Cerca de 45 mil ismaelitas encontram-se em Lisboa para o encerramento das celebrações do jubileu de diamante de Aga Khan entre 5 e 12 de julho. O programa inclui exposições, concertos, celebrações e encontros oficiais com o Presidente da República e o primeiro-ministro. Só no Centro Ismaelita são esperadas 15 mil pessoas
Desde 2 de julho que o Centro Ismaelita de Lisboa não para de receber visitas. O habitualmente pacato n.º 1 da Avenida Lusíada é ponto de paragem para os cerca de 45 mil ismaelitas que, esta semana e na próxima, se encontram em Lisboa para celebrar o jubileu de diamante de Aga Khan. Dito de outra forma, os seus 60 anos como líder da comunidade. O príncipe chega a Lisboa na sexta-feira, mas a festa começa esta quinta-feira.
Por estes dias, uma semana inteira de festejos, o Parque das Nações converte-se em ponto de encontro dos ismaelitas.
Convertido em Patio Mela, o pavilhão 1 da FIL inaugura hoje três exposições: Rays of Light é uma panorâmica em 250 fotografias do trabalho de Aga Khan procurando melhorar a condição humana, um dos propósitos do mandato Ismaili; Ethics in Action mostra oito dimensões dos projetos da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN, na sigla inglesa); e, finalmente, Aga Khan Museum, uma experiência que inclui uma visita virtual à exposição Fatimida. Ficam até 11 de julho.
No Pavilhão de Portugal encontra a Galeria de Arte, dedicada a mostrar os projetos de artistas ismaelitas de todo o mundo ligados às artes visuais (pintura, arte em papel, escultura, arte 3D, design gráfico, arte de instalação e arquitetura). Foram selecionadas 160 obras de quase 90 artistas. A exposição está aberta até 10 de julho, das 09.30 às 22.30.Apenas membros registados podem aceder.
No cinema Nos do Centro Comercial Vasco da Gama terá lugar o Festival de Cinema, entre 6 e 9 de julho, das 11.00 às 22.00 e, como as exposições, só aceita membros registados.
O Altice Arena também recebe eventos da celebração do Jubileu de Diamante. Cheb Khaled, Vishal & Shekhar e Cuca Roseta atuam esta quinta-feira, a partir das 20.00.
Entre 7 e 9 de julho, realiza-se o International Talent Showcase,uma mostra do talento ismaelita em quatro domínios: vocal, musical, dança e artes criativas
Sufi Voyage é o último dos concertos na Altice Arena. Um “concerto devocional de encerramento apresentando o Rei do Qawwali, Ustad Rahat Fateh Ali Khan, numa atmosfera especialmente preparada, e os talentos musicais de Salim-Sulaiman, reunidos numa atuação imperdível que incluirá Bollywood, folclore, canções populares e qawwali – um estilo de música devocional de místicos muçulmanos”, segundo um comunicado da comunidade ismaelita.
A PSP confirmou à agência Lusa que estará responsável pela segurança do evento e que são esperados constrangimentos na circulação na zona do Parque das Nações. Durante todo o evento — oito dias -, a circulação de pessoas e veículos vai estar vedada entre a FIL e a pala do Pavilhão de Portugal.
Os mesmos constrangimentos que se viram durante a Eurovisão, entre 30 de abril e 12 de maio.
Aga Khan encontra Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Ferro Rodrigues
Sua Alteza, como se lhe referem todos os ismaelitas, chega a Lisboa na sexta-feira, 6 de julho e será recebido pelo líder da comunidade portuguesa e seu representante diplomático em Portugal, Nazim Ahmad, que durante os últimos meses tem preparado a visita, anunciada oficialmente a 21 de março. O programa contempla encontros com as principais figuras do Estado.
Dia 9, segunda-feira: Apesar de chegar na sexta-feira, o programa oficial de Aga Khan só começa dois dias depois no Palácio de Belém, com uma reunião com o Presidente da República. O almoço será um encontro com o primeiro-ministro, António Costa, no Palácio Foz. À noite, em Queluz, Marcelo Rebelo de Sousa oferece um banquete privado ao príncipe. Desde a primeira visita a Portugal, em 1983, que o líder dos ismaelitas mantém relações com os chefes de Estado portugueses.
Dia 10, terça-feira: Aga Khan discursará na sala do senado da Assembleia da República e inaugura a exposição Ideals of Leadership: Masterpieces from the Aga Khan Museum Collections. “As histórias retratadas nas imagens e transmitidas através dos objetos estão relacionadas com alguns dos mais importantes e intemporais ideais de liderança a que os governantes aspiraram ao longo dos tempos”, diz uma nota explicativa. Poderá ser vista até 14 de setembro. O ponto de partida é o acervo à guarda do Museu Aga Khan, em Toronto. Almoça em S. Bento, a convite de Ferro Rodrigues.
A tarde está reservada a visita às obras de reabilitação que decorrem no Palacete Mendonça, um projeto do início do século XX do arquiteto Ventura Terra que vai albergar a sede mundial do Imamat, como foi acordado com o Estado português em 2015. A recuperação e construção de um parque de estacionamento subterrâneo é do arquiteto Frederico Valsassina. A inauguração está prevista para 2019.
Dia 11, quarta-feira: Aga Khan volta ao Palacete Mendonça para uma cerimónia religiosa com um pequeno núcleo de ismaelitas. À tarde, junta-se ao membros da comunidade no Pátio Mela, o encontro da assembleia numa tradução literal.
Dia 12, quinta-feira: No Centro Ismaelita, Aga Khan encontra-se com o ministro da Ciência, Manuel Heitor, e 16 bolseiros que estão a desenvolver projetos no âmbito de uma protocolo de 10 milhões de euros do Imamat com o ministério por um período de 10 anos. Será o ponto final da visita de quase uma semana. O edifício, esse, continuará aberto para membros da comunidade até ao dia 14.
Centro Ismaelita recebe 15 mil pessoas
Desde segunda-feira que as visitas ao Centro Ismaelita se sucedem. São esperadas 15 mil pessoas, diz Sara Sadrudrin, 26 anos, arquiteta, uma das 118 voluntárias do programa de visitas guiadas ao Centro Ismaili, inaugurado em 1998.
Apontando para um grupo de 50 pessoas que segue atrás de um guia, Sara Sadrudin explica que para abrir as portas a tantas pessoas foi preciso encurtar a visita. Ao contrário do que é habitual (um grupo, um guia), os guias conduzem os grupos aos locais mais importantes e depois outros fazem as explicações. “Estamos aqui no espaço de transição, entre a receção e a área religiosa”, explica, em inglês, um dos 118 voluntários — portugueses e estrangeiros, mas todos ismailis — desta atividade. É um claustro com jardim e fontes. Só se ouve água, abafando o som das duas vias rápidas entre as quais se ergueu a casa dos ismaelitas em Portugal.
O jovem guia chama a atenção para os dois painéis, um de cada lado da escada. São obra de Raul Rewval, filho de Raj Rewal, o arquiteto do Centro Ismaelita em parceria com Frederico Valsassina. O palácio do Alhambra, em Granada, foi a inspiração para este complexo de 18 mil metros quadrados, 5500 dos quais construídos.
No topo das escadas, uma menina de 8 anos, com o polo verde que identifica os voluntários ligados ao jubileu de diamante, oferece um saco de plástico branco para guardar os sapatos. Veio de Moçambique e tanto fala português como inglês como gujaráti.
Descalçar é o último passo antes de entrar no coração das celebrações religiosas, uma sala de 900 metros quadrados e 10 metros de altura (números da jovem guia que fala para o grupo). “Já viram muitos azulejos, e aqui não é exceção, mas são de cores mais claras”, nota.
No jardim, mesmo ao lado do edifício outra guia chama a atenção para as árvores plantadas. “Alguém sabe como se diz laranja em árabe?”. Um único visitante responde. “Portugal, como o nosso país”, realça a guia. “Representam a ligação entre a cultura árabe e Portugal”. Um único senão. “Não são comestíveis. Não as apanhem.”
O relógio marca 16.00, as visitas terminam (são retomadas nos próximos dias 8, 9 e 10 e depois 13 e 14) para dar lugar ao culto religioso.
Ramo minoritário dentro de um ramo minoritário do Islão (os xiismo) e os mais liberais, os ismaelitas reconhecem Karim Aga Khan IV como descendente do profeta Maomé (através do casamento de Ali, seu primo, com a filha, Fátima).
Aga Khan assumiu a liderança do Imamat Ismaili em 1957, após a morte do avô. Tinha 20 anos. Fundou entretanto a Rede Aga Khan para o desenvolvimento (AKDN, na sigla inglesa), um conjunto de agências humanitárias, entre elas a Fundação Aga Khan Portugal.
Em Portugal, a comunidade ismaelita, um ramo de um ramo do Islão, tem entre 8 e 10 mil pessoas. Aumentou em número depois da independência de Moçambique, onde existia uma ampla comunidade, que, por sua vez, migrou da Índia.