MÉDICO AFASTADO DO INEM POR RECUSAR TRANSPORTAR DOENTE. DENÚNCIA ANÓNIMA DIZ QUE ESTAVA NUMA TOURADA
INEM afastou médico depois de vários casos em que recusou transportar doentes de helicóptero. No processo enviado à IGAS também há suspeitas de que trabalhava em mais do que um sítio ao mesmo tempo.
Apesar de estar escalado para o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), o clínico terá simulado uma doença – uma gastroenterite – para não transportar um doente enquanto estava de serviço, a título privado, numa corrida de touros.
António Peças, um médico cirurgião do Hospital de Évora, que é também campeão de horas no helicóptero de Évora, acabou por ser afastado pelo INEM após um ano de inquérito disciplinar, avança o jornal Observador. No entanto, só dia 1 de fevereiro deixará de prestar serviço, porque é nessa altura que termina o contrato.
O que aconteceu exatamente?
No dia 29 de outubro de 2017, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) recebeu um pedido do Hospital de Évora: no serviço de urgência estava um homem de 74 anos, com um traumatismo craniano e hemorragia cerebral, que precisava de transporte aéreo para Lisboa. À espera dele estava uma equipa de neurocirurgia do Hospital de S. José.
O médico de serviço ao helicóptero alegou que estava com uma gastroenterite e pediu para não fazer o serviço, comprometendo-se a ligar uma hora depois para dar notícias sobre o seu estado de saúde. O problema é que, à mesma hora, estaria numa tourada na arena de Évora e acabou por ser notícia – em blogues temáticos – por ter socorrido o diretor da corrida.
Por outro lado, estando doente, o médico teria de informar o INEM de que não poderia trabalhar para ser eventualmente substituído, informa a SIC Notícias.
O doente acabou por ser transferido para Lisboa por terra, numa ambulância do INEM, e o médico – que disse que iria ao hospital para ser medicado por causa de uma gastroenterite – não foi atendido em nenhuma unidade naquela noite.
Ao Observador, o médico disse que de facto esteve na tourada, mas de passagem e que socorreu o diretor da corrida por acaso.
A denúncia partiu de uma carta anónima assinada apenas por “um grupo de médicos do Hospital de Évora preocupados” e enviada ao INEM, ao Ministério da Saúde, ao Hospital de Évora e à Ordem dos Médicos.
No documento são relatados vários casos nos quais o médico terá estado de serviço no Hospital de Évora e simultaneamente de serviço ao helicóptero do INEM, recebendo as duas remunerações. Segundo a denúncia, o médico recusa-se a “picar o ponto” no sistema biométrico do hospital, “alegando que tal é ilegal”, deixando o registo apenas em folhas escritas à mão. Tal permite-lhe estar, teoricamente, em dois sítios à mesma hora e ser pago por isso.