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Algarve. Brexit afasta turistas e obriga Portugal a apostar em quem paga mais

O terrorismo mudou os fluxos turísticos e o pais ficou a ganhar. No entanto, os preços mais baixos e o decréscimo da violência voltaram a pôr a Turquia e o Egito nas preferências. Solução poderá ser apostar nos turistas dispostos a gastar mais e regressar sempre

O número de apaixonados pelos encantos portugueses começou a aumentar abruptamente e o turismo fez-se bandeira do país. Com os resultados a suportar grande parte das contas nacionais, multiplicaram-se apostas neste setor e as previsões continuaram otimistas, apesar de todos os problemas que começaram a ser levantados por quem considerava que devia haver crescimento, mas com conta, peso e medida. No entanto, nem todas as tendências chegam para ficar. Tanto os preços baixos como a diminuição da violência fizeram com que os turistas que colocaram Portugal na rota principal começassem a regressar à Tunísia, Egito e Turquia. A zona que mais tem estado a perder é o Algarve.

“Os turistas britânicos baixaram cerca de 10 por cento relativamente ao ano passado. Acresce que, em 2017, os ingleses já haviam baixado 8,5%. A situação só não é mais grave porque os pequenos mercados com fraca expressão individual nas dormidas totais têm aumentado, contribuindo assim para compensar a descida dos ingleses”, explica ao i Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

Mas, afinal, o que explica esta tendência? De acordo com o dirigente, “a descida do mercado britânico encontra explicação em dois fatores: a recuperação dos mercados concorrentes afetados no passado por situações de instabilidade graves, como a Turquia, Egito e Tunísia; e a desvalorização da libra face ao euro, no seguimento do Brexit, o que retirou poder de compra aos turistas oriundos do Reino Unido”.

Também fonte da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) confirma que, “relativamente ao Reino Unido, que é o nosso principal mercado em dormidas, hóspedes e receitas, há diversos fatores que têm sido apontados. O Brexit e a consequente quebra da libra face ao euro; rotas que não foram repostas após a falência de companhias aéreas como a Monarch, a Air Berlin ou a Niki, com mais impacto na Madeira e no Algarve; e o ressurgimento da concorrência de destinos como a Turquia, a Tunísia ou o Egito”.

Quando a palavra terrorismo chegou ao dia-a-dia da Europa como nunca tinha acontecido antes, a sensação de segurança acabou por ditar os destinos escolhidos na hora de viajar. O receio mudou os fluxos turísticos e trouxe mais oportunidades a países como Portugal, até porque não foi apenas a insegurança que forçou a mudança de hábitos. A praia, a comida e até as atividades culturais colocaram Portugal nas bocas do mundo.

Turquia, Egito e Tunísia começaram a perder terreno e turistas. Portugal agarrou-os. No entanto, esta capacidade de conquista parece não ter vindo para durar tanto como muitos previam.

De acordo com o dirigente da AHETA, estes destinos “são, de facto, concorrentes muito fortes, tanto mais que praticam preços muito baixos e com os quais não é possível competir. Contudo, todos os destinos situados na bacia do Mediterrâneo são nossos concorrentes diretos”.

 

Férias mais a sul O Algarve continua a ser uma das apostas mais fortes para atrair quem queira passar uns dias de férias em Portugal e a verdade é que a maioria dos turistas estrangeiros começaram, desde cedo, a mostrar intenção de regressar rapidamente depois de conhecerem a região.

A conclusão faz parte de um estudo recente sobre o perfil do turista que visita o Algarve, que mostra ainda que o sul do país é avaliado de forma positiva por 98% dos turistas que elegeram o destino nos últimos tempos. “A avaliação positiva do destino Algarve é transversal aos vários perfis de turista, sejam eles tradicionais ou residenciais, alojados em qualquer uma das diferentes zonas da região e viajando dentro ou fora da época alta. Esta satisfação, combinada com um custo considerado acessível, justifica a afinidade dos visitantes com a região”, explica o documento do Turismo de Portugal.

Em relação aos municípios mais procurados pode dizer-se que os turistas tradicionais procuram sobretudo Albufeira (42%), Loulé (12%) e Portimão (12%). Já os turistas residenciais mostram mais interesse por Faro (7%), Lagos (8%), Silves (7%) e Tavira (7%). Este último tem conquistado principalmente turistas reformados. De acordo com os dados revelados por esta análise, feita pela Universidade do Algarve, os turistas residenciais permanecem, em média, 12,6 dias na região e a grande maioria já conhecia o Algarve (87%). Para além da casa própria utilizam também o arrendamento privado (47%), que é reservado maioritariamente online (61%), no Booking.com (23%) ou no AirBnb (28%), o que sugere que cada vez mais o alojamento local ganha consistência e quota de mercado.

Há muitos mais aspetos que conquistam quem deseja visitar Portugal. Os dados mais recentes mostram que também a gastronomia e a cultura portuguesas estão na moda. Mas nem sempre a promoção que é feita conquista ou é suficiente. E é aqui que deve ser feita uma maior aposta, de forma a tentar contrariar a fuga de turistas para destinos alternativos. É esta a opinião de André Jordan, para sempre o dono da Quinta do Lago, que explica: “Temos tido sempre um grande défice de promoção. É inegável que a Inglaterra tem estado a passar por problemas e é preciso ter estratégias para que isso não afete a procura.”

Para André Jordan, uma das soluções é apostar “em eventos e atrações estáveis. Não podemos ter uma coisa este ano e para o ano não saber no que vamos apostar. Os turistas têm de saber o que podem esperar. Podíamos ter, por exemplo, um festival de cinema”. O empresário garante também que é preciso ter em atenção o tipo de turistas que Portugal recebe e o dinheiro que estão dispostos a gastar. “Temos de nos concentrar mais no turismo de qualidade. Não temos território e condições para fazer turismo barato de forma rentável. Precisamos de turistas, sim, mas a aposta tem de ser no turismo de qualidade e temos condições para isso. Temos de ter foco no turista que paga bem e que é estável, ou seja, que regressa.”

Origem
Jornal i
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