Há já cerca de 40 feridos em acidentes causados por travões das GIRA.
Braços e pernas fraturadas. Testas, mãos e joelhos esfolados. A lista de ferimentos provocados pelas bicicletas elétricas disponibilizadas na capital pela EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa) está longe de se ficar por aqui. Nas últimas semanas, avolumam-se os casos de quem acabou estatelado no chão ao usar o GIRA, serviço de bicicletas partilhadas de Lisboa, que custa à Autarquia mais de 23 milhões de euros. Um dos feridos avançou com um pedido de indemnização.
Num grupo no Facebook, dedicado aos utilizadores do GIRA, são cerca de 40 as vítimas que assumem ter ido ao hospital ao usarem o sistema de travões de bicicletas elétricas – construídas pela Órbita, empresa que a EMEL contratou para implementar 140 estações do GIRA e que tem muitos outras adjudicações de fornecimento de bicicletas a vários municípios e instituições de ensino.
Ao JN, muitos utilizadores coincidiram na descrição dos seus acidentes e do que se seguiu: uma simples travagem que terminou com o corpo no asfalto e o silêncio da EMEL perante os relatos. Foi o que aconteceu com João Mestre, em dezembro. “Ao ativar o travão da bicicleta a mesma não desacelerou, mas bloqueou a roda da frente, fazendo com que fosse projetado para a frente e por cima da bicicleta”, conta, numa carta enviada à EMEL, onde exige ser indemnizado por um pulso fraturado, que o impediu de terminar o estágio profissional.
Mal-estar com vídeo explicativo
“Apesar de informado de que as bicicletas tinham um problema”, Pedro Trigueira não imaginou que numa recente noite de domingo passasse pelo mesmo. “Caí de cara, sofri escoriações nas palmas de mão e uma fratura no braço”, contou ao JN. Os contactos telefónicos com o GIRA foram infrutíferos – “tem de ser tudo por email”. “Não tenho ido ao escritório, porque estou com o braço imobilizado e estou preocupado porque para a semana vou ter de viajar”, disse.
Segundo o portal de contratações públicas Base, a Órbita está obrigada a fornecer à EMEL duas bicicletas elétricas por cada uma convencional. Porém, os utilizadores relatam que as docas deixaram de ter grande parte das elétricas, com o aumento dos casos.
O JN questionou a EMEL sobre os incidentes, mas não houve qualquer explicação. Todavia, no grupo no Facebook – que tem como administrador o assessor da empresa municipal – foi publicado um vídeo que explica como travar uma bicicleta e que está a ser considerado ofensivo pelos utilizadores, que pagam 25 euros anuais para aceder ao GIRA.
Também a Órbita não comentou estes casos e se o problema estará nos travões da marca “Shimano Roller” – cujos manuais aludem a tais acidentes se os travões não forem bem lubrificados. Fonte ligada à Siemens, que faz a assistência técnica às bicicletas GIRA, admitiu ao JN, quinta-feira de manhã, que o tipo de travões instalados “não é o indicado para tais bicicletas”.
Depoimentos de vítimas no Facebook
Testa cosida
“(…) Tive de levar pontos na testa. Tive de travar por causa da investida de um táxi (…) e acabei por saltar por cima do guiador. Penso que o bloqueio total da roda da frente foi a causa desse voo”.
Braço partido
” (…) Tive queda de égua com o travão a bloquear. Final: braço partido em 4. Placa no pulso. Enfim…”
Pulso fraturado
Eu parti o pulso e ando agora na fisioterapia por causa dessa roda da frente que bloqueia quando menos se espera. Perdi toda a confiança nas GIRA. Acho que é uma bicicleta perigosa para qualquer tipo de utilizador”.
Operado ao úmero
“Até agora devo ser o mais azarado. (…) Trambolhão com fratura no úmero e maxilar com hematoma. A escrever do hospital em pós-operação ao úmero. Quando recuperar, deixarei sugestões para formação de ciclistas para evitar que isto aconteça outra vez”.
Entorse
“Já caí duas vezes devido ao travão da frente e à distribuição do peso; a primeira vez ia mesmo muito devagar, mas era uma descida, e na segunda travei instintivamente para evitar bater num cão – mesmo sabendo que o travão é perigoso caí e fiz um entorse no pulso; das duas vezes enviei queixa por causa do travão, mas pelos vistos nada mudou”.