Contrato por objetivos, namoro do clube a Neymar, salários de rivais e cerco do fisco contribuíram para o enfado de Ronaldo.
O que levou Cristiano Ronaldo a ensombrar a festa da 13.ª Champions do Real Madrid com um discurso – “foi bonito jogar no Real Madrid”- que soou a despedida e tirou brilho à festa merengue? Os motivos acumularam-se ao longo dos últimos meses, desde a falta de reconhecimento institucional às dificuldades para melhorar contrato, passando pelos ciúmes sobre o namoro do clube com o brasileiro Neymar. Ao que o DN apurou, o jogador não gostou de que o Real Madrid lhe oferecesse um contrato por objetivos (mesmo com um aumento estimado de nove milhões de euros), pois considera que já não tem de provar o seu valor, apesar dos 33 anos.
A oferta de um contrato por objetivos antes do Mundial de Clubes, em dezembro, foi mesmo considerada ofensiva por parte do número 7, segundo o jornal AS. Depois da final da Liga dos Campeões no ano passado, que o Real ganhou frente à Juventus (4-1, com bis de CR7), o presidente Florentino prometeu um novo acordo ao português, mas a nova época começou e… nada. O camisola 7 conquistou a Supertaça Europeia e de Espanha, mas começou a liga espanhola com pouco gás, agravado com um castigo de quatro jogos e alguns problemas físicos que o levaram a uma seca de golos nunca vista, levantando dúvidas no clube sobre um possível declive do avançado.
Já em janeiro, e depois de conquistar o Mundial de Clubes e de ser eleito mais uma vez o melhor jogador do mundo pela FIFA, o jogador recusou uma proposta para renovar por objetivos na ordem dos 30 milhões de euros anuais (atualmente aufere 21 milhões limpos).
A “traição” com Neymar
A somar a tudo isso, os rumores do interesse do Real Madrid em Neymar e o contrato dele no PSG, bem como o de Messi no Barcelona, sempre foram motivo de desconforto. O extremo português sempre disse que “não era uma questão de dinheiro”, mas de “respeito”. Ou seja, CR7 sempre achou que o Real (e Florentino, leia-se) devia reconhecê-lo como melhor do mundo também no papel. E nesta altura há pelo menos seis jogadores à frente dele na lista dos mais bem pagos (Messi, Neymar, Xavi, Iniesta, Oscar e Lavezzi).
Lionel Messi, o maior rival, por exemplo, renovou neste ano até 2021 a troco de quase 50 milhões de euros líquidos por temporada, mais um bónus – o Barça assumiu a dívida do argentino junto do fisco espanhol, no valor de dez milhões de euros. Algo que os merengues nunca terão sequer equacionado.
Depois, há ainda que ter em conta os indícios da contratação de Neymar para enfrentar uma era pós-Ronaldo. Uma notícia do El Confidencial de dezembro de 2017 falava inclusive na possibilidade de Ronaldo ser moeda de troca na contratação do brasileiro do PSG. Mais uma vez, o português teve de engolir em seco, tal como o fez quando viu o presidente blanco piscar o olho a Neymar em plena gala da FIFA, que o elegeu a ele, CR7, como o melhor do mundo pela quinta vez. Voltou a responder em campo, terminando a época com mais uma Champions, a quinta da carreira e quarta pelo Real.
Tirando os olhos do relvado, há muito que era visível o desconforto do português em Espanha, não só com a falta de reconhecimento por parte da direção blanca como também devido aos problemas com o fisco. No último verão, o capitão da seleção nacional deixou no ar uma possível saída. Foi então que Florentino Pérez saiu em sua defesa, mas sem o efeito esperado por CR7, que gostava de ver o clube intervir no caso ou admitir pagar parte da verba que a máquina fiscal espanhola reclama.
A verdade é que, tal como lembrou Florentino Pérez ainda a quente em Kiev, quando confrontado com as declarações do português, Ronaldo tem contrato com o Real até 2021 (altura em que terá 36 anos) e uma cláusula de rescisão no valor de mil milhões de euros.
Um filme já visto?
As palavras do madeirense soaram a despedida e deixaram os adeptos em estado de choque, além de terem aberto uma ferida no balneário. Segundo o jornal Marca, as declarações caíram mal junto dos colegas de equipa, que lhe terão chamado à atenção logo após o jogo. Sérgio Ramos lembrou-lhe mesmo, e publicamente, que ele “não encontrará sítio melhor para estar do que o Real Madrid”. Já Zidane não queria acreditar num cenário de saída: “Cristiano fica? Sim ou sim.”
Mais tarde, em declarações à RTP, o jogador admitiu que não foi o timing certo para falar do assunto, mas a bomba já estava lançada.
Como recordou o jornal As, Ronaldo já tinha esticado a corda no clube outras vezes, como no final da época de 2012 e no verão do ano passado, acabando por renovar. Resta saber como terminará a novela deste ano, tendo em conta que CR7 já revelou que quer jogar até aos 41 anos… ou seja, lá para 2025 ou 2026.
Para já, segue-se o Mundial, com a seleção portuguesa.