França enfrenta hoje uma greve geral apoiada pelos “coletes amarelos”
O dia 5 de fevereiro de 2019 é assinalado em França com uma greve geral convocada pela principal central sindical gaulesa, a CGT, cuja liderança está a passar por um período de afirmação. É esperado que o movimento “coletes amarelos” se associe ao apelo da organização liderada por Philipe Martinez.
A principal central sindical francesa, a CGT, apelou à greve geral em toda a França esta terça-feira. A CGT espera uma paralisação generalizada dos principais serviços públicos, para lutar contra “a profunda injustiça social” e, para tal, contará com o apoio dos “coletes amarelos” em diversas cidades franceses, entre outras organizações e movimentos de protesto.
O apoio dos “coletes amarelos” à greve geral da CGT é esperado não só porque as reivindicações da organização liderada por Philipe Martinez coincidem com as exigências do movimento gerado em outubro de 2018, mas também porque Eric Drouet, uma das figuras mais conhecidas dos “coletes amarelos” apelou nas redes sociais, mas sem citar a CGT, à greve geral esta terça-feira. “Bloqueio total”, pediu Drouet.
Este alegado apoio é particularmente relevante na vida sindical francesa, pois aquando das manifestações dos “coletes amarelos”, cuja primeira se realizou a 21 de outubro de 2018, a CGT mostrou-se contra às intenções manifestadas por este movimento. Agora, a central sindical reconheceu no seu apelo à mobilização dos trabalhadores franceses que os protestos dos últimos três meses, sobretudo, pela ação dos “coletes amarelos”, “revelaram a recuperação da confiança na ação coletiva”.
Assim, esta terça-feira, é esperada a adesão à greve geral dos funcionários públicos nos principais serviços do Estado, nomeadamente, nos transportes, escolas e hospitais em França, com várias manifestações por todo o país.
A CGT reivindica sobretudo o aumento dos salários, numa altura em que o presidente francês, Emmanuel Macron, envidencia esforços na realização de um generalizado debate nacional sobre questões sociais e políticas, em França com os diversos parceiros sociais (algo idêntico a uma concertação social, como acontece em Portugal, mas numa dimensão mais abrangente a outras organizações além de sindicatos e patronato). A CGT já fez saber que não vai participar nesse debate nacional, que se realiza na quarta-feira, 6 de fevereiro.
Além dos “coletes amarelos”, a ação da CGT é apoiada pela organização Solidaires, pelos partidos NPA (Novo Partido Anticapitalista, tradução livre) e PCF (Partido Comunista Francês), bem como pelo grupo contestatário La France Réuboumise, de acordo com o jornal “Le Monde”.
A greve geral de hoje é uma prova de fogo para o secretário-geral da CGT, Philipe Martinez, que se está a recandidatar à liderança da central sindical. Martinez foi duramente criticado por não se ter juntado aos protestos dos coletes amarelos desde o início e, em entrevista à revista “Politis” na última semana de janeiro, disse que tem sido difícil devido à ausência de organização deste movimento.
“A ausência de organização torna todos os contactos difíceis com o movimento. Uma intersindical, não é possível. E isto não se pode fazer rotunda a rotunda”, afirmou o líder da CGT.
Em Paris, está marcada uma manifestação que começará ao início da tarde junto ao edifício da Câmara Municipal de Paris e seguirá até à praça da Concorde. Alguns monumentos emblemáticos da capital gaulesa, como a Torre Eiffel, já avisaram os visitantes que poderá haver perturbações nos seus serviços durante o dia de hoje.
Nas redes sociais, algumas figuras destacadas do movimento dos coletes amarelos como Eric Drouet, afirmaram que esta greve deverá ser “um bloqueio total”, mostrando apoio à iniciativa.
A Confederção Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) e a Força Operaria, outras duas centrais sindicais francesas com bastante peso social e político não vão associar-se à greve geral e consequente protesto.
Segundo o “Le Monde”, aquando da última greve e mobilização de trabalhadores, convocada pela CGT a 14 de dezembro, contou com 15.000 manifestantes em Paris, apesar de não terem sido comunicados números a nível nacional.