Trump. “Era das armas descarregáveis” gera novo debate nos EUA
Departamento de Estado autorizou divulgação de desenhos digitais para imprimir armas em 3D, mas as críticas levaram a administração a recuar
O debate sobre o controlo de armas deu novos passos nos Estados Unidos. Agora, o debate é sobre se a impressão de armas de plástico em 3D deverá ou não ser permitida e se isso viola ou não a Primeira Emenda da Constituição. Como em outras ocasiões, a administração Trump decidiu permitir a divulgação dos desenhos digitais que permitem fazer uma arma em 3D em casa, para recuar a seguir face ao multiplicar de críticas. Com o próprio presidente, Donald Trump, a juntar-se ao rol dos que acham que é melhor não o fazer.
O presidente dos EUA decidiu, na terça-feira, apoiar uma lei, com quase duas décadas de existência, que impede a impressão, distribuição, venda, compra e posse deste tipo de armas. “Já falei com a NRA [National Rifle Association], parece não fazer muito sentido!”, escreveu Trump na rede social Twitter.
Nos dias anteriores, aliados e críticos envolveram-se numa troca de argumentos sobre se esta administração iria apoiar ou rejeitar a lei, depois de o Departamento de Estado ter dado autorização para a divulgação dos projetos das armas na internet.
Senadores democratas declararam que Trump será o responsável por quaisquer mortes provocadas por estas armas, se não impedir que se divulguem os desenhos. “São as suas ações, é da sua responsabilidade e o sangue ficará nas suas mãos”, disse o senador Richard Blumenthal, do Connecticut.
Para que dúvidas não restassem sobre o posicionamento do presidente, o vice-porta-voz de Trump, Hogan Gidley, veio a público reafirmar o compromisso do chefe de Estado em garantir a segurança de todos os cidadãos, acrescentando que essa é uma das suas “principais responsabilidades”. “Nos EUA é ilegal ter ou fazer uma arma de plástico de qualquer tipo, incluindo as produzidas por impressoras 3D”, disse Gidley. “A administração apoia a lei com quase duas décadas”, complementou.
Na terça-feira, um juiz federal emitiu uma providência cautelar para impedir que o governo federal autorize a distribuição através da internet dos desenhos digitais para a impressão deste tipo de armas. O Departamento de Estado autorizara Cody Wilson, fundador da Defense Distribution, a divulgar na internet os desenhos digitais. O que iria iniciar, na perspetiva de Cody, “a era das armas descarregáveis”. Wilson tinha feito vários pedidos do género ainda durante a administração Obama, sempre negados por esta considerar que a divulgação contribuiria para o aumento da violência e o descontrolo das armas nas ruas norte-americanas. Obama usou a lei para o controlo das exportações de material de defesa, criada para impedir a exportação de tecnologia militar norte-americana para países considerados ameaças para a segurança dos EUA para bloquear os objetivos de Wilson.
“As armas impressas em 3D são armas funcionais comummente indetetáveis nos controlos de segurança por serem feitas por outros materiais que não o metal e indetetáveis por não terem números de série”, afirmou um dos responsáveis da administração Obama numa das disputas com Wilson. “Qualquer pessoa com acesso aos desenhos digitais e com uma impressora comercial 3D poderá facilmente fabricar, possuir ou vender estas armas”.
Se com a administração Trump Cody parecia ter o caminho livre para expandir o seu negócio, a realidade mudou rapidamente com a decisão do juiz federal. “Os downloads estão desativados até eu poder ver a ordem judicial”, garantiu o empresário ao canal televisivo CNN.