A Mercedes em Portugal continua à espera do número definitivo de veículos que terá de chamar à oficina, no âmbito do recall europeu que foi acordado entre a Daimler, o grupo que inclui Mercedes e Smart, e o ministro alemão dos Transportes, Andreas Scheuer. Sabe-se, contudo, quais os motores que estão de momento em causa e quais os modelos que equipam.
O problema da manipulação das emissões em motores da Mercedes surgiu inicialmente com o Vito, o furgão Classe V com motor turbodiesel 1.6. Nesta motorização, a agência que regula os transportes na Alemanha, a KBA, descobriu o que anunciou serem cinco dispositivos de enganar os sistemas de medição das emissões nocivas. Ilegais como os utilizados pela Volkswagen – que detectavam as condições típicas dos testes de homologação –, os da Mercedes cumpriam os testes, mas depois, passados uns minutos de utilização, desligavam os sistemas que reduzem a poluição lançada para atmosfera, apenas para não limitar tanto as mecânicas, de modo a que elas não defraudassem os clientes em matéria de capacidade de aceleração e de consumos.
Com estes sistemas, os poluentes emitidos pelos motores da Mercedes disparavam, mas a marca alemã, que nunca contestou esta realidade, defendia-se afirmando que a possibilidade de desligar os sistemas estava prevista na lei. E na realidade está, mas apenas em caso-limite, de avaria ou para salvaguardar a mecânica, e não apenas porque sim. A KBA descobriu a marosca e materializou a acusação, com Dieter Ziesche a ripostar, reclamando da decisão e afirmando pretender recorrer à justiça para defender o seu ponto de vista que, apesar de ser reconhecidamente uma “habilidade”, explorava um buraco na legislação.
Mas o CEO da Daimler mudou de opinião depois de Andreas Scheuer o convocar para uma reunião no Ministério dos Transportes, onde lhe explicou que a lei lhe permitia penalizar a Daimler em 5.000€ por cada veículo fraudulento, o que expunha o grupo alemão a uma penalidade de 3,75 mil milhões de euros.
E a prova que Scheuer foi convincente foi a marcha-atrás de Zietsche, que (após a reunião) admitiu que tinha chegado a um acordo (secreto) com o Estado e que iriam recolher não os 68.000 Vito com motor 1.6, não os cerca de 230.000 unidades com software malicioso que a Mercedes admitiu numa segunda fase possuir, e nem os 750.000 veículos que a KBA tinha estimado. O resultado do “apertão” de Scheuer a Zietsche foi o compromisso da Daimler em recolher 774.000 Mercedes com motor a gasóleo.
Quantos em Portugal e quais?
Contactada pelo Observador, a Mercedes em Portugal afirmou não estar ainda em condições de saber quantos são os veículos envolvidos, que ascenderão sempre a vários milhares. Sabe-se, sim, que são pelo menos dois os motores com software ilegal, designadamente o 1.6 e o 2.2, ambos turbodiesel.
Analisando a lista de modelos comercializados no nosso país, torna-se evidente que para além do Classe V, estes motores envoltos em polémica estão igualmente ao serviço de automóveis como os pequenos CLA e Classe B, surgindo ainda a animar os Classe C e os Classe E. Em termos de SUV, os motores ilegais e a necessitar de reformulação estão disponíveis no GLC, GLC Coupé e GLE.
Resta saber que tipo de actualização a Mercedes pretende realizar ao software dos seus motores, além de confirmar-se especificamente qual é o problema. Caso seja como a KBA suspeita, então será necessário fazer algo mais do que impedir apenas o veículo de desligar os sistemas de redução de emissões, pois isso irá provocar uma perda de rendimento que obviamente desagradará aos clientes, sendo isso o que a marca alemã pretendia evitar em primeira instância, quando recorreu à artimanha.
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