Crédito ao consumo derrapa. Automóveis acendem a luz do travão
Pela primeira vez desde, pelo menos, 2013, há uma quebra na concessão de crédito ao consumo. No acumulado deste ano, estes financiamentos encolheram 2,66% face ao mesmo período do ano passado.
O crédito ao consumo está em queda. Pela primeira vez desde, pelo menos, 2013, o montante concedido pelos bancos e financeiras desde o início do ano regista uma diminuição face ao registado no período homólogo, resultado que vai de encontro ao travão desejado pelo Banco de Portugal. A derrapagem neste tipo de financiamento é explicada com o financiamento para a compra de automóveis, cujas vendas estão a fazer marcha-atrás.
De acordo com dados divulgados pelo Banco de Portugal, os bancos e as financeiras disponibilizaram perto de 2.325 milhões de euros em empréstimos ao consumo, seja financiamentos pessoais, cartões de crédito ou empréstimos automóvel. Esse valor representa uma redução de 2,66% face ao mesmo período do ano passado, resultante de um corte de 63,6 milhões de euros nos novos empréstimos às famílias.
Esta quebra, a primeira diminuição homóloga desde, pelo menos, 2013 — período mais antigo para o qual os dados do Banco de Portugal permitem fazer a comparação –, mostra uma inversão de tendência, depois de recordes consecutivos que fizeram disparar alertas tanto do regulador como do Governo. Carlos Costa avançou até com uma recomendação à banca para adotar uma postura mais conservadora na concessão de crédito.
Evolução do crédito automóvel desde 2013
PeríodoMilhares de eurosCrédito ao consumoCrédito automóveljan-abr 2013jan-abr2014jan-abr 2015jan-abr2016jan-abr2017jan-abr2018jan-abr20190500 0001 000 0001 500 0002 000 0002 500 0003 000 000jan-abr 2015● Crédito ao consumo: 1 541 186
Fonte: Banco de Portugal
Mas não foram os alertas, nem a medida macroprudencial do Banco de Portugal, que fez travar o crédito ao consumo. Foram os automóveis. Os empréstimos para a compra de carro recuaram 6,32% nos primeiros quatro meses do ano, quando comparados com o mesmo período do ano passado. No total, foram concedidos 910,7 milhões de euros em empréstimos para a aquisição de carro até ao final de abril. Ou seja, menos 61,5 milhões do que no período homólogo.
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E a maior fatia dessa redução resultou da quebra do financiamento da aquisição de carros novos. Entre janeiro e abril, o crédito com reserva de propriedade e em locação financeira ou ALD para a compra de automóvel ascendeu a 281,9 milhões de euros, uma redução de 45,8 milhões (-14%), face aos primeiros quatro meses de 2018.
Também nos carros usados, os números da entidade liderada por Carlos Costa apontam para uma redução da concessão, mas mais curta. Os 628,8 milhões de eurosdisponibilizados entre janeiro e abril, ficam 15,7 milhões de euros (-2,4%) aquém do montante verificado no mesmo período de 2018.
Essas quebras coincidem com um período marcado pela redução das vendas de carros e do número de novos contratos de financiamento para a compra de carro. Segundo a ACAP, nos primeiros quatro meses do ano foram emitidas 80,6 mil matrículas de automóveis ligeiros de passageiros, 4,8% aquém das 84,6 mil verificadas no mesmo período de 2018. Já o número de contratos de crédito automóvel encolheu 5,3%, para um total de cerca de 65 mil nos primeiros quatro meses do ano.