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Portugueses regressam em força e exportações mantêm queda

Setor da construção diz que número de expatriados baixou de 100 mil para 30 mil e a tendência é para continuar a diminuir

Desde 2014 que os portugueses a trabalhar em Angola estão a regressar em força ao nosso país. A quebra de investimento, as dívidas acumuladas pelo Estado angolano a empresas nacionais e o facto de os salários terem começado a ser pagos em kwanzas ditaram a tendência.

A construção, um dos setores com maior peso em Angola, tem vindo a reduzir a sua estrutura e com isso também o número de trabalhadores. A par da elevada dívida às construtoras, assistiu-se ao cancelamento de muitos projetos que estavam em marcha. “Se até há pouco tempo contávamos com cerca de cento e tal mil trabalhadores da construção civil, agora devem rondar os 30 mil e a tendência é para continuarem a regressar”, revela ao i o presidente do Sindicato da Construção Civil, Albano Ribeiro.

Esta garantia vai ao encontro dos dados que têm sido avançados nos últimos dias por responsáveis oficiais de Portugal e de Angola à Lusa, e que apontam para que, pelo menos, um terço dos trabalhadores portugueses expatriados em Angola tenha regressado a Portugal desde 2014. Também a partir dessa altura, muitas micro, pequenas e médias empresas foram obrigadas a fechar as portas face ao reduzido volume de negócios.

Os últimos números avançados pelo relatório do observatório da emigração apontam igualmente para essa quebra. Com base nos dados dos registos consulares, em 2013, existiam 39 mil portugueses em Angola, tendo em conta os dados do Porto e Lisboa. Mas de acordo com as últimas informações disponíveis, terão entrado em Angola 3908 portugueses em 2016, uma redução face aos 6700 portugueses que foram para o mercado angolano no ano anterior.

 

Exportações também desceram Se, num passado recente, Angola era o quarto destino das exportações portuguesas, esse cenário tem sofrido profundas alterações nos últimos anos. O valor das exportações portuguesas para o país recuou 28,5% em 2016 face a 2015, ano em que já tinha caído 33,9%, equivalentes a 1079 milhões de euros, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). A diminuição das vendas para Angola determinou a descida deste país de 4.º maior destino entre 2011 e 2014 para 6.º em 2015 e 8.º em 2016. Ainda assim, em 2017 conseguiu-se inverter esta tendência com as exportações a subirem 19% – um aumento avaliado em 283 milhões de euros, ultrapassando os dois mil milhões de euros.

De acordo com os últimos dados do INE, em julho as exportações para Angola voltaram a registar uma diminuição de 21,4% face ao período homólogo. Uma tendência que de resto já se tinha sentido no primeiro semestre do ano, altura em que as exportações tinham decrescido em 135 milhões de euros. O mercado angolano tem peso nas exportações agroalimentares, de máquinas e aparelhos.

Também o número de empresas exportadoras para Angola tem vindo a cair. Se, em 2013, os dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) apontavam para mais de nove mil, no ano passado não atingia as cinco mil.

Em contrapartida, Portugal continua a reforçar as importações provenientes do mercado angolano, que subiram mais de 300 milhões de euros, com especial enfoco para o petróleo. Ainda assim, na análise de exposição ao mercado e do quadro regulamentar, no que diz respeito ao regime de importação, a AICEP chama a atenção para o facto de continuar a existir em Angola um “pendor protecionista e de defesa da produção nacional”, exemplificando com as “barreiras tarifárias; não tarifárias; burocracia alfandegária e escassez de divisas para pagamento das importações de bens”.

O decréscimo nas exportações tem também sido acompanhado pela contração do investimento português em Angola. Segundo o organismo, com base nos dados do Banco de Portugal, relativos a 2016, o investimento direto português em Angola registou um valor negativo de 84,8 milhões de euros, enquanto o investimento angolano em Portugal foi de 19,3 milhões de euros. E de 2012 a 2017, o investimento português em Angola caiu à média anual de 43,9%, enquanto o investimento direto de Angola em Portugal evoluiu positivamente a uma média anual de 62,9%.

Também no que diz respeito ao regime de investimento estrangeiro, a AICEP aponta para a “burocracia e complexidade na análise e aprovação dos projetos”, vincando ainda que depois de a economia angolana ter crescido, em média, 2,8% ao ano entre 2013 e 2017, deverá acelerar para 2,7% até 2022.

Origem
Jornal i
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