Dia Mundial da Luta Contra o Cancro. “A vida muda completamente e a forma como a encaramos também. O medo, esse existe sempre”
Hoje assinala-se o Dia Mundial da Luta Contra o Cancro
Hoje é uma data importante e para muitos significa mais um dia a lutar contra esta doença. O cancro da mama é preocupante e apesar de não ser dos cancros que mais mata, a cada ano, são diagnosticados mais de dois milhões de novos casos de cancro da mama em todo o mundo. Só em Portugal surgem mais de seis mil novos casos por ano, mas nem tudo são más notícias: a mortalidade neste tipo de casos tem diminuído. Ao i, Sofia Braga, Oncologista da Unidade da Mama na CUF Instituto de Oncologia, disse que no ano passado a estimativa era que se registassem cerca de 1700 mortes por cancro da mama. “A taxa de sobrevivência no cancro da mama tende a aumentar se continuarmos a incentivar o diagnóstico precoce”, alertou.
Marlene Rosa foi um desses casos. Foi diagnosticada em 2015. Na altura tinha 32 anos. Mas o diagnóstico surgiu por acaso. “A descoberta foi por acaso, estava na altura a pensar em engravidar pela segunda vez, a minha filha tinha cinco anos e queríamos ter um segundo filho. Numa consulta de rotina de ginecologia e, através da palpação, o médico detetou um nódulo. Não tive qualquer tipo de sintoma, sentia-me bem, longe de imaginar o diagnóstico atual”, contou ao i.
Na altura, Marlene teve de ser submetida a vários testes para tentar descobrir se se tratava de um nódulo benigno ou maligno. Antes de dar o salto para a gravidez era necessário garantir que tudo estava bem, relembra. “Nos primeiros resultados o médico inclinava-se para nódulo benigno, contudo só poderíamos ter a certeza através da biopsia”, afirmou. Depois de decidir realizar a biopsia “confirmou-se o pior, era mesmo cancro da mama”.
Seguiram-se os exames e “no espaço de uma semana estava a ser operada”. No meio disto tudo teve alguma sorte: o cancro “estava localizado e numa fase inicial”. Mas os tratamentos não pararam por aqui. Depois de ter sido submetida à cirurgia fez quatro sessões de quimioterapia e 33 de radioterapia.
“Relativamente aos receios, tive e muitos, pois são tratamentos muito agressivos para o nosso sistema imunitário e com muitos efeitos secundários. Foi uma fase difícil, onde foi fundamental o apoio da família e amigos e pensamento positivo, sempre”, revelou.
A sua reação aos tratamentos foi muito positiva e, enquanto os estava a realizar, não perdeu a força de continuar: “tentei sempre manter-me ativa, quer em casa, quer no trabalho, de forma a minimizar as alterações no meu dia-a-dia. Neste momento, faço meditação diária e tratamento hormonal de três em três meses, estando a situação estabilizada”.
“Atualmente sinto-me bem, faço as minhas consultas e exames de rotina, por forma a manter a situação controlada. Passei a incluir o exercício físico na minha rotina e tento também fazer uma alimentação o mais saudável possível. É certo que a vida muda completamente e a forma como a encaramos também. O medo, esse existe sempre, mas também existe uma força que nos faz acreditar que vai correr tudo bem”, disse.
Tratamentos Quando se pensa nesta doença, o tratamento que se associa é instintivamente a quimioterapia, mas segundo Sofia Braga existem outras alternativas. “Existe uma combinação de estratégias terapêuticas consoante cada caso que nos é apresentado”, explica. Para cada doente é traçado um plano terapêutico que pode passar por “cirurgia, tratamentos sistémicos (como por exemplo a quimioterapia, hormonoterapia e terapias dirigidas) e radioterapia”. Os tratamentos também variam para cada fase em que o cancro se encontra, “com o objetivo de curar nos casos mais precoces ou localmente invasivos. O objetivo e a terapêutica mudam conforme o caso”, indicou.
A responsável explicou ainda que “o maior medo” dos doentes não é o tratamento, mas sim “poder morrer ou sofrer”. “Há um enorme estigma e um certo exagero sobre a utilização de quimioterapia para tratar o cancro da mama antes ou imediatamente depois da cirurgia mamária. Tem havido inclusive tentativas de suprimir a sua utilização. Devemos tendencialmente usar menos quimioterapia, mas isso tem que ser feito de forma segura. Temos doentes a fazer quimioterapia a trabalhar em full time e até a correr maratonas! Tudo depende de cada mulher e da forma como encara esta etapa da vida”, afirmou.
Recomendações Segundo a especialista a maior parte das pessoas que se debate com esta doença vai “poder ficar bem”. “Há que ter esperança e que pedir de nós profissionais apoio, compromisso e dedicação na tomada a cargo”, completou.
Sofia Braga fala ainda em alguns comportamentos de risco que podem ser controlados para diminuir a “probabilidade de a pessoa vir a desenvolver um tipo de cancro”. Segundo a especialista fatores como a “obesidade, a ausência de exercício físico, o tabaco, idade avançada da primeira gravidez e a nuliparidade, menor número de gravidezes de termo e também tomar a pílula de substituição hormonal, serão os que mais contribuem para o aumento do risco”. “Dos fatores que não controlamos, o facto de se ser mulher e a idade são os principais. Existem ainda outros que não controlamos, como por exemplo fatores hormonais, nomeadamente ter tido a primeira menstruação em idade precoce ou a menopausa tardia. A história familiar é também um fator de risco não controlável”, completou.
Sintomas Ao longo do tempo as células vão perdendo o controlo da sua destruição quando estão envelhecidas ou danificadas. O cancro forma-se quando as células perdem este mecanismo e sofrem alterações no seu DNA). Ou seja não morrem quando envelhecem ou quando se danificam e produzem novas células com essas alterações, formando-se assim a doença.
O cancro passa por vário estadios e dependendo desse estadio sintomas podem ser ou não mais evidentes, explixou a especialista. Os principais sintomas são:
– nódulo ou espessamento da mama ou na zona da axila, detectável ao toque;
– alterações no tamanho ou formato da mama;
– dor na mama;
– alterações na mama ou mamilo, visíveis ou ao toque;
– sensibilidade no mamilo;
– secreção ou perda de líquido do mamilo;
– retracção do mamilo;
– pele da mama, mamilo ou aréola gretada ou descamativa, vermelhidão ou inchaço.