Erro humano contaminou com vírus HIV menina angolana de sete anos
Um "erro humano" está na origem da contaminação com o vírus HIV de uma menina angolana de 7 anos, depois de uma transfusão de sangue numa unidade pediátrica de Luanda, admitiu esta quarta-feira fonte governamental de Angola.
O caso ocorreu na segunda-feira numa unidade hospitalar de Luanda, quando a criança, cuja identidade tem sido preservada, deu entrada com problemas de estomatologia e com sintomas de anemia, tendo recebido uma transfusão de sangue, aparentemente contaminado com o vírus HIV.
O caso foi detetado menos de 24 horas depois da transfusão e hoje, o secretário de Estado para a Área Hospitalar angolano, numa conferência de imprensa, assumiu que houve “erro humano” e que a equipa que estava então de serviço foi suspensa, tendo-se iniciado um inquérito para apurar responsabilidades.
Leonardo Europeu Inocêncio, que falou em representação da ministra da Saúde angolana, Sílvia Lutukuta, ausente do país em missão de serviço, indicou que, segundo as primeiras informações, o dador do sangue contaminado “desconhecia” que era seropositivo, mas não explicou por que razão o sangue não foi, entretanto, analisado.
De qualquer forma, Leonardo Inocêncio adiantou que, para já, os exames médicos feitos à criança dão resultados “negativos” em relação à contaminação com o vírus HIV/Sida.
“Ninguém está em condições de dizer que a paciente se tornou seropositiva. O diagnóstico, neste momento, é negativo”, disse, sublinhando, porém, que só dentro de cerca de seis meses se poderá saber o diagnóstico real da criança, que se encontra a receber tratamento médico no Hospital Pediátrico David Bernardino, em Luanda.
Leonardo Inocêncio reconheceu ter havido, “infelizmente, erro humano” no caso, lamentando a situação e solidarizando-se com a família da menor, tendo garantido a continuidade do tratamento tanto no país, como no exterior.
Desconhece-se ainda se será necessário transferi-la para o exterior, estando, entretanto, já em curso, alguns procedimentos administrativos, nomeadamente a emissão dos documentos de identificação (bilhetes de identidade e passaportes, entre outros) dos familiares, cujos trâmites estão a ser efetuados em cooperação com o Ministério da Justiça angolano.
Segundo o governante angolano, o quadro clínico da vítima é “satisfatório e clinicamente estável”, tendo enfatizado que, antes das 72 horas após a ocorrência, que é o recomendado, a menor iniciou o tratamento profilático.
“Em situações do género, segundo dados científicos, há a probabilidade de mais de 90% de não contrair a doença”, referiu, apelando à população para “continuar a confiar” nos serviços de saúde em Angola, em particular dos médicos, defendendo que o caso é o primeiro que se conhece no país.
O Governo angolano vai proporcionar todo o apoio social à vítima e à respetiva família, assegurou.
Em relação a uma responsabilização civil e, eventualmente, criminal, o caso está já nas mãos da Procuradoria-Geral da República, a quem competirá conduzir essa parte do processo.
“O Ministério da Saúde lamenta profundamente o sucedido e reitera o seu compromisso em detetar as vulnerabilidades do processo que tornaram a falha possível e corrigi-las para evitar a sua repetição. Manifesta a sua total solidariedade com a paciente e família à qual prestará, como está a fazer, toda a assistência no sentido de evitar que ela venha a se contaminar”, lê-se, entretanto, num comunicado oficial.
A divulgação do incidente tem dominado grande parte dos debates nas redes sociais em Angola, tendo a deputada Welwitschea dos Santos, também conhecida por “Tchizé”, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, manifestado à família da criança “total disponibilidade” para custear a “medicação e controlo” do tratamento.