Negócios

Há muitos turistas mas quartos estão a preço de “saldo”

Lisboa registou a segunda maior taxa de ocupação da Europa ao ultrapassar os 80,5%, mas o valor das receitas por quarto disponível fica abaixo da média europeia. Só Praga, Viena, Bruxelas e Madrid cobram menos que a capital portuguesa

O turismo em Portugal tem vindo a bater recordes e os números estão à vista. Mas estamos longe em termos de rentabilidade. Lisboa é uma das principais âncoras deste crescimento e já regista uma das maiores taxas de ocupação da Europa. E os números falam por si: a ocupação na capital ronda os 80,5%, ultrapassando cidades como Paris (78,8%), Londres (78%), Barcelona (79,2%), Madrid (75,2%) ou Roma (71,3%). Só Amesterdão ultrapassa a cidade lisboeta (85,5%), segundo o estudo “Atlas da Hotelaria”, da Deloitte. No entanto, o valor das receitas por quarto disponível fica abaixo da média europeia.

Mas vamos a números: segundo o mesmo estudo, Lisboa cobra em média 82,9 euros por quarto, enquanto a média europeia ronda os 93 euros. Isto significa que os valores praticados na capital ficam abaixo dos preços das suas concorrentes – Frankfurt (85,4 euros), Roma (87 euros), Milão (98,9 euros), Barcelona (100,3 euros) – e bem mais longe quando comparada com Amesterdão (116 euros), Londres (130,8 euros) e Paris (134 euros). Só Praga (68), Viena (77 euros), Bruxelas (77 euros) e Madrid (71,4 euros) praticam preços mais baixos do que Lisboa. Ainda assim, o Porto consegue ser mais barato, com a média de quartos a custar 66,6 euros.

Segundo o INE, as receitas da hotelaria nacional registaram uma subida expressiva em maio, mantendo a tendência de crescimento que observa em 2018. Os proveitos totais atingiram 344,7 milhões de euros, o que representa um crescimento de 9,1%.

No entanto, este aumento dos rendimentos na hotelaria só foi possível devido ao incremento no preço da diária. “O rendimento médio por quarto disponível a nível nacional foi de 56,5 euros em maio, o que se traduziu num aumento de 8,1%” em relação ao período homólogo, disse o INE.

Aliás, esta tem sido uma das preocupações do setor e do governo, já que o preço cobrado continua a ser visto como um dos nossos calcanhares de Aquiles. E só a partir do ano passado é que começou a ser possível ultrapassar os 50 euros por quarto, ou seja, praticamente o dobro quando comparado com os valores praticados em 2012.

Também em termos de alojamento local, o i sabe que os valores praticados têm vindo a baixar face à explosão de oferta. São as leis do mercado a funcionarem: muita oferta, o preço baixa.

 

Crescimento abranda Só no ano passado registámos 57 milhões de dormidas, de acordo com o estudo da Deloitte, e entre janeiro e maio, as dormidas já ascenderam a 19,6 milhões, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Só em maio, o nosso país registou dois milhões de hóspedes, mês em que contabilizou 5,4 milhões de dormidas. Mas esta atividade começa a registar crescimentos bem menores, longe dos números a que nos fomos habituando nos últimos anos e que registavam subidas na ordem das duas casas decimais.

E essa tendência é visível pelos dados relativos aos três primeiros meses do ano. Nessa altura, Portugal recebeu 3,4 milhões de turistas, que foram responsáveis por 8,8 milhões de dormidas no país. Os números refletem um crescimento de 6,7% e 5,6% face ao período homólogo e continuam a dar um importante contributo para a criação de riqueza nacional. Mas, no período em que o PIB avançou 2,8%, o melhor ritmo de dez anos, o turismo pesou menos.

Também a estadia média sofreu uma redução de 2,4% face a igual período do ano passado, totalizando 2,67 noites por hóspede. Já a taxa líquida de ocupação por cama, que estava nos 54,7%, representa uma redução ligeira de 0,4 pontos percentuais face a maio de 2017.

Apesar desta desaceleração, os responsáveis pelo setor continuam otimistas e dão uma justificação para este abrandamento. “Estamos perante um ano de uma certa consolidação para a hotelaria nacional. Depois de três anos de crescimento acelerado no setor, assistimos agora a uma estabilização da taxa de ocupação, a par de um crescimento sustentado do preço médio por quarto ocupado e do RevPAR – receita por quarto disponível”, diz ao i fonte da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). Já em relação aos mercados emissores internacionais, segundo a mesma, tem havido alguma flutuação. “No acumulado a maio, nos hotéis nacionais e de acordo com o ‘Hotel Monitor da AHP’, houve um decréscimo relativo das dormidas provenientes do Reino Unido, Holanda, Espanha e Alemanha, e um crescimento relativo dos Estados Unidos, Brasil e França”.

Também a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) reconhece que existe uma ligeira quebra de turistas internacionais e um abrandamento “que poderá dever–se, em parte, às condições climatéricas atípicas que se têm verificado este ano em Portugal”, diz ao i.

Além disso, Joaquim Ribeiro, vice-presidente da AHRESP, lembra que “também é natural que comecemos a assistir a algum abrandamento nas taxas de crescimento, uma vez que a atividade turística tem vindo a crescer a níveis bastante elevados face aos anos de crise que enfrentou. No entanto, este decréscimo não significa sinal de alarme. O que convém recordar é a questão da urgência de uma solução para o aeroporto de Lisboa, para que consigamos acolher mais turistas”.

 

Perspetivas Para o verão, a expetativa da hotelaria nacional é que seja uma época sem surpresas. E a AHP dá uma justificação: “No ano passado fechámos a época estival com uma taxa de ocupação de 86% e, segundo o inquérito sobre as perspetivas para o verão, realizado pela AHP junto dos hoteleiros seus associados, 45% dos inquiridos consideram que a taxa de ocupação será igual à do ano passado. Ainda assim, os inquiridos do Norte, Centro e Açores consideram que a taxa de ocupação será melhor do que no verão do ano passado. Para 79% dos inquiridos em Lisboa, 78% nos Açores e 77% no Algarve, a taxa de ocupação vai ser superior a 80%.”

Origem
Jornal i
Mostrar Mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao Topo