Mais 65 novos hotéis em 2019
Apesar do sinal de abrandamento do turismo, os investidores continuam a apostar em novas ofertas no mercado nacional. Mas o setor depara-se com a dificuldade de contratar mão-de-obra.
Apesar de começar a dar sinais de abrandamento, o número de turistas que continua a chegar ao nosso país basta para não afastar o interesse dos investidores, nem travar o aparecimento de novos hotéis. Os números falam por si: só este ano deverão surgir mais 65 novas unidades – só em Lisboa são esperados 22 hotéis e o Porto deverá receber 15 –, traduzindo-se num aumento de mais de 570 quartos. Estão previstas ainda 15 remodelações, com a capital a ser alvo de quatro, reforçando a oferta em mais 986 quartos.
Lisboa e Porto são as áreas que registam o maior número de dormidas de turistas e são também aquelas que têm tido maior procura por parte dos investimentos hoteleiros.
Ainda que o foco esteja nas grandes cidades, o resto do país não fica esquecido. Estão previstos, além de sete novas unidades hoteleiras e uma remodelação no Centro, cinco novos hotéis para o Alentejo e duas remodelações. Também os Açores e a Madeira vão ser reforçados com mais uma e três unidades, respetivamente.
Aliás, estes números vão ao encontro do estudo avançado pela Deloitte que diz que 62% dos investidores estão a pensar em apostar no setor para os próximos 12 meses. Já quando questionados sobre o volume e preços de transação para os próximos três meses, 38% acredita que deverá aumentar, já 62% admite que será igual ao que estava previsto.
O que é certo é que grande parte destes novos hotéis já estava prevista para 2018. Mas por atrasos nas obras e por outros motivos, nomeadamente de licenciamento ou falta de mão-de-obra, a sua construção foi adiada para 2019, como reconhece ao SOL a presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal, Cristina Siza Vieira.
Mas sem dúvida que uma das maiores preocupações e também limitações está relacionada com a falta de mão-de-obra. «Há muitos anos que temos vindo a alertar para a escassez de trabalhadores no setor». Um problema que, de acordo com a responsável, não é exclusivo deste setor, mas que ganha maiores proporções face ao crescimento deste negócio face a outros.
«Há falta de trabalhadores desde o staff até ao serviço de apoio, no fundo é transversal em todos os serviços», esclarece. O cenário «de aumento de oferta e melhores taxas de ocupação exigem mais profissionais na hotelaria». E lembra que «às vezes nem sequer há as pessoas necessárias para abrir um hotel que já está pronto em termos de infraestruturas».
A preocupação é partilhada por Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) que chega a admitir que o setor precisa, pelo menos, de 40 mil trabalhadores. «No ano passado fizemos uma grande reflexão sobre o mercado de trabalho e em janeiro de 2018 fizemos um inquérito aos empresários do setor, e já nessa altura diziam que, se tivessem 40 mil trabalhadores disponíveis, teriam absorvido esse número de trabalhadores», revelou em entrevista ao i.
Entraves
A rotatividade, os horários noturnos e, até mesmo a sazonalidade em determinadas zonas do país – como é o caso do Algarve que, apesar de ter assistido a uma redução, continua a sofrer desse problema– são apontadas pelas responsáveis do setor como os principais entraves de captação de profissionais para este mercado. Ainda assim, mesmo em época baixa, as empresas estão a contratar, o que significa que estamos no «bom caminho no que respeita ao combate da sazonalidade».
Segundo a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, a batalha tem vindo a ser ganha, com mais turismo ao longo de todo o ano, o que garante receitas nos vários meses e geração de emprego que não seja apenas sazonal.
No entanto, a opinião é unânime: «É um trabalho exigente e penoso», mas compensado em termos salariais e de progressão de carreira.
«Temos de acabar com a imagem de que é um setor pouco digno, de trabalhos ditos precários, com salários pouco atrativos, de grande rotatividade e de profissões pouco dignificadas e valorizadas, porque não é assim», diz Ana Jacinto.
A responsável lembra que este setor trabalha 24 horas por dia, o que significa que um trabalhador não recebe só o salário-base. «Se o trabalhador estiver a trabalhar no período noturno tem uma compensação acrescida; o mesmo acontece se trabalhar num dia de descanso semanal ou num feriado, etc. Tudo isto é dinheiro, obviamente, na sequência de um esforço acrescido do trabalhador, porque ninguém gosta de trabalhar a um feriado ou a um fim de semana», salienta.
Uma das soluções encontradas passa por contratar mão de obra estrangeira, como garantem as duas responsáveis. «Temos vindo a falar com o Governo nesse sentido no que diz respeito a agilizar os processos», refere ao SOL Cristina Siza Vieira.
Mais de 400 mil no setor
A verdade é que, apesar destes entraves – abrandamento do crescimento do turismo (ver coluna ao lado) e da dificuldade de contratação de mão de obra – o setor tem vindo a contribuir para a criação de novos postos de trabalho. Entre 2015 a 2017, no canal Horeca, ou seja restauração e hotelaria, foram criados 64.600 postos de trabalho. Mas a este número há que acrescentar ainda os novos referentes a 2018 e ao início do ano.
Mas os números não ficam por aí. O setor do turismo, no final de 2017, registava mais de 146.600 empresas, que empregavam mais de 440 mil trabalhadores, de acordo com os últimos dados do INE. No entanto, tendo em conta apenas o canal Horeca, existiam, no final de 2017, 104.800 empresas e, no final do ano seguinte, empregava 328.500 trabalhadores.
Em 2019 a meta dos 400 mil trabalhadores já foi ultrapassada, de acordo com as contas da secretária de Estado do Turismo. «Ainda não temos números finais do mês de abril de 2019, mas já em meados de abril ultrapassámos pela primeira vez 400 mil trabalhadores a trabalhar no turismo. Nunca tivemos esse valor, em nenhum mês do ano, e é ainda mais importante isto acontecer no mês de abril», refere Ana Mendes Godinho.