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Novos Pobres: A pandemia adiou o sonho e levou os rendimentos de um casal de Gondomar que tinha acabado de criar uma empresa

Um casal de Gondomar que em 2019 criou uma empresa de turismo no Porto para procurar um futuro melhor integra hoje o rol dos “novos pobres” criados pela pandemia da covid-19.

Luís e Amália, nomes fictícios, lançaram no final de 2019 as raízes da sua empresa que visava rentabilizar a procura crescente do Porto como destino turístico, mas a chegada da covid-19 remeteu o casal para três meses sem rendimentos, depois de quase dois mil euros investidos.

“Foi quase a tempestade perfeita. Se a declaração de pandemia tivesse chegado uma semana mais tarde, teríamos certamente comprado a ‘minivan’ que estávamos a avaliar e hoje o nosso problema seria muito maior, pois previa um pagamento mensal na ordem dos 800 euros”, relatou à Lusa Amália, de 42 anos, guia-intérprete no Porto.

Luís, espanhol de 40 anos e com larga experiência, também, no ramo do turismo, tendo “trabalhado vários anos em Madrid” conduzindo os visitantes nos ’tours’ de autocarro pela cidade, conheceu Amália em 2017 no âmbito das suas funções, acabando por mudar-se em 2018 para o Porto e planear uma vida a dois.

O amor fez o resto e ao desejo de uma vida em conjunto juntou-se “um projeto de vida”, em que fundiam a experiência de ambos “na criação de uma empresa de animação turística, virada para os privados, para o cliente individual e para as famílias”.

Resolvido o problema da sede – “a legislação portuguesa não obriga à existência de um espaço físico”, explicou Amália – os já noivos avançaram em novembro de 2019 para a constituição da empresa.

No entretanto, ela mantinha a sua atividade de guia-intérprete enquanto Luís arranjara emprego numa empresa de autocarros.

“O facto de trabalhar numa empresa que, tendo turismo, não se dedicava a 100%, não me agradou”, explicou Luís, cada vez mais empenhado em voltar a ter a oportunidade de viajar, acabando por acompanhar “o empenho” de Amália em avançar para a constituição de uma empresa de animação turística.

Essa opção, explicou Amália, teve por base o “turismo estar em alta no Porto e a crescer cada vez mais” e, aconselhados, decidiram avançar com a criação da “Pick Up Your Travel”.

Em dezembro iniciaram o processo de inscrição no Registo Nacional de Atividade Turística, que “demorou uma eternidade por causa dos seguros” necessários, contou a guia-intérprete agora, também, sócia-gerente.

“O Turismo de Portugal enviou o registo no final de janeiro”, poucos dias antes de casarem, sendo que a paragem que impuseram a si próprios para tratar das questões do enlace acabou por adiar a aquisição da viatura para depois do regresso da lua de mel, relatando Luís que, “quando estavam para assinar o contrato de aquisição da viatura, chegou a pandemia” e foram “aconselhados a parar”.

Amália fez o último serviço como guia-intérprete a 15 de março, numa altura em que Luís já se tinha despedido da empresa de transporte, acabando o casal por conhecer uma nova realidade, a de não ter direito a apoio do Estado.

“Apesar de eu passar recibos verdes, o facto de ser sócia-gerente da empresa não me deu direito a receber nenhum apoio do Estado, sendo que não houve nenhuma entrada de dinheiro desde a sua constituição, não há faturação. Tenho colegas que estão a receber o salário mínimo, mas eu não tenho direito a nada”, lamentou Amália.

Em sentido contrário, o casal teve de investir “quase dois mil euros”, contou o marido, que recordou a “catástrofe” que foi a sua decisão de largar o emprego em janeiro e perder, assim, a oportunidade de, pelo menos “receber pelo ‘lay-off'” então aplicado ao setor em Portugal.

Com o mercado de motoristas de autocarro parado, e Luís sem conseguir arranjar emprego, Amália arranjou colocação num ‘call center’, no Porto, onde está a trabalhar desde junho, sete horas por dia, o que não lhe permite “ganhar, sequer, o salário mínimo”, contou.

Ainda assim, mantêm, o sonho “é para cumprir” e acreditam que a retoma do turismo “vai trazer uma procura diferente, com grupos mais pequenos, logo mais ajustada ao seu modelo de negócio”.

Até lá, assumem, “o resto de 2020 vai ser para tentar aguentar e pagar as contas”.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 731 mil mortos e infetou mais de 19,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.759 pessoas das 52.825 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Origem
Sapo24
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