Sócrates diz que vai “repor a verdade”, mas admite que o caminho é “árduo”
O ex-primeiro ministro José Sócrates disse hoje à entrada do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) que vai "repor a verdade", mas reconheceu que "o caminho é árduo".
“Venho repor a verdade. Bem sei que é um longo caminho, mas é aquilo que tenho feito ao longo de cinco anos”, afirmou Sócrates à entrada do TCIC, em Lisboa, às 13:30, onde vai ser interrogado na fase de instrução da Operação Marques.
Para o ex-governante, o seu caminho tem sido “mais árduo do que aqueles que têm feito alegações completamente infundadas, injustas e até absurdas”.
À entrada do tribunal, o procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) Rosário Teixeira disse “não esperar nada de novo com a inquirição de Jose Sócrates”, considerando natural que o arguido utilize “este ato de defesa”.
“É natural que queira prestar depoimento” nesta fase do processo, observou.
Acerca do facto de o interrogatório de José Sócrates ser conduzido pelo juiz Ivo Rosa, cujas decisões durante a instrução já mereceram vários recursos do Ministério Público, Rosário Teixeira disse que o magistrado “tem de se cingir ao que está na acusação e nos requerimentos de abertura de instrução”.
José Sócrates, que está acusado de 31 crimes económico-financeiros, pediu a abertura de instrução no processo Operação Marques para evitar que o caso chegue a julgamento.
O juiz Ivo Rosa reservou quatro dias desta semana para a inquirição do ex-primeiro ministro.
José Sócrates começa a ser interrogado cerca de cinco anos após ter sido detido por suspeitas de branqueamento de capitais, corrupção, fraude fiscal e falsificação de documentos.
No Requerimento de Abertura de Instrução (RAI), o ex-primeiro-ministro reitera que “não cometeu qualquer crime, nem praticou os factos narrados na acusação, muitos dos quais nunca sequer ocorreram” e considera que isso está “exuberantemente demonstrado nos autos”.
O ex-primeiro-ministro socialista será o penúltimo arguido a ser interrogado nesta fase, estando previsto que o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva preste declarações a 27 de novembro.
A fase de instrução, que é facultativa e funciona como um mecanismo de controlo jurisdicional da acusação do Ministério Público, conclui-se com a decisão do juiz de levar ou não a julgamento os arguidos e os termos em que isso acontece.
O juiz Ivo Rosa começou a instrução no final de janeiro e pretende concluí-la um ano depois, já que o debate instrutório está marcado para os dias 27, 28, 29 30 e 31 de janeiro.
José Sócrates, que esteve preso preventivamente durante dez meses e depois 42 dias em prisão domiciliária, está acusado de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada.
Entre outros pontos, a acusação sustenta que Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santos e para garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento Vale do Lobo, no Algarve, e ter acordado com o seu amigo Carlos Santos Silva negócios para favorecer empresas do grupo Lena através de obras do projeto Parque Escolar.
No final de 2006, segundo a acusação, Carlos Santos Silva e Joaquim Barroca, administrador do Grupo Lena, aceitaram integrar o esquema financeiro para ocultar a origem e a propriedade dos fundos de Sócrates, tendo concordado em abrir contas para a passagem de fundos, junto do banco suíço UBS.
A Operação Marquês teve início a 19 de julho de 2013 e culminou na acusação a 28 arguidos – 19 pessoas e nove empresas – a 11 de outubro de 2017 pela prática de 188 de crimes económico-financeiros.
(Notícia atualizada às 14h39)