Venezuela. O misterioso avião russo que aterrou no aeroporto de Caracas
Maduro mostra-se disponível para dialogar com a oposição e a Rússia está preparada para mediar. Guaidó convocou protestos para ontem
O Boeing 777 da companhia aérea russa Nordwind que aterrou ontem num aeroporto de Caracas desatou uma série de especulações na Venezuela, com a oposição a avançar com a teoria de que estaria ali para levar 20 toneladas de ouro para fora do país. Outras possibilidades: transporte de forças de segurança russas ou retirada de cidadãos russos do país.
Questionado sobre o assunto pelos jornalistas, o porta-voz do Kremlin, Dimitry Peskov, limitou-se a dizer: “Não sabemos de nada.” E acrescentou que “não há nenhuma informação” no sentido de que haveria ouro para levar da Venezuela: “É preciso ter muito cuidado com os enganos.” “A Rússia está pronta para fazer todo o possível para facilitar a normalização da situação política interna na Venezuela, mas sem interferir nos assuntos internos deste país”, disse.
José Guerra, antigo diretor do Banco Central venezuelano e deputado da oposição, citando fontes da autoridade monetária, denunciou que o avião estacionado no aeroporto de Maiquetá, nos arredores de Caracas, desde segunda à noite se destina a transportar para fora do país 15% das reservas de ouro da Venezuela, as tais 20 toneladas.
Da parte do governo não houve qualquer comentário à presença da aeronave e a companhia aérea recusa-se a revelar quem alugou o aparelho, limitando-se a confirmar que o mesmo está em Caracas.
A Reuters, citando três fontes diferentes, diz que mercenários russos ligados ao grupo Wagner, empresa de segurança criada por Dimitry Utkin, próximo do presidente russo, Vladimir Putin, viajaram para a Venezuela para garantirem a segurança de Nicolás Maduro.
A empresa militar privada, apontada por muitos como o esquadrão secreto das forças armadas russas e que tem homens na Síria, na Ucrânia e em África, recebeu indicações na segunda-feira para enviar homens para Caracas: “A ordem chegou na segunda-feira para formar um grupo para ir para a Venezuela. Estão lá para proteger os níveis mais altos do governo”, explicou ao “Guardian” Yevgeny Shabaev, líder cossaco com ligações às empresas paramilitares que é uma das fontes da Reuters. Shabaev diz que podem estar em Caracas uns 400 paramilitares, mas as outras fontes da Reuters falam em menos.
A Rússia tem desenvolvido nos últimos anos uma relação próxima com o governo de Maduro, concedendo vários empréstimos e garantindo alguns contratos de venda de armamento. Ainda no mês passado, Moscovo enviou para o país dois bombardeiros TU-160, com capacidade nuclear, em gesto de apoio.
Maduro, que em entrevista à Sputnik não confirmou nem desmentiu a presença de mercenários russos (“não posso dizer”), afirmou ontem que o presidente dos EUA o quer ver morto: “Sem dúvida, Donald Trump deu ordem para matar-me e disse ao governo colombiano e às máfias da oligarquia colombiana que me matem.” E acrescentou que desertores venezuelanos estão a conspirar a partir da Colômbia para dividir as forças armadas e conseguir um golpe de Estado.
Em gesto para a oposição, Maduro mostrou-se disponível para antecipar as eleições para a Assembleia Nacional, mas não as presidenciais, e para dialogar com o presidente dos EUA: “Estou disposto a falar com Donald Trump, em privado, em público, nos EUA, na Venezuela, onde ele quiser, sem agenda, de todos os temas que ele quiser. Aliás, estou convencido que se ele e eu estivermos cara a cara e conversarmos, outra história se escreverá.”
Peskov, o porta-voz do governo russo, reafirmou ontem o empenho de Moscovo em mediar um diálogo entre Maduro e Juan Guaidó. O líder da Assembleia Nacional, autoproclamado presidente interino – que ontem falou por telefone com Trump -, convocou manifestações de apoio à Assembleia Nacional que juntaram milhares de pessoas. As palavras de ordem: eleições livres, fim da usurpação e governo de transição.