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Tancos. Investigador da PJM garante que ministro sabia da encenação

O investigador da PJ Militar garantiu em tribunal que o ministro da Defesa e o seu chefe de gabinete souberam do encobrimento do roubo um mês depois da recuperação das armas. Azeredo Lopes nega.

O investigador da Polícia Judiciária (PJ) Militar, major Vasco Brazão, garantiu ao juiz de instrução do caso do assalto a Tancos ter dado conhecimento ao gabinete do ministro Azeredo Lopes da encenação montada na Chamusca mais de um mês após a recuperação do arsenal, avança o Expresso. O jornal já confrontou o ministro da Defesa com as informações que as contestou, negando ter tido qualquer conhecimento.

As declarações foram feitas durante o interrogatório de oito horas, esta terça-feira, dia 2, no Campus de Justiça. Na ocasião, o investigador assegurou ao juiz que tanto ele como o diretor da PJ Militar, o coronel Luís Vieira, terão dado conhecimento ao ministro da Defesa da encenação montada na Chamusca em conjunto com a GNR de Loulé em torno da recuperação das armas furtadas nos paióis de Tancos. Essa comunicação terá sido feita por escrito, no final do ano passado e já depois das armas desaparecidas terem sido recuperadas, num memorando que descrevia todo o esquema montado, avança o Expresso. O jornal conta que esse memorando foi entregue ao chefe de gabinete de Azeredo Lopes que terá contactado telefonicamente o ministro, momento que terá ainda sido testemunhado por dois militares da PJM.

Declarações que o ministro não comenta ao abrigo do segredo da Justiça, tendo apenas respondido à pergunta sobre se teve conhecimento da encenação feita à volta do roubo do arsenal de Tancos: um categórico “não”, tanto antes da operação em outubro como depois dela, no final de 2017.

Recorde-se que, em outubro do ano passado um grupo de cinco militares da PJM e três da GNR de Loulé combinaram com um dos presumíveis autores do furto a entrega das armas, comprometendo-se em contrapartida a não informar a PJ e o Ministério Público daquela operação. Para isso, montaram uma operação de encobrimento, transportando as armas do terreno onde estavam escondidas, na propriedade de familiares do suspeito, para um baldio na Chamusca. A recuperação do arsenal foi divulgada em comunicado a 18 de outubro.

Ministro reconhece “embaraço” pelo envolvimento de militares em Tancos

Azeredo Lopes reconheceu esta quinta-feira que preferiria “mil vezes” que se pudesse olhar para Tancos como “uma questão bem resolvida”, e assumiu o embaraço causado pelo envolvimento de militares numa investigação criminal.

Se me pergunta se é agradável todo o conjunto de situações que tem vindo a lume, não, não é. Estaria a mentir. Preferia mil vezes que tudo isto não tivesse ocorrido, preferia mil vezes que a investigação já pudesse estar concluída, preferia mil vezes que pudéssemos olhar para Tancos como uma questão bem resolvida”, declarou aos jornalistas em Bruxelas.

Questionado sobre se a detenção do o major Vasco Brazão, que estava na República Centro-Africana em serviço com o contingente português da força das Nações Unidas, foi motivo de embaraço durante o encontro dos ministros da Defesa da NATO, o governante argumentou que esta causou apenas “o embaraço e o lado desagradável de qualquer militar que esteja envolvido numa investigação criminal”.

É o único embaraço que essa situação causa. Agora, repito, respeito muito duas coisas: primeiro, aquilo que está sob segredo de Justiça, segundo a presunção de inocência. O aspeto que é menos bom é qualquer militar ver-se envolvido em qualquer investigação criminal”, completou.

Na segunda-feira chegou a Portugal e foi detido o major Vasco Brazão, que também foi porta-voz da Polícia Judiciária Militar. Segundo o Ministério Público, em causa estão “factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas”.

A Polícia Judiciária deteve, em 25 de setembro, no âmbito da Operação Húbris, que investiga o caso da recuperação das armas furtadas em Tancos, o diretor e outros três responsáveis da Polícia Judiciária Militar, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé. Na sexta-feira, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decretou prisão preventiva para o diretor da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, e para o civil. O furto de material militar dos paióis de Tancos – instalação entretanto desativada – foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.

Origem
Observador
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