O minuto 90’+3’ mudou por completo os destinos de Portugal, que já se preparava para enfrentar os homens da casa e afinal vai ficar no lado mais incómodo da ‘chave’. De Volgograd chegou uma das mais belas narrativas da prova: cortesia do velhinho El-Hadary
O penálti concedido ao Irão, em Saransk, e o golo validado (depois de uma primeira decisão contrária) ao calcanhar de Iago Aspas, em Kaliningrad, trocaram as voltas às contas portuguesas. Agora, Portugal irá enfrentar o Uruguai, vencedor do grupo A com uma limpeza atemorizadora: três vitórias noutros tantos jogos, cinco golos marcados e nenhum sofrido. Há 101 anos que não o conseguia (então, na Copa América de 1917, bateu Argentina, Brasil e Chile, com nove golos marcados e zero sofridos); então… venceu a prova. O autoritário 3-0 sobre a anfitriã Rússia, que andava de peito cheio com o belo início que tinha protagonizado, fez do conjunto sul-americano a primeira seleção a fazer o pleno desde 1998 (Argentina).
Essa grande penalidade constituiu ainda um recorde: foi o 19.º penálti deste Mundial, fazendo desta já a edição com mais penáltis de sempre – 1990, 1998 e 2002, todas com 18, eram as recordistas. Este número viria ainda a subir com o penálti iraniano, apontado por Ansarifard, que assim se uniu aos outros 16 atletas com grandes penalidades convertidas – só Messi (Argentina) e Cueva (Peru) haviam desperdiçado uma grande penalidade até ontem, quando Al Muwallad (Arábia Saudita) e Cristiano Ronaldo se lhes juntaram.
Se Portugal tivesse passado em primeiro do seu grupo, teria (teoricamente) o caminho mais facilitado nas fases seguintes. O cenário atual é aparentemente mais complicado: caso o Uruguai fique pelo caminho, a Seleção nacional terá de enfrentar quem passar do embate entre o primeiro classificado do grupo C (que provavelmente será a França) e o segundo do grupo D (para já, a Nigéria, que hoje joga o tudo-ou-nada com a Argentina).
O mais velho de sempre Neste Mundial, onde continua a não haver nenhum jogo que termine empatado a zero – já vão 36, na maior série da história (o Suíça 1954, com golos em todos os 26 jogos, era o recorde até este ano), uma das mais belas histórias chegou de Volgograd. Ali, El-Hadary teve a oportunidade de ser titular (e capitão) de um Egito já eliminado e, aos 45 anos e 161 dias, tornar-se o mais velho jogador a atuar num Campeonato do Mundo, superando o colombiano Faryd Mondragón, que em 2014 entrou nos últimos minutos de uma partida com o Japão aos 43 anos e três dias.
Houve mais do que isso, todavia. Houve El-Hadary a defender uma grande penalidade, já perto do intervalo – na altura, significava o aguentar da vitória egípcia, que se verificava desde os 22 minutos, devido a um golo do astro Salah. E não só por essa defesa se ficou o senhor que esta época, no Al Taawon, da Arábia Saudita, foi treinado por José Gomes, agora timoneiro do Rio Ave: El-Hadary fez mais um par de defesas de alto nível, acabando por ser batido em novo penálti assinalado já aos 45’+5’.
A despedida totalmente inglória dos faraós, com zero pontos em três jogos, tornar-se-ia uma realidade aos 90’+5’, quando literalmente no último lance do jogo, Al Dawsari fugiu à defesa egípcia e desviou para a baliza à guarda de El-Hadary. Foi a primeira vitória da Arábia Saudita num Mundial desde aquele golo de Al-Owairan à Bélgica de Michel Preud’homme a 29 de junho de 1994.