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Guarda-chuva põe Águeda nas bocas do Mundo

Jornal Noticias

Instalação artística com guarda-chuvas, aliada à animação, atrai milhares de turistas, fortalece negócio e une comunidade. Cidade saiu da sombra

“Conhecem Águeda no Mundo inteiro pelos guarda-chuvas”. A voz da aguedense Maria da Graça, atirada no meio de uma rua colorida na baixa da cidade, soa carregada de orgulho. Não é para menos, a instalação artística Umbrella Sky, criada em 2011 para alegrar as ruas da cidade de Águeda enquanto decorria o programa de animação Agit-Águeda, tem corrido Mundo através das redes sociais e pelo passa-palavra de pessoas maravilhadas.

Os chapéus tornaram-se o “cartão de visita” de Águeda, assume o vice-presidente da autarquia, Édson Santos. No ano passado, calcula o autarca, terão passado pela cidade, durante o AgitÁgueda, cerca de 250 mil pessoas. Este ano “a fasquia subiu ainda mais”, confessa.

Vão para assistir aos concertos, fazer os roteiros de arte urbana a céu aberto que se criaram na cidade, provar a gastronomia e usufruir da animação e espetáculos, tudo gratuito. O extenso e diversificado programa do AgitÁgueda, que termina no dia 29, refira-se, foi premiado pela sua qualidade e recebeu, em janeiro, o reconhecimento internacional com o selo Fest300 2018 – The World”s Best Festivals/ Os Melhores Festivais do Mundo. Este ano, o orçamento chegou aos 600 mil euros para os 23 dias de atividades.

Mas, acima de tudo, os visitantes querem passear nas ruas coloridas. Agora, para além dos chapéus, há balões e fitas a encimar algumas vias e a merecer o aplauso de visitantes de várias nacionalidades.

“Com os chapéus e o boom das redes sociais, as fotos que as pessoas tiram espalharam-se por todo o Mundo. Começamos a ser contactados por pessoas no estrangeiro e por agências de viagens que querem saber quando temos a instalação para colocar nos pacotes turísticos como uma das atrações do país”, conta Édson Santos. “Dá muito trabalho e envolve toda a comunidade, mas é gratificante”, acrescenta.

O resultado sente-se no impacto criado na economia local, nomeadamente na restauração e hotelaria. A ocupação é “de quase 100% em todos os hotéis em Águeda na altura do AgitÁgueda. Há filas para jantar. Também há hotéis na região que recebem turistas para este evento, porque a capacidade do concelho não é suficiente”, garante Edson Santos.

“Desde que surgiram os chapéus, aliados ao AgitÁgueda, a cidade ganhou muito. Tem sido fantástico”, assegura, por sua vez, Elisabete Lima, que há um ano fundou o “Hostel and Friends”, numa das ruas cobertas por chapéus coloridos.

“Abrimos devido ao aumento do número de turistas na cidade, ao desenvolvimento industrial, desportivo e cultural. Notava-se procura da parte do turismo e isso promoveu este negócio”, explica. O mês de julho, por causa do AgitÁgueda, é o “pico de procura” e o mês de agosto “também é bom por causa dos emigrantes”, conta. Nesta altura tem o hostel cheio de estrangeiros: europeus e muitos asiáticos vindos do Japão, China e Coreia. “Eles dizem que vêm mesmo para ver os chapéus de chuva”. Uma vez, “chegaram a vir em outubro, por engano, à procura deles”. Só que os guarda-chuvas, que são instalados em junho, são retirados em setembro.

As instalações artísticas que dão colorido às ruas têm cativado de tal forma que o conceito está a ser aplicado noutros países, conta a mentora da ideia, Patrícia Cunha.

A artesã Graça Almeida percebeu que tinha aqui uma oportunidade de negócio e começou a fazer peças de louça, têxteis e outras recordações com a imagem dos guarda-chuvas, que vende na sua loja GraÇart Artesanato, no coração da cidade, a quem queira levar uma prenda. “Já não podemos viver sem os guarda-chuvas. São estas vendas que ajudam o comércio a passar o resto do ano”, conta. Um dia, entrou-lhe na loja um caminhante brasileiro, surpreendido com o “bom astral da cidade”. O peito encheu-se de orgulho.

Os guarda-chuvas de Águeda são a prova de que “às vezes são os conceitos mais simples e menos expectáveis que conseguem os melhores resultados”, declara o presidente do Turismo Centro de Portugal. “Águeda conseguiu surpreender ao fazer a decoração de ruas com um acessório que todos usam mas a que deram, com criatividade, um novo uso”, elogiou.

Os suíços Graham e Margaret Sheppard e os belgas Sven, Yves e Liliane Vergoucke-Spinnael não escondiam a alegria ao passear nas ruas de Águeda, para onde viajaram atraídos pelos chapéus coloridos e programa de animação. Graham e Margaret, que repartem a vida entre a Suíça e uma residência em São Martinho do Porto, já tinham estado na cidade no ano passado. Ficaram de tal forma maravilhados, que voltaram. “Todos os anos há algo novo. Gostamos dos chapéus, das estátuas, da alegria. Viemos só para passear nas ruas”, explica Margaret.

Sven aproxima-se e explica que a sua rua de eleição é a que “tem balões”, porque se projetam no chão e nas paredes, enchendo-os também de cores. A “arte urbana”, espalhada por toda a cidade, acrescenta, também o cativou. Ao ponto de prometer voltar para o próximo ano. É uma “promoção fantástica”, que “envolve” as pessoas e cria um “espírito de comunidade”, explica. Enquanto falam com o JN, um grupo de dezenas de japoneses passa na rua. Vão de olhos postos no céu e sorriem, acenando uns para os outros. Nas esplanadas mais adiante ouve-se falar espanhol, português do Brasil e francês.

Por outra rua coberta de chapéus deambulam a canadiana Caitlin Chesholm e os amigos. É a primeira vez em Portugal e, no roteiro, traziam já o nome de Águeda assinalado como uma das passagens obrigatórias. “Vimos fotos de amigos e na Internet. Eram lindas e quisemos vir”, conta. Maria Genoveva, 61 anos, fez a viagem de autocarro com mais 60 pessoas, desde Alcobaça. “Viemos só para ver os chapéus. É ainda mais lindo ao vivo”, diz.

Patrícia Cunha teve de puxar pela imaginação quando a autarquia lhe pediu, em 2011, uma “solução para animar as ruas pedonais do centro da cidade” onde nasceu e onde ainda hoje reside, com um “orçamento muito reduzido”. “Procurámos uma solução prática, que desse sombra, colorido e fosse económica. Sinceramente, não pensamos tanto na vertente artística, mas o resultado da instalação Umbrella Sky foi muito bom”, conta Patrícia, fundadora da Sextafeira Produções. Desde então, ela e a sua equipa já fizeram instalações com guarda-chuvas, bolas, fitas, símbolos tropicais ou outros objetos inusitados, em ruas de França, Japão e Estados Unidos.

A empresa, que começou por dedicar-se à realização de eventos e concertos, está agora direcionada para instalações artísticas de rua e objetos de grande dimensão, que surpreendem no meio das cidades. Patrícia nasceu em Águeda há 39 anos, numa família de “empreendedores”, sublinha. Criativa desde criança, enveredou por um curso profissional de Marketing, em Coimbra. Mas manteve as raízes e residência em Águeda, terra da qual diz “gostar muito” e onde se sente bem. Fundou a Sextafeira Produções em 2004, empresa que lhe permite fazer o que gosta e viajar. É por tudo isto que sente um “gozo redobrado” por saber que o Umbrella Sky, que idealizou, ajudou a projetar a sua cidade além-fronteiras.

Origem
JN
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