Um Papa em Lisboa em 2022: Francisco “confia na Igreja portuguesa “
As Jornadas Mundiais da Juventude de 2022 acontecerão em Portugal. Anúncio foi feito, como era esperado, no último dia das jornadas deste ano, no Panamá. Portugal será o segundo país lusófono a receber o maior evento organizado pela Igreja Católica.
Já toda a gente o esperava, mas uma confirmação é sempre uma confirmação, por isso, quando às 14h22 deste domingo foi anunciado que Portugal será o próximo destino das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), o maior evento organizado pela Igreja Católica, não foi de espantar que um grupo de jovens nacionais saltasse, esfusiante, para o altar em que o Papa Francisco celebrava a última missa no encontro deste ano, no Panamá. Um entusiasmo que também tomou conta dos políticos e membros da Igreja ali presentes. Gritou-se “Portugal, Portugal”, bandeiras surgiram, de um momento para o outro, nas costas de alguns padres presentes na cerimónia, houve muitos risos e quem não resistisse a uma selfie que incluísse o Papa. O trabalho para receber os jovens que hão-de chegar a Lisboa em 2022 começa agora e deve mudar a zona ribeirinha de Loures.
O padre Filipe Diniz, director do departamento nacional da Pastoral Juvenil, não estava no altar quando o cardeal Kevin Farrell, prefeito do Discatério para os Leigos, Família e Vida, que organiza as JMJ, anunciou o nome de Portugal como o próximo destino do evento. A voz dele perdeu-se entre a dos cerca de 300 jovens portugueses que se deslocaram ao Panamá, para participar nas jornadas que começaram no passado dia 22, já que era junto deles que se encontrava.
“É um momento de júbilo, de muita alegria, ouvir da boca do cardeal que as próximas jornadas são em Portugal. Estão no Panamá mais de 150 países representados. Pensar que vai ser assim connosco, que o nome de Portugal vai ser levado a tantos outros países e, com ele, o da nossa Igreja, é muito emocionante. E sentir que o Papa confia na Igreja portuguesa para preparar esta grande aventura também”, diz.
“Conheco a alegria dos portugueses em acolher”
Três perguntas ao padre Filipe Diniz, director do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil
Que importância têm as Jornadas Mundiais da Juventude?
É sempre um motivo de congregar e unirmos esforços. Primeiro de tudo, é muito importante o pulsar da juventude. Não é só que seja em Portugal, são todas as realidades que se unem. Proporciona um sentido de congregar e unir a juventude, de voltarmos para a nossa razão de viver, de olharmos para Jesus Cristo e entendermos que é ele que nos ajuda a cumprir o sentido da vida. Como disse o Papa Francisco, a juventude é o agora de Deus, esta é a hora, e este é sempre o grande desafio, perceber a hora da oportunidade de Deus no dia de hoje.
Acredita que a lusofonia teve um peso na escolha de Portugal?
Acho que sim. O facto de acontecer em Lisboa, de reunirmos ali tanta gente, é uma oportunidade para nós portugueses, para o país, de unirmos esforços para acolher muito bem os peregrinos vindos dos países de língua portuguesa, de África, do Brasil, de todo o lado. O nosso grande objectivo é termos essa capacidade de saber acolher e prepararmos muito bem esta jornada. É um trabalho que a vai começar agora. O que nós conhecemos é a alegria dos portugueses. A forma, a metodologia de como vai ser a jornada, não sei dizer. Mas conheço a alegria dos portugueses em acolher.
Quantos jovens virão a Portugal?
Não sei. A questão do número é sempre difícil de avançar, só à medida que as coisas se forem concretizando é que vamos tendo uma ideia.
Abertura a África
Naquele momento, bastaria ver os rostos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ou do cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, para perceber que o sentimento era partilhado por ambos. Num vídeo divulgado pela agência Ecclesia, o Presidente da República, de punhos cerrados, reagiu com um entusiasmado “conseguimos, conseguimos”, antes de repetir seis vezes a palavra “vitória”.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, a escolha do nosso país para anfitrião das próximas JMJ foi uma vitória de Portugal, “do povo católico português”, de D. Manuel Clemente “que tanto lutou por isto”, mas, sobretudo, “da língua portuguesa e da lusofonia”. “Na discussão no Vaticano [sobre a escolha do país], um ponto essencial era a abertura a África, continente onde nunca houve estas jornadas, e pensou-se: qual é o país que é a melhor plataforma giratória para todos os continentes e sobretudo para África?”, disse o Presidente, para quem este foi “um argumento decisivo” na escolha anunciada.
Também visivelmente satisfeito, D. Manuel Clemente congratulou-se pela “excelente notícia” que acabara de ouvir minutos antes. “É também uma feliz confirmação de algo que nós já esperávamos há muito tempo em Portugal, porque as nossas 20 dioceses há muito tempo que têm este sonho”, disse. O patriarca de Lisboa prometeu “coragem e determinação” no trabalho para preparar a recepção aos jovens de todo o mundo e África voltou a ter um lugar central em mais uma declaração, já que disse olhar “em especial” para esses “irmãos das igrejas africanas de expressão portuguesa”.
“Temos ali um canto do mundo onde a Europa se aproxima de África e onde a Europa e a África já olham pelo Atlântico para estas Américas. Toda a gente vai lá estar, com gosto, com empenho, e nós vamos fazer todo o possível para que corra de uma maneira fabulosa”, afirmou.
“Milhões e milhões de jovens”
Pelo lado da Câmara de Lisboa, as boas-vindas já estão dadas. Num vídeo colocado no Facebook, o presidente da autarquia, Fernando Medina, entusiasmou-se, dizendo que a cidade será “capital mundial de milhões e milhões de jovens” que ali se irão deslocar. Antes, o autarca também marcou presença junto ao altar em que o Papa Francisco celebrara a última missa das JMJ no Panamá e, quando este se aproximou para o cumprimentar e saudar um pequeno grupo de jovens portugueses que ali se encontrava, deixando-se fotografar com eles, Medina não resistiu a pegar no telemóvel e tirar uma selfie.
Na mensagem que deixou no Facebook, o autarca garantiu que o município irá “fazer tudo para Lisboa ser o palco das melhores e maiores jornadas de juventude que até agora foram realizadas”, na expectativa que elas possam ser um espaço de “humanidade, comunidade e tolerância.” Em declarações à agência Lusa, Fernando Medina garantiu ainda: “Faremos os investimentos necessários a esta organização, para que subsista, também, uma marca na cidade deste evento que perdure ao longo do tempo.”
Desde Dezembro que era esperado que Lisboa fosse a próxima cidade a receber as jornadas criadas por João Paulo II, em 1985. As edições internacionais deste evento anual realizam-se de três em três anos e a de 2022 será a segunda a realizar-se num país de língua portuguesa, depois de ter passado pelo Brasil, em 2013. Em 2016, a celebração religiosa e cultural que junta jovens de todo o mundo aconteceu em Cracóvia, na Polónia. Por cá, as JMJ deverão instalar-se na margem do Tejo, entre Lisboa e Loures. É neste município, dirigido pelo comunista Bernardino Soares, que se esperam os maiores investimentos.
Num vídeo promocional que a Câmara de Lisboa levou ao Panamá, Marcelo Rebelo de Sousa, D. Manuel Clemente e Fernando Medina aparecem a dar as boas-vindas aos jovens que irão participar nas jornadas de 2022, com o cardeal-patriarca a arriscar mesmo dizer que a cidade espera pelo Papa Francisco – o que, de momento, é ainda uma incógnita, pois não se sabe se daqui a três anos ainda será ele a dirigir a Igreja Católica. O último protagonista deste vídeo é o primeiro-ministro, António Costa, que, sorridente, afirma: “Gostamos de receber quem nos visita, gostamos de acolher quem quer viver entre nós.”
LER MAIS
- É oficial: Papa vem a Portugal em 2022 para a Jornada Mundial da Juventude
- Jornada Mundial da Juventude em Portugal: Marcelo celebra “vitória da língua portuguesa”
- A descoberta de uma Igreja universal
Costa não foi ao Panamá, mas o Governo fez-se representar pelo secretário de Estado da Juventude, João Paulo Rebelo, que não fugiu ao tom de entusiasmo que marcou as reacções dos restantes responsáveis portugueses presentes na Cidade do Panamá. “É absolutamente extraordinário que possamos ter em Portugal um milhão e meio de jovens numa tão importante jornada que a Igreja Católica leva a cabo e que no fundo convoca todos os jovens a participarem”, disse.