Menos oferta e uma (cada vez) maior procura, sobretudo nos centros de Lisboa e Porto, estão a inflacionar preços das casas. Mediadores receiam uma nova bolha e um efeito dominó nas periferias.
Casas à venda por 10 mil euros o metro quadrado? Apartamentos do tamanho de um quarto num bairro histórico de Lisboa por 150 mil euros? Uma assoalhada arrendada por 700 euros? Os números parecem exagerados, mas tornaram-se comuns no atual mercado imobiliário, tão comuns que os próprios mediadores imobiliários já alertam para os riscos de uma “bolha”, conformem descrevem hoje o Correio da Manhã e a TSF.
O alerta chega pela voz de Luís Lima, presidente da Associação das Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), para quem “é preciso arranjar um equilíbrio”. Perante preços tão inaceitáveis, de que são exemplo “arrendamentos de quartos a jovens estudantes a 600 ou 700 euros por mês”, destaca a necessidade de “trazer os fogos devolutos para o mercado”, adianta.
A preocupação cresce em paralelo com os valores de mercado. Conforme explica o CM, desde janeiro de 2015 que o valor médio das casas fica mais caro para os bancos todos os meses. E segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a avaliação bancária do metro quadrado está a valorizar-se consecutivamente há 40 meses. Uma situação que decorre de um mercado que, depois de um período em que havia casas em excesso para vender, passou a ter menos oferta e uma procura desenfreada.
Numa reportagem da TSF sobre o mercado da habitação na periferia, Luís Lima admite que nunca conseguiram prever aquilo que aconteceu nos últimos dois ou três anos. De uma situação de excesso de oferta de casas no mercado, passou-se para o contrário: muita procura e pouca oferta, mesmo nas periferias de Lisboa e Porto. As zonas em redor das grandes cidades são, aliás, uma das preocupações de Luís Lima, que admite um “efeito dominó para os concelhos vizinhos” de Lisboa e Porto pois ninguém pode pagar o que se pede nos centros urbanos.
O representante dos mediadores imobiliários fala assim em “bolhas localizadas nos centros das grandes cidades”, dado que “existe muita procura para gente que quer comprar nas mesmas zonas”, e dá como exemplos alguns bairros típicos do Porto, como a rua Escura ou a rua dos Caldeireiros, “que os estrangeiros acham pitorescos. O mesmo acontece em Lisboa”.
O risco de bolha é, por isso, muito real. Os preços têm um limite “e a especulação vai-nos matar”, defende Luís Lima, para quem é urgente aumentar a oferta de casas, mas a “preços controlados”. “Por um T1 em Lisboa, as pessoas deveriam pagar uma renda entre os 250 e os 350 euros, e por um T2, não mais de 400 a 450 euros”, afirma.
As coisas não vão crescer sempre… um dia vão cair e eu não conheço nenhum país no mundo onde os preços cresçam, cresçam e um dia não caiam…”.
Luís Lima defende ainda que exista apenas um tipo de avaliação de imóveis, contra o sistema atual em que “existe a avaliação feita pelos bancos para a concessão de crédito, existe a avaliação feita pelo Fisco para o pagamento de impostos… Seria importante existir apenas um tipo de avaliação no mercado imobiliário que servisse para tudo.” O presidente da APEMIP assume ainda estar preocupado com a população mais jovem, mesmo que ainda seja possível pedir empréstimos que levam o encargo de uma casa, na periferia, para valores mais razoáveis pois. “O aluguer hoje é para ricos”, comentou à TSF.