A águia afogou-se na ribeira do Jamor e o Real perdeu a realeza
Enquanto em Espanha o Real Madrid era enxovalhado em Barcelona (5-1), em Portugal o campeonato levou mais uma reviravolta com a derrota surpreendente do Benfica frente a um Belenenses que ainda não ganhara em casa (2-0)
Surpresas? Sim. Mas, convenhamos, não desusadas. Ontem à tarde, em Barcelona, o Real Madrid de Julen Lopetegui, que até ao momento não revelara nenhuma da classe que o levou à conquista de três Ligas dos Campeões consecutivas, foi trucidado pelo Barcelona. “Manita y… a la calle?”, perguntava a “Marca”. Para a rua? O destino do antigo treinador do FC Porto e da seleção espanhola parece estar marcado, falando-se já que Conti será apresentado hoje como novo timoneiro. Como resistir a uma derrota tão dolorosa? Cinco golos sofridos: 1-0 por Coutinho, aos 11 minutos; 2-0 por Luis Suárez, de pénalti, aos 28 – reduziu Marcelo aos 50 – 3-1 por Luis Suárez, aos 75; 4-1 por Luis Suárez, aos 82; 5-1 por Arturo Vidal, aos 87. Desastre!
Não há mais Ronaldo no Real? Pois muito bem, também não houve Messi para o Barcelona, lesionado com uma fratura no braço. Ficou na bancada, sorridente, mesmo muito sorridente. Lopetegui: seis derrotas em catorze jogos! Mais perto da descida (seis pontos) do que da liderança (sete). E uma sensação inacreditável de incompetência. Que futuro? A imprensa espanhola já não tem dúvidas quanto ao que irá acontecer. Nada poderá, neste momento, evitar um despedimento anunciado para o treinador que se sujeitou igualmente ao despedimento antes do Mundial da Rússia ao aceitar um convite de Florentino Perez quando era o timoneiro de La Roja. E Florentino não é propriamente conhecido pela sua infinita paciência.
Enquanto isso, em Itália, Cristiano Ronaldo era protagonista da difícil vitória da Juventus no campo do Empoli. Jogo tenso que ao intervalo registava vantagem da equipa da casa graças ao golo de Caputo (28 minutos). Mas, no segundo tempo, o português explodiu. Marcou o tento do empate aos 54 minutos, de penálti, e deixou os adeptos turineses mais descansados. Até porque, tal como acontecia em Madrid, confiam nele até à protérvia. E Ronaldo não os desilude. De maneira alguma. A vinte minutos do final surgiu à entrada da grande-área de Provedel e aplicou um pontapé formidável: a bola, impelida com uma força impressionante, foi encaixar-se no canto superior direito da baliza do Empoli levantando todo o público do Carlo Castellani como se impulsionado por uma mola. Lindo, lindo, lindo! O mais espetacular momento de Ronaldo desde que chegou ao “calcio” e que comprova que está mais vivo do que nunca, a despeito de todas as dúvidas que quiseram atirar-lhe sobre os ombros no momento em que decidiu aceitar o convite da Juventus. Com nove vitórias à décima jornada, agora é assobiar às botas da Velha Senhora. Veremos se alguém a apanha.
Desastre vermelho. No Estádio Nacional, casa emprestada de um Belenenses que, até agora, não tinha lá ganho, o Benfica sofreu o mais rude dos golpes. De início, vários lances de ataque desperdiçados pela incúria dos jogadores mais adiantados de águia ao peito. Mas, em seguida, vieram à superfície as evidentes falhas de personalidade de um conjunto que tem andado sempre muito tem-te-não-caias.
Depois da derrota em Amesterdão, face ao Ajax, para a Liga dos Campeões, que deixou os encarnados um pouco mais longe do acesso aos oitavos-de-final da prova, esperava-se uma resposta firme no dérbi de Lisboa. Mas foi tudo demasiado baço para um conjunto que não conseguiu tirar grande proveito da vitória sobre o FC Porto na última jornada. As falhas ofensivas e defensivas foram de tal ordem que, apesar da forma autoritária como subiu ao relvado, o intervalo chegou com a vantagem dos azuis por 2-0, golos de Eduardo, de grande penalidade, aos 37 minutos, e de Keita, num movimento em que apareceu completamente sozinho face a Vlochodimos, aos 42.
Rui Vitória fez entrar Jonas logo após o início da segunda parte mas os equívocos foram mais que muitos. O público afecto ao Benfica revoltou-se. Muita gente começou a abandonar as bancadas, convencida de qua nada poderia evitar uma derrota profundamente dolorosa. Outros fizeram balançar lenços brancos em direção ao banco onde Vitória se via a contas com uma das situações mais complicadas desde que chegou à Luz. Confuso, atrapalhado, sem lucidez que lhe permitisse tirar proveito dos lances de perigo, o Benfica condenou-se. Perdeu pela primeira vez para o campeonato, mas perdeu muito mais do que isso: perdeu a vantagem psicológica que tinha adregado com o triunfo frente ao seu grande rival na luta pelo título, o FC Porto de Sérgio Conceição que, por sua vez, se agarrou ao primeiro lugar da tabela, ao lado do SC Braga.
Tempos difíceis, portanto, para quem tinha iniciado a época com um fulgor notável e prometia surgir como o grande candidato à reconquista de um título que conseguira por quatro vezes consecutivas. Antes da chegada de Sérgio Conceição ao Dragão. O FC Porto não perdeu a oportunidade de sair disparado, de longada, na frente da tabela. Era de esperar… 2-0 ao Feirense.