédito em Portugal, teve de cumprir um relatório de avaliação de dados que nunca tinha sido feito, quer no contexto europeu, mas sobretudo, em Portugal, por isso, foi um exercício longo”, referiu Manuel Heitor, salientando que a aplicação não seria possível sem a Direção-Geral da Saúde (DGS) e os gabinetes associados do Ministério da Saúde.
Durante a sua intervenção, o ministro salientou ainda a capacidade dos laboratórios associados, como é o caso do INESC TEC, terem como missão apoiar as políticas públicas, considerando este um “sinal claro” do papel destas instituições.
“Durante a pandemia ficou claro o papel dos laboratórios associados para aquilo que é o apoio às políticas publicas e forma de o conhecimento ser produzido e difundido para apoiar as políticas publicas”, afirmou.
Manuel Heitor mencionou ainda o papel da Europa, nomeadamente, do consórcio europeu que liderou o protocolo de criação de aplicações de rastreio, que “serve de exemplo a todo o mundo”, destacando que Portugal é o nono país a ter disponível uma aplicação deste género.
O que é STAYAWAY COVID?
A Stayaway Covid é uma aplicação voluntária que, através da proximidade física entre ‘smartphones’, permite rastrear de forma anónima as redes de contágio por covid-19, informando os utilizadores que estiveram, nos últimos 14 dias, no mesmo espaço de alguém infetado com o novo coronavírus.
Assim, a app irá então comunicar o diagnóstico a todos aqueles que tiveram contacto de proximidade, sendo este estipulado como sendo inferior a 2 metros durante mais de 15 minutos com a pessoa infetada. A Stayaway Covid é gratuita e anónima, sendo que a única coisa que é pedido ao utilizador é que em caso de “testar positivo”, insira na aplicação o código que lhe é fornecido.
De acordo com a informação disponível na apresentação da aplicação, a Stayaway Covid “permitirá, em Portugal, de forma simples e totalmente segura, que cada um de nós seja informado sobre a possibilidade de contágio, tendo em conta a monitorização os nossos contactos anteriores. Se todos usarmos a aplicação, esta será um auxiliar precisos e determinante para juntos vencermos a Covid-19”.
Segundo Francisco Maia, presidente executivo da Keyruptive e investigador do INESC TEC, em declarações ao Observador, excluindo o facto de ser necessário ter uma conta Google ou iOS para instalar a aplicação, “não existe nenhum tipo de autenticação, nem informação do utilizador” para utilizar a Stayaway Covid.
É desenvolvida pelo INESC TEC, ISPUP, Keyruptive e Ubirider e conta com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Já é possível descarregar a aplicação na Play Store (sistema Android) e na App Store (sistema iOS).
Os apelos à sua utilização
Durante o mês passado, em 5 de agosto, na conferência de imprensa para fazer ponto de situação da covid-19 no país, Luís Goes Pinheiro, presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, apelou a “todos os residentes em Portugal” que utilizem a aplicação.
Todavia, para chegarmos ao dia de hoje, Marcelo Rebelo de Sousa teve que aprovar o diploma sobre a mesma, também em meados de agosto. E, sobre a aplicação, o Chefe de Estado afirmou que não teve “dúvida nenhuma” em fazê-lo, pois “é uma lei que é muito importante, porque abre um caminho que esperamos que seja frutuoso para todos os portugueses”.
O Presidente considerou também que “muitos portugueses ansiavam por esta lei e esta aplicação”, mas, para ter a certeza que “não era inconstitucional nem levantava problema legais, foi feito um estudo” que não lhe trouxe “dúvidas nenhumas”.
Esta segunda-feira, António Costa, na reentre política do PS, também já tinha pedido aos presentes a sua instalação — que ele próprio iria instalar no seu aparelho para dar o exemplo.