Presidente da coligação de luso-americanos na Califórnia elogia suspensão de lei que permitiria expulsar jovens portugueses clandestinos dos Estados Unidos
A decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de impedir o fim do programa que protege jovens imigrantes ilegais (DACA) veio dar alguma segurança a jovens portugueses da Califórnia, onde várias famílias residem clandestinamente, disse à Lusa o responsável comunitário Diniz Borges.
O professor e presidente da coligação de luso-americanos na Califórnia, CPAC, disse à Lusa que a continuidade do DACA “é uma forma de os jovens pelo menos terem alguma segurança”, visto que este programa protege de deportação os imigrantes que foram levados para os Estados Unidos em criança.
“Numericamente sabemos que a percentagem não é significativa, não é o mesmo da comunidade hispânica, mas afeta algumas famílias que vivem na Califórnia clandestinamente e que emigraram nos últimos dez a quinze anos”, indicou o responsável.
O programa Ação Diferida para a Chegada de Crianças (DACA, na sigla em inglês), foi iniciado em 2012 pelo então Presidente Barack Obama e protege de deportação 650.000 jovens, conhecidos como “dreamers”. Entre eles, de acordo com números veiculados em 2017 pela secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, contam-se 520 jovens portugueses.
Diniz Borges explicou que muitas das famílias portuguesas que emigraram sem papéis não terão tido noção do que isso representaria no futuro para as crianças.
Sem DACA, um jovem indocumentado tem mais dificuldades em seguir para a universidade e não consegue obter um número de segurança social, essencial para integrar o mercado de trabalho ou abrir conta no banco.
“Existem particularmente várias famílias que estão aqui na zona do vale de São Joaquim que vieram para a agropecuária, foi uma forma de conseguirem um emprego sem dar muito nas vistas”, descreveu o presidente.
O vale central da Califórnia tem uma grande tradição de propriedades agrícolas e pecuárias detidas por famílias de origem portuguesa, calculando-se que metade dos produtores de leite sejam lusodescendentes.
“Na última onda de emigração, algumas dezenas de famílias vieram para esta zona por motivos da crise de 2007/2008”, explicou Diniz Borges.
“Essa recessão económica sentiu-se muito particularmente nos Açores e vimos pela primeira vez gente a chegar”. O professor disse que a região esteve “muitos anos sem emigrantes, clandestinos ou mesmo pelo sistema legal” e que “foi a recessão económica que trouxe uma nova onda de emigrantes, maioritariamente clandestinos”.
A administração de Donald Trump havia anunciado o cancelamento do DACA em 2017, decisão essa que foi desafiada em tribunal e chegou ao Supremo.
A maioria do coletivo de juízes rejeitou a 18 de junho os argumentos do Governo, mas deixou em aberto a possibilidade de uma nova tentativa de justificação de encerramento do programa.
O presidente reagiu à sentença garantindo que vai renovar os esforços para terminar com a proteção legal a estes jovens imigrantes.
A Califórnia é o Estado com a maior comunidade luso-americana dos Estados Unidos, contabilizando perto de 347 mil pessoas de origem portuguesa.