Vai ser mais difícil criar emprego em 2019
Quase 70% dos empresários ouvidos pelo INE dizem-se interessados em reforçar o número de postos de trabalho, mas agora pensam fazê-lo a um ritmo mais modesto.
A maioria dos empresários e gestores de topo ouvidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em dezembro mostraram-se bem menos otimistas quanto à criação de emprego no arranque de 2019. A situação mais débil acontece na indústria, onde o indicador oficial mostra que a tendência de queda dura já há oito meses consecutivos.
Mas os outros setores da economia também denotam problemas. O sentimento mais positivo que existia na construção e obras públicas, em outubro, desvaneceu: o indicador está a cair desde essa altura. Os gestores do comércio também se mostraram mais animados em novembro, mês da Web Summit e vésperas de Natal, mas quando o INE os questionou em dezembro, esse otimismo era mais moderado.
Só os serviços, onde caem atividades como o turismo, está a ganhar força: desde julho, cada mês que passa sinaliza uma maior confiança nas perspetivas de criação de emprego.
Em dezembro, o INE perguntou a 4639 empresários e decisores empresariais se estavam inclinados a contratar mais pessoas para as suas organizações neste arranque de 2019. Quase 70% das pessoas ouvidas (cerca de 3200 gestores da indústria, comércio e da construção) indicaram que, embora ainda estejam interessadas em reforçar o número de postos de trabalho, pensam fazê-lo a um ritmo mais modesto face ao que acontecia em meados de 2018, por exemplo.
Nos últimos meses houve de facto uma redução geral nas expectativas, sobretudo por causa do ambiente internacional mais incerto e arriscado.
Por exemplo, a última avaliação à economia feita pelo Banco de Portugal (também em dezembro) notou que “os valores para o horizonte 2018-19 implicam um crescimento ligeiramente inferior do PIB face às estimativas divulgadas nos boletins económicos de junho e outubro, essencialmente devido a uma revisão em baixa do crescimento das exportações, que reflete a revisão das hipóteses relativas à evolução da procura”.
“O enquadramento externo está na origem dos principais fatores de risco e incerteza que rodeiam a atual projeção”, acrescentou o banco central.
Como já escreveu o DN/Dinheiro Vivo, o governo tem um Orçamento do Estado (OE 2019) feito para uma economia que cresce 2,2% neste ano, mas a maioria das instituições prevê agora um abrandamento para 1,8% em 2019.
Onde estão alguns dos impasses
Vários fatores podem ajudar a explicar esta perda de gás na confiança empresarial no campo da criação de emprego.
A execução do investimento público continuava muito abaixo das metas previstas para 2018 como um todo. O aeroporto do Montijo, que era suposto ter arrancado durante 2018, só deve arrancar este ano, se não houver mais contratempos. A Autoeuropa deverá ter produzido (e exportado) menos carros do que previa na sua meta anual por causa da contestação laboral dos estivadores e da falta de motores.
O turismo, que tem sido o grande motor das exportações, “vive um ambiente de fim de ciclo”, disse recentemente Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agências de Viagem e Turismo.
Cálculos do DN/Dinheiro Vivo com base em dados apurados pelo INE mostram que a faturação do setor hoteleiro e de outros alojamentos turísticos foi de 1,4 mil milhões de euros no terceiro trimestre deste ano (de julho a agosto, os meses que marcam a época de verão), um crescimento de 3,4% em relação ao verão de 2017.
É o crescimento nominal mais fraco dos últimos anos (desde 2014, pelo menos), sendo significativamente mais baixo do que os precedentes. Nos últimos cinco anos, a expansão do turismo estava a ser feita a ritmos de dois dígitos.