“Fomos hoje a Fátima ao terço.” As mensagens de Paulo Gonçalves sobre os árbitros e o Benfica
Já depois da revelação dos primeiros e-mails, as trocas de mensagens que envolvem Paulo Gonçalves mantiveram-se. Os "padres" eram os árbitros, as "missas" os jogos do Benfica.
A Polícia Judiciária (PJ) recolheu novas provas no âmbito do processo e-toupeira que mostram que o ex-assessor jurídico do Benfica Paulo Gonçalves manteve um esquema de contactos com árbitros e figuras do mundo da arbitragem mesmo depois de os primeiros e-mails — roubados por um pirata informático ao clube — terem sido revelados pelo diretor de comunicação do FC Porto no Porto Canal, escreve o Correio da Manhãna edição desta sexta-feira.
O jornal explica que no telemóvel de Paulo Gonçalves, que foi apreendido, a PJ encontrou mensagens trocadas através da aplicação WhatsApp com referências religiosas, que serão palavras de código para os esquemas de corrupção desportiva que estão em investigação no caso dos e-mails. As provas, por não terem relevância para o processo E-toupeira, foram transferidas para este processo — aliás, as investigações dos dois casos têm tido provas cruzadas com frequência.
“Fomos hoje a Fátima ao terço”, lê-se numa mensagem de 15 de fevereiro enviada por Paulo Gonçalves a um funcionário do Benfica. Segundo o Correio da Manhã, a expressão “padres para as nossas missas” seria código para “árbitros para os nossos jogos”. As mensagens com referências a missas, padres e outras expressões religiosas repetem-se ao longo dos últimos meses, já depois da divulgação dos e-mails.
Numa das mensagens era visível a preocupação dos intervenientes no esquema com uma notícia que dava conta da capacidade da Polícia Judiciária para detetar à distância mensagens de telemóveiEstas mensagens, por terem sido detetadas na sequência da apreensão de um telemóvel autorizada pelo juiz, têm valor legal e vão entrar no processo, juntando-se a outras provas recolhidas pelas autoridades na sequência da divulgação dos e-mails — esses, por terem sido roubados por um pirata informático, não valem como prova.
O Correio da Manhã conta ainda que os bilhetes que eram oferecidos às chamadas “toupeiras” do Benfica, indivíduos que passavam informação a partir do interior do sistema judicial, eram bilhetes incluídos no conjunto de convites de que o gabinete jurídico do clube dispunha para oferecer.
Já esta semana, o blogue Mercado de Benfica (associado ao hacker Rui Pinto) revelava novos e-mails que davam conta de como funcionaria o alegado esquema de corrupção envolvendo Paulo Gonçalves e o ex-delegado da Liga, Nuno Cabral, que serviria de ligação a árbitros.