Bolsonaro anuncia que Deus enviou-o numa missão e proclama: “Sou um defensor da liberdade”
Discurso do vencedor das eleições brasileiras começou com uma oração de mãos dadas e depois houve missa
Ele agora é presidente e há que mostrar ao seu país e aos demais que género de líder é e quem o colocou no caminho dos governados: antes de Jair Bolsonaro proferir o primeiro discurso presidencial, ele e quem o rodeava juntaram as mãos e rezaram. Fizeram-no solene e orgulhosamente para agradecer ao Criador ter protegido o seu enviado de uma facada que o deixou no hospital. Porque Bolsonaro considera-se isso mesmo: um missionário.
“Queria agradecer a Deus. Que me deixou vivo. Com toda a certeza essa é uma missão de Deus e vamos cumpri-la”: palavra de Bolsonaro. “Ele está de pé”: exclamação dos crentes que oraram com ele.
O novo presidente do Brasil socorreu-se de um discurso impresso e insistiu continuamente naquela palavra sagrada que tanto se teme entre os seus críticos que ele não entenda na sua plenitude: liberdade. “Faço de vocês minhas testemunhas de que esse Governo será defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso é uma promessa. Não é palavra vã de um homem, mas um juramento perante Deus.” Porque este missionário vive o salmo de David, “o Senhor é meu Pastor, nada me faltará”: “Nunca estive sozinho. Sempre senti a presença de Deus e das orações de famílias inteiras perante a ameaça”.
Bolsonaro não falou de um púlpito mas presidia a uma missa: Deus salvou-o e agora oferece-o ao povo brasileiro com a missão de proteger a liberdade, as ruas e o governo. “Tudo faremos para resgatar o nosso Brasil”: palavra do Senhor. “A liberdade vai libertar-nos”: louvado seja o Senhor. “O que ocorreu hoje foi a celebração de uma país pela liberdade. O compromisso é fazer um governo decente, comprometido com o povo. O nosso governo terá o propósito de transformar o Brasil numa grande, livre e próspera nação”: amén.
Depois da bíblia, a filosofia: “A liberdade é um princípio fundamental: andar em segurança nas ruas de todos os lugares deste país, liberdade política e religiosa, de informar e ter opinião, de fazer escolhas e ser respeitada por todos”. E desenvolve: “Como defensor da liberdade, vou guiar o governo para que proteja os cidadãos. As leis são para todos, o nosso governo será constitucional e democrático”. O Senhor é nosso salvador.
O terço final do discurso focou a cartilha política e anunciou um rasgão no centralismo: “Queremos mais Brasil e menos Brasília”, frase de memorização fácil e intuito teórico claro; “esse futuro de que falo passa por um governo que crie condições para que todos cresçam. Vamos reduzir a burocracia, reduzindo privilégios. O nosso governo vai quebrar paradigmas. Vamos desamarrar o Brasil”, porque a corrupção deu nó de marinheiro no país e Bolsonaro, o missionário, sabe de cor o livro do Apocalipse – “nesse projeto cabem todos os que tenham o mesmo objetivo que o nosso”. Céu para os alinhados, inferno para os descrentes.
Está decidido: o Brasil escolheu o seu presidente e Bolsonaro é um homem novo – mas por obra de Deus e graça da ciência, não pela eleição. “Mesmo no momento mais difícil desta caminhada, [devido à facada], por obra de Deus e dos médicos ganhei uma nova certidão de nascimento.”