Um casal foi condenado, esta terça-feira, pelo tribunal de Guimarães a quatro anos e seis meses de prisão, por ter montado um esquema de angariação de donativos em nome de associações fictícias, com histórias de crianças doentes a necessitar de tratamento no estrangeiro.
Helder e Cátia Fonseca terão ainda de pagar 262,075 mil euros ao Estado. Um outro arguido, de nome Abílio, foi condenado a três anos de prisão, com pena suspensa, e terá de pagar 6050 euros. Este arguido, um antigo cobrador dos serviços de distribuição de água, seria o responsável por recolher os donativos.
No total, o casal obteve cerca de dez mil doações, entre 2010 e 2017, e o tribunal deu como provado que conseguiu apropriar-se de cerca de 316 mil euros ao longo do sete anos em que colocaram em prática o esquema.
Em tribunal, o casal acabou por confessar o esquema, apesar de ter ficado surpreendido com o valor referido pela acusação. “Fiquei perplexo com os números”, adiantou Hélder em maio. Segundo o casal, o rendimento médio mensal que conseguia com a atividade rondava os 2500, 3000 euros, sendo que desse valor tinha de pagar aos funcionários e restantes despesas. “Era disto que nós vivíamos”, admitiu.
Segundo a arguida, quando criaram a “Associação Glórias Sem Barreiras” o objetivo era fazer “trabalho social”, mas “tudo correu mal”. Durante pouco mais de um ano ainda mantiveram uma loja social que distribuía cabazes. Os peditórios eram falsos e as associações, seis no total, eram “de fachada”. Cátia contou que os nomes das mesmas (“Anjos da Paz” ou “Laço de Crianças”, entre outros) foram pensados “com as funcionárias”. Contratava operadoras para telefonar, sobretudo idosos, de todo o país a solicitar donativos que Abílio e Hélder recolhiam.
“Numa primeira abordagem havia sempre uma história, mas depois as pessoas já estavam convictas de que era para uma causa social”, adiantou a arguida, referindo ter trabalhado em associações no Grande Porto, algumas de fachada. Os contactos foram retirados da lista telefónica e as histórias eram copiadas de casos que viam na televisão ou nos jornais. O esquema durou sete anos, até ser desmantelado pela PSP de Famalicão em maio do ano passado.