Portugueses na Beira mostram “desilusão completa” ao Governo por falta de apoio consular
Os portugueses residentes na cidade da Beira, centro de Moçambique, manifestaram na quinta-feira uma "desilusão completa" com o consulado de Portugal, queixando-se de falta de apoio durante a passagem do ciclone Idai.
“Em nenhum momento [o Consulado Português da Beira] esteve à altura de qualquer das nossas necessidades mínimas e imediatas e, por isso, a nossa desilusão é completa”, referiu Joaquim Vaz, empresário, numa reunião com o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
Aquele membro do Governo português chegou na quarta-feira à noite à cidade da Beira, onde se encontra, para avaliar o impacto do ciclone Idai, e na quinta reuniu-se com a comunidade que apresentou muitas queixas.
“Não estamos nada orgulhosos do nosso serviço consular. Durante estes oito dias, não tivemos informações, que o senhor teve que vir dar-nos, de Portugal”, acrescentou o empresário Joaquim Vaz.
“Estamos completamente desiludidos e por nossa conta”, referiu.
Uma carta assinada por 51 cidadãos portugueses, a maior parte empresários que dizem dar emprego a 800 pessoas, inclui vários pedidos e foi lida durante o encontro.
A falta de um telefone satélite, que poderia servir para estabelecer contactos depois de todas as operadoras deixarem de funcionar, foi um dos aspetos focados por mais do que uma vez pelos participantes na reunião.
Se várias empresas dispõem destes aparelhos, que foram cedendo face à emergência, o consulado também devia ter um, referiu Carla Alfredo, portuguesa residente na Beira.
Ausência de informação ou de reforço prévio da equipa consular, quando já se sabia que o ciclone se aproximava, foram outras das queixas, além de um alerta para cinco famílias portuguesas com carências alimentares.
Entre os principais pedidos na carta entregue a José Luís Carneiro está que Portugal indique uma força especial para garantir a proteção dos portugueses na Beira, agora que estão mais vulneráveis numa cidade sem eletricidade, nem outros serviços básicos.
“As pilhagens, assaltos e violência generalizada já começaram”, realçou Joaquim Vaz.
A carta pede ainda a criação de uma linha de crédito que possa apoiar a comunidade em casos urgentes e no esforço de reconstrução que se segue.
“Não se pode pensar que Portugal tem autonomia para chegar aqui e designar forças especiais para proteger só os portugueses”, respondeu o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
“Isso depende das autoridades moçambicanas. Moçambique tem liberdade para pedir apoio em áreas especiais”, acrescentou, sublinhando que “Portugal é um parceiro que é chamado a cooperar quando necessário”.
José Luís Carneiro classificou como uma boa possibilidade a criação de uma linha de apoio financeiro e garantiu que “o reforço da capacidade de resposta do posto consular ficará salvaguardado com os meios que, até sábado, chegarão”.
O governante realçou, durante o encontro, que o próprio serviço consular ficou sem comunicações e sofreu vários prejuízos durante a passagem do ciclone.
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, Maláui e Zimbabué provocou pelo menos 557 mortos.
O chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, decretou o estado de emergência nacional na terça-feira e disse que 350 mil pessoas “estão em situação de risco”. Neste país, estão confirmados 242 mortos.
Moçambique cumpre hoje o terceiro de três dias de luto nacional.
A Cruz Vermelha Internacional indicou que pelo menos 400.000 pessoas estão desalojadas na Beira, considerando que se trata da “pior crise” do género em Moçambique.
O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na quinta-feira à noite, deixando os cerca de 500 mil residentes na quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação.