Quentes e caras: as castanhas não chegam para as encomendas e o preço disparou
Uma dúzia de castanhas assadas custa, no Chiado, em Lisboa, 3,5 euros. Turismo? Não só. Os preços subiram nos mercados, nos supermercados e a qualidade ainda não é a melhor.
A procura de castanhas este ano está exceder a oferta, mas os produtores garantem que “as quentinhas e boas” não vão faltar no São Martinho, onde a tradição pede que se coma o fruto acompanhado de um copo de jeropiga ou água-pé. As leis do mercado são claras: se há pouco produto e muita procura, os preços aumentam.
E os preços altos já se fazem sentir sobretudo nos assadores de rua onde, em zonas turísticas de Lisboa como o Chiado, a dúzia de castanhas custa 3,5 euros. Nos super e hiper mercados os preços, grande parte nos folhetos promocionais, podem variar entre 3,5 e 5 euros por quilo.
A razão para haver mais procura do que oferta deve-se sobretudo ao facto de a castanha estar atrasada cerca de 15 a 20 dias, conforme explica Cândido Henriques, técnico da Associação Portuguesa da Castanha (Refcast). Ou seja, muita castanha está formada na árvore mas não cai. As alterações climáticas são a razão apontada para os frutos ainda não estarem maduras.
Ao atraso do amadurecimento da castanha, soma-se a pressão do mercado internacional, nomeadamente do sul da Europa, também afetado pelo clima. “A castanha portuguesa é muito valorizada”, afirma Cândido Henriques, sublinhado que a produção atual já dá para satisfazer os clientes, mas a forte procura do exterior faz com que os preços no produtor disparem.
A castanha está a ser vendida no produtor a preços altos, que rondam os 2,5 e os 3 euros por quilo. No ano passado os preços andavam pelos 2 euros.
Os problemas que advêm do clima proporcionam outros fatores que afetam a qualidade da castanha, que apresentam algum bichado e podridão, acrescenta Cândido Henriques.
Dinis Pereira, proprietário da Agromontenegro, empresa do concelho de Valpaços, concorda que este ano a produção está atrasada mas garante que a castanha é de boa qualidade. A lei da oferta e da procura, sublinha, dita o aumento do produto. No seu caso, está a vender a castanha a cerca de 3 euros o quilo. “Mas não vão faltar castanha no São Martinho, são é mais caras.”
Numa ronda por grandes superfícies e supermercados constata-se que a castanha – por ser um produto da época e estará associada ao São Martinho que se comemora a 11 de novembro – está contemplada na maioria dos folhetos promocionais. A saber: no Pingo Doce, até domingo, o preço está a 3,49 euros/Kg, menos 25 % dos 4,79 euros iniciais; no Continente o produto está a 3,99 Euros e no Jumbo a 4,99; no Lidl o preço é de 4,99 mas de 8 a 11 de novembro, desce para 3,69.
“Não há melhor castanha, mas o preço não deve baixar.”
Nos mercados o preço é mais elevado, como na banca da D. Ângela, em Alcântara, onde a espécie martainha é vendida, conforme o calibre, a 5,80 ou 6,80 euros7kg. Mas com duas garantias: “Não há melhor castanha, mas o preço não deve baixar.”
Os preços de rua vão certamente ressentir-se destes fatores. No Chiado, uma das zonas mais turísticas de Lisboa, uma dúzia de castanhas custa 3,50. Ou seja, 12 castanhas custam apenas mais 50 cêntimos que o preço médio de um quilo vendido pelo produtor.
Portugal produz anualmente cerca de 40 a 45 mil toneladas de castanhas, mas a produção tende a diminuir. Cada vez há menos castanha e isso deve-se também à mortalidade dos castanheiros provocada pela doença da tinta que se apodera das árvores e faz com que as raízes e caule apodreçam. O combate à doença, diz o engenheiro da Refcast, só é possível nas novas plantações.
A castanha foi durante muito tempo um dos principais alimentos das populações rurais e ganhou um novo élan com a moda da cozinha gourmet. A qualidade do produto nacional faz com que haja uma grande procura do exterior – os principais importadores são a Espanha, Brasil, França e Suíça.
Lendas e tradições
“No dia de São Martinho, pão, castanhas e vinho”, “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”, os ditados populares mostram como se deve celebrar e provar o vinho novo –a tradição do magusto, que deve ser celebrado com uma fogueira.
Acredita-se que a festa popular do magusto tem origem no Dia de Todos os Santos e nas oferendas que se faziam aos familiares que já tinham morrido, preparando-se uma mesa com castanhas assadas na fogueira para à meia-noite as almas as virem comer.
E o verão de São Martinho de onde vem? Nos anos 300, Martinho era um soldado romano que no regresso a casa encontrou nos Alpes um pobre, quase sem roupa, que lhe pediu esmola. Não tendo nada para lhe dar, e estando muito frio, Martinho pegou na espada, cortou ao meio a sua capa vermelha e partilhou-a com o homem. Depois desse gesto, o tempo terá melhorado, como se fosse verão. Desde então, passou-se a chamar verão de São Martinho aos dias de sol no início de novembro.
O dia de São Martinho celebra-se a 11 de novembro, porque terá sido nesses dia do ano de 397 que o santo foi enterrado em Tours, França.