D. Duarte: “Perdeu-se uma parte da história de Portugal no Brasil”
Descendente de D. João VI, D. Duarte ficou chocado com o desaparecimento do espólio que o antepassado reuniu no palácio onde agora estava o Museu Nacional. Espera que os museus portugueses levem em conta esta tragédia.
O incêndio que ontem destruiu o Museu Nacional brasileiro instalado no Palácio de São Cristóvão no Rio de Janeiro, edifício onde viveu a família real portuguesa durante o período de 1808 a 1821, foi uma tragédia que chocou D. Duarte, o descendente de D. João VI e pretendente ao trono de Portugal.
D. Duarte, que soube do fogo no antigo palácio pela comunicação social, considera que se “perdeu também uma parte da História de Portugal no Brasil”, tendo em conta que naquelas instalações “existia uma biblioteca criada pelo rei D. João VI, resultante de um trabalho de prospeção científica e cultural do país que tinha encomendado”. O interesse principal de muito do espólio agora ardido devia-se, refere D. Duarte, “à documentação das heranças culturais das várias nações indígenas iniciada pelo rei e continuada por D. Pedro II, que era um cientista e grande interessado nas populações indígenas.”
O pretendente ao trono português tem esperança que “os documentos agora perdidos devam estar copiados e guardados noutros locais”, no entanto no que respeita “aos objetos das várias tribos do Brasil, estou convencido que se devem ter perdido para sempre.”
D. Duarte já tinha visitado o museu no Rio de Janeiro e recorda-se de várias peças em que reparou, receando que “se possa ter perdido o esqueleto humano mais antigo do continente sul americano, o de uma mulher”. Por outro lado, acredita que nada deve ter acontecido ao maior meteorito encontrado no mesmo continente: “Deve ter resistido e estará debaixo dos escombros.”
Para D. Duarte é difícil aceitar que nos tempos de hoje ainda haja perdas destas ao nível de património: “Preocupa-me que haja incêndios em instituições como estas, como recentemente também aconteceu no Museu da Língua Portuguesa. Espero que em Portugal não arda nenhum museu importante e que este exemplo seja levado em conta pelas autoridades nacionais.”
Grande admirador de D. João VI, D. Duarte considera que o seu antepassado direto – a sua mãe era bisneta de D. Pedro II e tetraneta de D. João VI e o seu pai descendente do rei D. Miguel – “foi um rei genial no seu desempenho”. Como todas as pessoas, argumenta, “qualquer um tem qualidades e defeitos” e no caso desse seu antepassado considera que “ele teve uma excessiva prudência de modo a não criar conflitos”. Se por um lado, acrescenta, “essa atitude foi considerado fraqueza por alguns, por outro lado permitiu ao país navegar no meio das grandes potências da época – a França napoleónica e a Inglaterra – e quando os franceses invadiram Portugal ele tinha tudo preparado para mudar a capital para o Rio de Janeiro. Com isso salvou a independência do reino, pois se tivesse ficado prisioneiro nas invasões francesas ter-lhe-ia acontecido o mesmo que ao rei de Espanha, que foi humilhado”.
A revisão da História mais recente, alega D. Duarte, “fez com os historiadores atuais já reconheçam essa inteligência em D. João VI e não tratem a mudança da corte para o Brasil como uma fuga, como acontecia até há pouco tempo. D. João VI não abandonou o país, até porque o Brasil era tanto o país dele como Portugal”. Quanto à opinião no Brasil sobre o mesmo rei, D. Duarte diz que também se alterou: “Antigamente, devido às novelas muito tendenciosas da TV Globo, ela não era boa, mas hoje em dia também se verificou uma grande revisão histórica e os brasileiros têm uma grande admiração por ele. Afinal, desenvolveu a cultura e a arte, protegeu as nações indígenas e evitou certas questões relativas aos escravos.”