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Português recebeu dispositivo inovador para tratar insuficiência cardíaca

António Cruz, 46 anos, foi o primeiro doente português a receber um dispositivo médico para o tratamento da insuficiência cardíaca, que, como contou, lhe devolveu a vida e o faz sentir capaz de correr uma maratona.

O dispositivo foi aplicado há pouco mais de um mês no Hospital de Santa Cruz (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental), numa intervenção pioneira na Península Ibérica, e o doente registou “uma evolução muito favorável em linha com os resultados recentemente publicados”, segundo o médico responsável pela intervenção, Pedro Adragão.

A terapia de Modulação de Contratilidade Cardíaca, que atua por estimulação do músculo cardíaco durante o período refratário, “é uma esperança para doentes que, apesar da medicação otimizada, se mantêm com insuficiência cardíaca sintomática”, disse o coordenador da Unidade de Arritmologia de Intervenção do Hospital Santa Cruz.

Os problemas de António Cruz começaram em abril quando teve um “princípio de enfarte”. Foi operado de urgência, mas os problemas de insuficiência cardíaca continuaram. Em declarações aos jornalistas no hospital, onde foi a uma consulta de rotina, contou que antes do problema cardíaco fumava 30 cigarros por dia e tinha diabetes e colesterol elevado, problemas a que nunca ligou.

Quando lhe foi proposta a colocação do dispositivo, parecido com um ‘pacemaker’, disse que teve receio. “Disseram-me que era um aparelho novo, que em Portugal não havia, e fiquei com um bocado de medo, não estava à espera”, recordou.

“Mas convenceram-me, tenho este aparelho há um mês e meio e estou feliz, uma pessoa nova. Deixei de fumar, já controlo tudo o que consigo controlar, já consigo caminhar, consigo sentir os meus dedos, o que antigamente não conseguia, porque o oxigénio não chegava a todo o lado”, disse, com entusiasmo.

Para António Cruz, o dispositivo foi “quase uma salvação”, porque lhe deu “uma vida nova”. Mas o melhor, como salientou, foi sentir “o coração de novo a bater, uma coisa formidável”.

“Neste momento, estou a sentir o coração quase a sair fora, porque são impulsos elétricos, e é fantástico. É o coração a reviver”, comentou, com um grande sorriso, desejando que esta técnica chegue a todos os doentes com insuficiência cardíaca.

Citando estudos recentes, Pedro Adragão disse que a utilização desta técnica diminui a mortalidade, o número de hospitalizações e os sintomas. “O doente pode viver melhor, fazer a sua vida normal sem recorrer tanto ao hospital”, frisou

“No caso deste doente, o risco era ter sintomas de insuficiência cardíaca, mesmo fazendo uma terapêutica médica otimizada”, razão pela qual lhe foi proposto fazer esta técnica, já estudada, disse, salientando que na Alemanha mais de três doentes já têm implantado este sistema com bons resultados.

Sobre os encargos da aplicação desta técnica para o Serviço Nacional de Saúde, Pedro Adragão afirmou que se forem avaliados os custos por dia de tratamento não é mais caro do que a medicação.

“Se pagarmos tudo no primeiro dia é obviamente mais caro, mas está adaptado, e os custos tendem a diminuir consoante a sua utilização vai sendo aumentada. Portanto, a expectativa é que venha a ficar dentro dos preços habituais destes sistemas para insuficiência cardíaca”, salientou.

Relativamente ao número de doentes que podem beneficiar desta terapia, o especialista disse que, inicialmente, serão na ordem das dezenas ou centenas. “Se os resultados forem os que esperamos poderá ser mais ampliada”, frisou.

Estima-se que a insuficiência cardíaca afete cerca de 2% da população adulta nos países desenvolvidos e mais de 10% das pessoas acima dos 70 anos de idade. Esta doença caracteriza-se pela incapacidade do músculo do coração em bombear sangue suficiente para todo o corpo e apresenta sintomas como a falta de ar, a fadiga e retenção de líquidos.

Sintomas que António Cruz deixou para trás. “Com o coração a bater desta forma sinto-me capaz de correr uma maratona”.

Origem
JN
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