Fórum INTREPIDA: Um encontro para falar sobre empreendedorismo no feminino
O ambiente é animado, sem deixar de ser marcadamente empresarial. As atenções dirigem-se para a apresentação sobre os erros mais comuns no embalamento, no encontro do INTREPIDA, projeto europeu que apoia mulheres empreendedoras do Alentejo, Algarve e Andaluzia.
Loulé, no distrito de Faro, foi a cidade escolhida para a 3.ª edição do Fórum INTREPIDA, que durante dois dias da semana passada juntou 60 empresárias — das 500 envolvidas no projeto -, criando mais uma oportunidade para reforçarem o contacto e o intercâmbio de ideias e de experiências, fomentarem estratégias de colaboração e trabalharem a possibilidade de expansão dos seus negócios.
Se na sala do núcleo de Loulé do Instituto de Emprego e Formação Profissional a atenção está centrada nas conferências – embalamento, marketing por telemóvel ou vendas ‘on-line’ -, os intervalos e momentos de lazer tornam-se oportunidades para que as participantes se possam conhecer.
Muitas das participantes já se tinham cruzado nos encontros anteriores, mas também nas várias atividades desenvolvidas nas três regiões ibéricas desde o início do projeto, em 2017.
Até já há “projetos em conjunto e atividades desenvolvidas paralelas ao projeto” INTREPIDA, revela à Lusa Paula Paulino, diretora executiva do Núcleo Empresarial da Região de Évora, um dos parceiros portugueses.
Habituada a fazer ligação entre empresas, Paula Paulino confessa que “estes projetos pecam por já estarem atrasados, ao nível do tempo”, já que nas parcerias transfronteiriças se começou pelas infraestruturas e “só agora se está a dar valor à redes informais”, instrumentos importantes para criar “partilha e confiança”, essenciais para “se conseguir fazer negócio”.
O papel da mulher no mundo dos negócios tem vindo a mudar, com um cada vez maior números de empresas a surgirem por iniciativa feminina, num contexto onde conciliar vida profissional e familiar “continua a ser um desafio”, sublinha Catalina Bejarano, da Fundación Tres Culturas Del Mediterráneo, gestora do projeto, com sede em Sevilha.
Muitas mulheres, continua, resolveram criar a sua empresa para “poderem resolver as suas questões de emprego”. Afinal, não é fácil “conseguir um trabalho, principalmente se já se tem uma certa idade e filhos para criar”. Esta opção permite-lhes, por isso, criar “a independência económica e o tempo de que precisam para compatibilizar a família e o emprego.”
No entanto, a grande maioria são micro ou pequenas empresas, o que não ajuda a criar dimensão de negócio para uma expansão além de um pequeno território – daí a Tres Culturas ter criado o INTREPIDA, ao qual foram atribuídos 400 mil euros, num financiamento de 75% pelo programa Interreg V-A Espanha-Portugal (POCTEP 2014-2020), através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, da União Europeia, para juntar e ajudar empresárias a internacionalizarem os seus negócios.
Catalina Bejarano destaca que, com este projeto, “se criam condições e se dão as ferramentas”, mas “são as próprias mulheres a fazer o resto do trabalho para desenvolver os seus negócios” e a dar “um pequeno impulso para estarem presentes noutros mercados”.
A loja de um coletivo de artistas em Loulé, visitada pelas participantes do fórum, é um exemplo do sucesso da iniciativa.
Ainda as empresárias admiram a montra e já se comenta a beleza do local e se há a possibilidade de trazerem os seus produtos, do outro lado da fronteira, para os expor na zona histórica de Loulé. Lá dentro, há desde taças a roupa, colares, brincos e malas para apreciar.
A ideia para a loja do Colectivo 28 surgiu de Sílvia Rodrigues, participante no INTREPIDA desde o início, após ter sido convidada a mostrar a sua joalharia em papel na feira de moda Flamenca, em Sevilha.
“A ida a Espanha foi uma experiência enriquecedora. Pude criar uma nova coleção para uma indústria de moda, que eu não tinha a noção de que era tão grande, e o retorno dos espanhóis foi muito bom. Permitiu-me alcançar outro público que de outra forma não era possível”, conta,
Já tinha experimentado parcerias e a partilha do espaço de trabalho, na iniciativa Loulé Criativo, que juntava diferentes artistas locais, e achou que ideia poderia ser reproduzida, mas num contexto apenas de comercialização.
O convite foi feito a mais três artistas — duas mulheres e um homem — e hoje dividem o tempo entre a criação, cada um no seu ateliê, e a loja, numa rotatividade mensal, devidamente organizada e negociada entre todos.
O “belo exemplo” do sucesso de Sílvia além-fronteiras surpreendeu até a responsável pela parceria do Intrépida no Algarve. Para Joana Martins, do Regiotic – Ninho de Empresas de Loulé, as mais-valias do projetos têm sido “os bons exemplos e a interajuda” dentro da lógica do lema “juntas somos mais”.
Orgulhosa dos resultados, destaca a importância do projeto em particular no apoio dado às empresárias na fase inicial, já que “ainda têm medo de arriscar” e neste contexto acabam por se sentir “mais apoiadas”.
Esta rede, sublinha, permite-lhes contactar com outras empresárias que passaram pelo mesmo, com a possibilidade de trocar ideias e, juntas, poderem encontrar a solução.
Entre as empresas beneficiadas, há uma grande diversidade nas áreas de trabalho: arquitetura, gestão de condomínios, seguros, organização de eventos, artesanato, serviço social, estética, alojamentos turísticos, imobiliário, restauração, consultas de psicologia, ensino de línguas ou agências de viagens são alguns exemplos.
O INTREPIDA deveria terminar no final do ano, mas já foi aprovada uma prorrogação, para que seja possível terminar as atividades previstas.
A continuidade está garantida com o INTREPIDA+, financiando em 800 mil euros por fundos europeus, permitindo continuar o trabalho já realizado, mas dando um maior enfoque na internacionalização das empresas geridas por mulheres.