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Popeye faz hoje 90 anos mas no início não comia espinafres

Popeye, o marinheiro, completa hoje 90 anos de vida. No entanto, o retrato que o imaginário coletivo guarda dele, não podia estar mais distante do que era nas suas origens.

A sua primeira aparição deu-se a 17 de Janeiro de 1929, numa banda desenhada intitulada “The Thimble Theatre” (Teatro em Miniatura), que na altura já contabilizava uma década. Nessa tira diária, Elzie Crisler Segar (1894-1938), com base no quotidiano da família Oyl, onde predominavam o colérico Castor, a sua irmã Olive (Olívia Palito), e o seu noivo Ham Gravy, apontava alguns dos podres da sua América: a volatilidade das fortunas, o novo-riquismo ou as desigualdades sociais.

Neste contexto, e dada a sua aparência, nada faria esperar que aquele marinheiro zarolho, careca, de corpo deformado, baixo e pouco inteligente viesse a tornar-se um herói de primeira grandeza. Mas foi o que aconteceu a Popeye, que logo na sua primeira aparição revelava a sua forma desconcertante de estar na vida. Em resposta à pergunta “É um marinheiro?”, disparava esta curiosa resposta: “Penso que sou um cowboy!”, mais tarde substituída pela carismática: “Eu sou o que sou!”.

Mas a verdade é que a adesão dos leitores foi imediata e logo em 1931 o seu nome passou a aparecer no cabeçalho: “The Thimble Theatre Starring Popeye”. A galeria de personagens alargou-se com a chegada do pai, Poopedeck Pappy, o estranho animal Eugene the Jeep, a malévola Sea Hag (Bruxa do Mar), o sonhador devorador de hambúrgueres, Wimpy, ou o brutamontes Blutus. Juntamente com o marinheiro, que na altura tinha força sobre-humana e era resistente a tiros e a todo o tipo de violência física, deram corpo a narrativas cada vez mais surreais, até à morte de Segar, vítima de leucemia, em 1938.

Antes disso, em 1933, os estúdios Max Fleischer juntavam Popeye e Betty Boop durante o breve tempo de uma curta animação, para em seguida desenvolverem uma série com o marinheiro, que protagonizou centenas de desenhos animados, onde foi cimentada a sua atual imagem de marca: a força dependente dos espinafres, algo praticamente ausente na BD. Esse facto provocou um aumento de 33 % no consumo deste vegetal nos Estados Unidos e fez com que Cristal City, no Texas, a maior produtora de espinafres do país lhe erigisse uma estátua em 1937. Dois anos antes, uma sondagem revelava que Popeye era mais popular que Mickey Mouse.

O sucesso fez com que, após a morte de Segar, a banda desenhada continuasse nos jornais assinada por diversos autores, entre os quais se destacaria Bud Sagendorf (1915-1994), que lhe conferiu um caráter mais humorístico e próximo da versão animada e a assinou entre 1958 e 1994, aumentando a sua popularidade. Fruto disso, a anoréxica Olive Oil inspirou um perfume de Moschino, nos anos 1960, e teve direito a uma série televisiva e em 1981, chegou ao grande ecrã, numa película de Robert Altman, que revelou Robin Williams.

Em Portugal, no que à BD diz respeito, o marinheiro nunca gozou da mesma popularidade que teve no seu país de origem, mas a verdade é que se estreou logo em 1939, em “O Pirilau”. Na maioria das publicações limitou-se a aparições breves, em dezenas de revistas, embora entre elas se contem títulos de referência como o “Mundo de Aventuras”, o “Condor Popular” ou o “Jornal do Cuto”. Teve igualmente direito a duas compilações de histórias de Segar (em 1973 e em 2004) e mesmo a uma publicação com o seu nome, editada pela Agência Portuguesa de Revistas em 1980, que durou algumas dezenas de números.

Antecipando a celebração dos 90 anos do marinheiro, no final do ano passado, a King Features Syndicate estreou no Youtube uma nova série animada que contará 25 episódios, intitulada “Popeye’s Island Adventures” em que, ao abrigo do politicamente correcto, Popeye utiliza um apito em vez do tradicional cachimbo e só come espinafres orgânicos.

Origem
JN
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