Livre quer que património das ex-colónias em museus possa ser restituído
Joacine Katar Moreira assina proposta do Livre para que o património oriundo das ex-colónias seja devolvido.
O partido Livre quer que todo o património das ex-colónias, presente em território português, possa ser restituído aos países de origem de forma a “descolonizar” museus e monumentos estatais.
O partido da papoila quer que o património das ex-colónias portuguesas, que esteja atualmente na posse de museus e arquivos nacionais, possa ser identificado, reclamado e restituído às comunidades de origem, segundo uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2020.
A elaboração da lista do património a ser restituído estaria a cargo de um “grupo de trabalho composto por museólogos, curadores e investigadores científicos”.
A medida, assinada pela parlamentar única do Livre, Joacine Katar Moreira, está inserida numa proposta que pretende implementar um programa de “descolonização da cultura” e uma “estratégia nacional para a descolonização do conhecimento”, valores presentes no programa do partido para as legislativas de 2019.
Joacine Katar Moreira sugere também que a criação de uma “comissão multidisciplinar composta por museólogos, curadores, investigadores científicos (história, história da arte, estudos pós-coloniais e descoloniais) e ativistas antirracistas”, escreve.
Esta comissão teria como objetivo “forjar diretivas didáticas para a recontextualização das coleções dos museus e monumentos nacionais” de forma a “estimular uma visão crítica sobre o passado esclavagista colonial, reenquadrando-o e recontextualizando-o à luz das mais recentes investigações académicas”, pode ler-se na proposta.
Para o partido da papoila, tendo em conta o passado colonial português, esta é uma oportunidade para o país de “fazer parte destes debates ao nível institucional” e “escolher ser parte de um movimento que congrega a procura de justiça histórica, ao mesmo tempo que responde às necessidades e desafios do tempo presente”.
Em novembro de 2018, em França, o parecer de uma historiadora, encomendado por Emmanuel Macron, determinou que um conjunto de peças fosse devolvido à origem – uma coleção bronzes em exposição deveria ser restituído ao Benim. Um mês depois, Angola confirmou a intenção de ver restituídos bens culturais oriundos deste país africano. “É imperioso que a diplomacia angolana em colaboração com o ministério da Cultura e outros departamentos ministeriais, possa dar início a consultas multilaterais com vista a regularizar a questão da propriedade e da posse, por um lado, e, por outro lado, da exploração dos bens culturais angolanos no estrangeiro”, disse a então ministra da cultura de Angola, Carolina Cerqueira.
Vários museus portugueses albergam peças que vieram de antigas colónias, como o Museu Nacional de Etnologia ou a Universidade de Lisboa, que incorporou os acervos do Instituto de Investigação Científica e Tropical (antiga Junta de Investigações do Ultramar, de 1963 e 1985, e Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais, de 1936).
O Livre apresentou ao executivo 32 propostas de alteração para o OE2020 e anunciou ontem que 11 dessas propostas têm “sinalização positiva” por parte do executivo.
A proposta do OE2020 foi aprovada em 10 de janeiro na generalidade (votos a favor dos deputados do PS, abstenções de BE, PCP, Verdes, PAN, Livre e três deputados do PSD da Madeira e contra de PSD, CDS-PP, Chega e Iniciativa Liberal) e a votação final global do documento acontecerá em 06 de fevereiro.