CP só gastou um décimo do que tem para investimentos
A CP tem 44 milhões de euros para investir este ano, mas ainda só gastou 4,7 milhões de euros, ou seja, no primeiro semestre, executou apenas 10,6% da verba prevista no Orçamento do Estado, segundo a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO). Além desta rubrica, também a evolução da despesa total parece estar condicionada.
Estes números surgem numa altura em que se acumulam crescentes dificuldades no funcionamento normal da empresa. Por exemplo, supressão de comboios nas linhas de Cascais, Sintra, Oeste e Algarve por motivos de “manutenção”; passageiros que compram o serviço intercidades, mas viajam em regional.
A análise da UTAO à execução orçamental até junho indica que, apesar da tendência de subida do número de passageiros nos últimos anos, a CP está a gastar cada vez menos e em várias frentes.
A empresa tem uma meta de 44 milhões de euros de investimentos para este ano, o que, a ser cumprido, representará uma subida de 132% face a 2017. Mas no primeiro semestre, o investimento caiu mais de 10%. E em 2017, mostra a UTAO, aconteceu algo parecido. A empresa teria 19 milhões de euros para investir, mas só aplicou 27% da verba.
Contenção de despesa
A contenção também domina a evolução da despesa total da CP: o grau de execução foi de apenas 38% na primeira metade deste ano. A UTAO diz que do orçamento autorizado gastou-se apenas 167 milhões de euros entre janeiro e junho.
Esta taxa de execução é inferior à do programa orçamental do Planeamento e Infraestruturas (44,1%), onde a CP está inserida, ou mesmo à execução da Infraestruturas de Portugal (46,8%).
O JN/Dinheiro Vivo perguntou aos ministérios do Planeamento e das Finanças a razão de ser destes números. Ninguém respondeu até ao fecho da edição.
É com este ambiente de contenção e de cortes que a administração de Carlos Gomes Nogueira tem lidado desde que tomou posse, em julho de 2017. O jornal Público noticiou entretanto que a atual administração da CP estará de saída, mas o Planeamento diz que está tudo a funcionar “normalmente”.
Uma realidade antiga
A partir dos relatórios e contas anuais, o JN/Dinheiro Vivo fez um levantamento dos custos operacionais da transportadora desde 2009 e percebe-se o declínio.
Em 2010 (último ano completo do Governo PS, de José Sócrates), já na descida para a bancarrota nacional, a CP cortou 7,6% na despesa; em 2011, já com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas ao comando, reduziu 5,9%. No ano seguinte, a redução foi de 5,4%. Depois de dois anos de expansão, 2015 é marcado por um novo corte pronunciado de quase 7%. Estávamos no último ano do Governo PSD-CDS.
O atual Executivo inscreveu 551,6 milhões de euros para a CP no orçamento de 2016, mas no fim só se gastou 472 milhões, poupando 80 milhões de euros. Em 2017, o aperto foi ainda maior. Em dois anos, o atual Governo poupou 173 milhões de euros na CP. Em 2018, perfila-se novo corte. A CP está autorizada a gastar 469 milhões de euros, menos 7,3% do que o orçamentado para 2017.