Geraldo Alckmin vai enfrentar investigações em primeira instância. Rodrigo Maia foi citado. Marina Silva também. Temer e Collor de Mello só estão a salvo graças ao foro privilegiado.
A Operação Lava-Jato atingiu em cheio a candidatura de Lula da Silva, do PT, às presidenciais de outubro mas tem potencial para fazer estragos a mais concorrentes. Além do antigo presidente da República, que agora só por um milagre jurídico poderá apresentar-se a votos, as investigações ferem, com mais ou menos intensidade, outras cinco candidaturas.
Nas últimas horas, o comando da operação pediu “com urgência” para que as investigações sobre subornos pagos ao candidato do PSDB Geraldo Alckmin passem para a primeira instância. Até sexta-feira, Alckmin gozava de foro privilegiado – só poderia ser julgado em tribunais superiores – na qualidade de governador de São Paulo. Mas ao entregar o cargo nesse dia, como manda a lei eleitoral seis meses antes do sufrágio, ficou sujeito aos tribunais de primeiro grau, isto é, à alçada do juiz Sergio Moro.
Contra Alckmin pesa a acusação de ter recebido, por intermédio de um cunhado, 10,7 milhões de reais (mais de 2,5 milhões de euros) da construtora Odebrecht para financiamento ilegal de campanha, segundo o acordo de delação de três diretores da empresa. O candidato nega. O envolvimento na Lava-Jato já comprometera as pretensões eleitorais de outros dois barões do PSDB, Aécio Neves e José Serra.
Nas folhas de pagamento da Odebrecht, Alckmin era chamado de “santo”. Outro pré-candidato com alcunha nesses documentos é o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, do Democratas, apelidado de “Botafogo” pelo seu amor ao clube carioca. Ele e o seu pai, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, receberam doações ilícitas em mais de uma campanha, segundo um delator.
O presidente da República Michel Temer (MDB), para quem “seria uma cobardia não se candidatar”, foi citado 43 vezes nas delações da Odebrecht. Um delator acusa-o de participar numa reunião, com um executivo da construtora e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, hoje detido, no sentido de receber transferências ilegais. Temer é ainda investigado noutras operações, depois de ter sido gravado a pedir a um empresário para comprar o silêncio de Cunha. Esse empresário, Joesley Batista, é um dos donos da produtora de carnes JBS, empresa que foi presidida pelo ex-ministro das Finanças Henrique Meirelles. Mas Meirelles, também do MDB e também concorrente ao Planalto, não foi citado na Lava-Jato.
O ex-presidente Collor de Mello é réu da Lava-Jato desde agosto por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O militante do PTC e pré-candidato desde janeiro terá recebido 30 milhões de reais (7,5 milhões de euros) de uma subsidiária da Petrobras.
Finalmente, a candidata Marina Silva, do Rede, foi citada numa delação de Léo Pinheiro, da OAS, o mesmo empresário acusado de oferecer o triplex a Lula, como beneficiária de uma doação de campanha não declarada.
Dois candidatos a salvo da Lava–Jato, Jair Bolsonaro, do PSL, e Ciro Gomes, do PDT, envolveram-se entretanto num processo em tribunal por causa do tema. Para Ciro, Bolsonaro fez “lavagem de dinheiro”. “A [produtora de carnes] JBS depositou 200 mil reais na conta dele e mais outro tanto na do filho, ele quando viu entregou o dinheiro ao partido que na mesma data devolveu o dinheiro para ele, o nome disso é lavagem de dinheiro.” Bolsonaro processou Ciro.
São Paulo