A pressão para cumprir os prazos para terminar a confeção das roupas que se vendem nas cadeias Gap e H&M passa por maus tratos e abusos sexuais contra trabalhadoras de fábricas na Ásia, denunciou uma associação de direitos laborais.
Mais de 540 trabalhadoras de fábricas que abastecem as duas empresas relataram terem sofrido ameaças e abusos durante o horário laboral, de acordo com dois relatórios do Global Labour Justice (JLG), organismo norte-americano que luta pelos direitos no trabalho.
Os testemunhos, citados pelo “The Guardian”, referem-se a incidentes registados entre janeiro e maio deste ano, no Bangladesh, Camboja, Índia, Indonésia e Sri Lanka, que são resultado direto da pressão para trabalho rápido a baixo custo, garantem as denúncias.
A diretora do Central Cambodia, organização não-governamental envolvida na publicação destes relatórios, garante que vários tipos de abusos são o pão nosso de cada dia em muitas fábricas do Oriente, onde patrões pedem “metas irrealistas” a trabalhadoras. “A maioria dos casos não são relatados devido ao medo de retaliações no local de trabalho”, disse Tola Moeu, citada pelo jornal britânico.
De acordo com o relatório relativo à H&M, que pode ver aqui, a empresa sueca tem 235 fábricas na Índia entre os fornecedores, onde centenas de trabalhadoras são, alegadamente, insultadas e maltratadas por serem mulheres e pertenceram a uma casta inferior. Realidade semelhante registou-se no modelo de trabalho aplicado nas fábricas que fornecem a GAP, denunciado no relatório que pode consultar aqui, onde uma mulher relata ser “diariamente chamada de estúpida, ridicularizada por não trabalhar mais depressa e ameaçada com o término do contrato”.
Também Jennifer Rosenbaum, diretora da organização JLG, denuncia que os “modelos de moda rápida” da H&M e da Gap criam “alvos de produção irracionais e contratos precários” que levam a que as funcionárias trabalhem “horas extras que não são remuneradas”, além da pressão extrema de tempo sob a qual trabalham. “Sindicatos e muitos governos concordam que é essencial uma convenção da Organização Internacional do Trabalho sobre violência de género, embora ainda haja oposição de alguns empregadores”, acrescenta.
Questionadas pelo britânico “The Guardian” sobre as denúncias, a norte-americana Gap e a sueca responderam que as alegações vão ser investigadas e abriram a porta a possíveis iniciativas de combate à violência laboral, incluindo uma convenção da Organização Internacional do Trabalho.
“Todas as formas de abuso ou assédio são contra tudo que o grupo H&M defende. A violência contra as mulheres é uma das violações de direitos humanos mais comuns. A violência baseada no género faz com que mulheres de todo o mundo sofram diariamente e prejudiquem a sua saúde, dignidade e segurança”, esclareceu a cadeia sueca, numa resposta escrita enviada ao “The Guardian”, garantindo que vai passar a pente fino todo o relatório e acompanhar o trabalho desenvolvido nas fábricas dos países de produção através de equipas locais.
A posição da H&M está a par da da Gap, que garante realizar “avaliações dos fornecedores de vestuário regularmente”, de forma a “garantir que tudo é feito em conformidade” com os valores da marca. “Quando encontramos quaisquer práticas discriminatórias ou retaliatórias nas nossas cadeias, exigimos que nossos fornecedores corrijam a situação prontamente”.