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Arrendamento. Mina de ouro para proprietários e também para inquilinos

Os preços praticados para estudantes, tanto para arrendar casas como quartos, vão ao encontro dos valores cobrados no arrendamento tradicional. Além da especulação, há que contar ainda com os gastos extra, já que a maioria quer arrendar com despesas já incluídas, o que faz aumentar ainda mais o valor final. Senhorios falam ainda do “negócio à margem da lei” feito pelos inquilinos

O arrendamento de quartos e de casas para estudantes é, tal como acontece com o mercado em geral, uma mina de ouro para os proprietários. Este segmento não escapa à loucura que se vive no mercado imobiliário em Portugal. E a explicação é simples: se os preços das casas tanto para arrendar como para comprar não param de aumentar, é natural que quem tenha imóveis para pôr no mercado de arrendamento aproveite este momento de preços altos.
Mas se, do lado da procura, há quem se queixe dos valores, do outro lado há a explicação de que a oferta é pouca face às necessidades do mercado – uma questão que ganha maior relevo nesta altura, com o início de mais um ano letivo. E a somar ao preço especulativo das casas há que contar ainda com os extras que estes tipos de arrendamento preveem, nomeadamente as despesas já incluídas.

“Os preços dos quartos e das casas para estudantes estão em linha com o que se pratica no arrendamento tradicional, apesar de a duração ser mais pequena. E quem anda à procura destas soluções pretende geralmente ter tudo incluído, como as despesas com gás, água, luz, internet e, muitas vezes, serviço de limpeza – fatores que, naturalmente, levam a um aumento maior das rendas, independentemente de ser só um quarto ou uma casa por inteiro, porque os custos também sobem para os senhorios”, diz ao i Menezes Leitão, presidente da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP).

Mas os problemas não ficam por aqui. De acordo com o responsável, continuam a ser frequentes as situações de subarrendamento, ou seja, são os próprios inquilinos a arrendarem quartos. Esta situação, segundo Menezes Leitão, é muito frequente nos contratos antigos, em que as rendas estão congeladas e, como tal, são baixas, e os inquilinos ganham o dobro ou o triplo com os quartos que alugam. “Estamos a falar de casas muitas vezes localizadas nos centros das cidades, de grandes dimensões, logo com muitos quartos, e fazem negócio sem passar recibo”, refere.
O presidente da ALP diz mesmo que se trata de uma situação de “abuso” e, em muitos casos, “ilegal”. Menezes Leitão recorda que há uma norma antiga na lei do arrendamento que prevê que os inquilinos possam receber hóspedes, mas não fazer negócio disso – um cenário que tem vindo a ser desvirtuado nos últimos anos e que acontece um pouco por todas as zonas do país onde há universidades, mas desperta maior preocupação na cidade de Lisboa. “Há mesmo situações de pessoas que alugam as suas casas e nem sequer lá vivem. O inquilino está, neste caso, a obter lucros à custa de um imóvel que é de outrem e que lhe foi arrendado para habitação. É abusivo”, salienta.

Solução poderá ser a partilha A maioria dos portugueses quer gastar até 500 euros no arrendamento de uma casa – um valor bastante inferior à média que é praticada no mercado nacional, pelo menos nas grandes cidades. Em Lisboa, o valor chega a ultrapassar os 960 euros, ou seja, quase o dobro do que os portugueses têm disponível para gastar, tendo em conta que o rendimento líquido médio nacional é de 856 euros. Ainda assim, no Porto, a média do valor do arrendamento baixa para os 677 euros. Isto significa que, para a maioria dos estudantes, a solução passa por encontrar mais pessoas para partilharem o imóvel, já que permite dividir os gastos.

Mas numa ronda feita pelo i pelos principais sites das mediadoras que atuam no mercado nacional não é possível encontrar qualquer imóvel na capital com valores até 500 euros.

Para encontrar esses imóveis terá de sair da capital para os arredores. Ainda assim, por este preço só encontra no concelho de Sintra ou da Amadora, e até aqui a oferta é reduzida. E para valores mais baixos – a rondar os 300 euros – já terá de ir para Vila Franca de Xira ou um pouco mais longe, até Torres Vedras.

Aliás, esta tendência já tem vindo a ser reconhecida pelas mediadoras. “Arrendar uma casa por 500 euros na cidade de Lisboa não passa de um sonho, não existe essa oferta. O mesmo acontece no Porto. Precisamos de ir para Gaia, Maia, Odivelas, Loures, etc.”, diz ao i Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal.

A solução para este problema passa, de acordo com Ricardo Sousa, pela entrada de operadores de grande dimensão, com capacidade de concentrar a oferta e criar economias de escala. Só assim, segundo o mesmo, “é possível disponibilizar soluções de arrendamento ajustadas às necessidades atuais da procura, o que iria permitir um mercado de arrendamento mais transparente e profissional”.

Já João Pedro Pereira, da comissão executiva da ERA Portugal, acredita que os preços do arrendamento irão manter-se nestes níveis nos próximos anos, em particular nos centros das grandes cidades. E ao i dá uma explicação: “Há muito pouca oferta de arrendamento tradicional nos centros das principais cidades. Por outro lado, com o crédito à habitação tão competitivo em termos de preço, as prestações mensais pagas ao banco acabam por ser muitas vezes inferiores ao valor do arrendamento mensal. Perante este cenário, muitas pessoas continuam a optar pela compra porque, para além de ser uma poupança forçada (que pode trazer benefícios e mais tranquilidade a médio e longo prazo), é um investimento com uma boa probabilidade de criar mais-valias, a prazo, num contexto em que o imobiliário está a valorizar-se de forma transversal.”

O responsável admite que o preço que é procurado pelos portugueses para uma solução de arrendamento varia “conforme o poder de compra de cada um, a área geográfica escolhida e a tipologia de imóvel pretendida”.

Origem
Jornal i
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