Este mês vai ter seis dias de greve na área da saúde, os primeiros já hoje e amanhã. Cada dia põe em causa três mil operações
As greves deste mês na Saúde ameaçam deixar 18 mil cirurgias por fazer. As contas resultam de estimativas adiantadas ao DN pelo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), que apontam para cerca de três mil operações programadas que têm de ser adiadas por cada dia de paralisação no setor. Muitas delas não serão sequer compensadas ainda este ano. Entre médicos e restantes profissionais de saúde, maio vai registar um pouco habitual número de seis dias de greve nesta área, os primeiros dos quais já hoje e amanhã.
“E no primeiro trimestre já tivemos outros dois dias de greve”, lembra o dirigente da APAH, que acrescenta que com paralisações sucessivas será mais difícil de compensar a atividade perdida. “Até porque estamos num período de maiores dificuldades nos hospitais, com muitos feriados a meio da semana, com pontes, a que se juntam restrições na contratação de profissionais. Não sendo realizada agora, alguma desta atividade programada não será recuperada este ano”, explica Alexandre Lourenço.
Os trabalhadores que estão sob tutela do Ministério da Saúde, à exceção de médicos e enfermeiros, são os primeiros a parar. Um protesto do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (UGT) que serve de antecâmara à greve de três dias da próxima semana marcada pelos sindicatos dos médicos e que se vai repetir no dia 25, dessa vez pela mão da CGTP. Mas as consequências nos hospitais e centros de saúde são diferentes, caso falemos de greves de médicos ou de outros profissionais? “O impacto na atividade programada é semelhante”, responde Alexandre Lourenço. “Os serviços de saúde exigem a participação de vários profissionais em trabalho de equipa, portanto se um assistente técnico não estiver ao serviço a atividade programada pode ficar em causa, da mesma que forma que se um administrativo fizer greve isso pode afetar a realização de consultas”.
Adiamentos que vão fazer aumentar as listas de espera para primeiras consultas e cirurgias, lembra o porta voz do Movimento de Utentes dos Serviços de Saúde, que ainda assim não deixa de apoiar a realização das greves. “Os utentes sentem alguns prejuízos, mas também reconhecem que para terem bons cuidados de saúde, os profissionais têm de ter melhores condições físicas e nas suas carreiras”, argumenta Manuel Villas-Boas.
“O culpado é o governo”
Para Jorge Roque da Cunha, secretário geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que juntamente com a Federação Nacional dos Médicos agendou o protestos dos dias 8,9 e 10, os transtornos causados aos utentes têm um responsável: o governo. “Fizemos uma greve em maio de 2017, outra em outubro e anunciámos esta há três meses, e temos feito sempre apelos e tentado reunir com o ministro da Saúde para evitar esta situação”, sublinha Roque da Cunha, que acusa o ministério de “falácias” quando diz que as propostas do SIM colidem com imposições das Finanças: “Por exemplo, quando propomos a redução do número de horas nas urgências, aumentariam as cirurgias programadas, o que teria impacto posterior nas próprias idas às urgências”.
Com esta verdadeira vaga de protestos na saúde – que pode engrossar já hoje, após nova ronda de negociações entre o governo e os técnicos de diagnóstico, que já falam numa “greve à vista” -, 2018 corre o risco de ver o número de dias perdidos por greve aumentar. Isto quando, em 2017, já tinham disparado em relação ao ano anterior: como o DN noticiou recentemente, em 2017, as paralisações no setor levaram à perda de 116 mil dias de trabalho, quando no ano anterior tinham sido 68 mil.