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Três anos de espera para consulta que devia ser feita em dois meses

Diario Noticias

O tempo de espera por consultas nos hospitais é muito elevado   |  ARTUR MACHADO / GLOBAL IMAGENS

Mais de uma dezena de hospitais apresentavam no final do ano passado tempos de espera acima de dois anos para primeiras consultas de especialidade. A 30 de novembro de 2017, últimos dados disponíveis no portal do Ministério da Saúde, pelo menos 74 consultas espalhadas por todo o país apresentavam prazos médios acima de um ano, o que afetava cerca de cem mil doentes – isto quando os tempos máximos de resposta para uma consulta normal não podem exceder os 150 dias. E destas, em 14 os doentes tinham de esperar mais de dois anos para serem vistos por um especialista. Um dos casos mais sintomáticos é o da consulta de de dermatovenereologia no hospital de Aveiro, que a unidade garante estar agora nos três anos de espera, mas que os dados do ano passado apontavam para os quase 1900 dias, ou seja, mais de cinco anos para uma consulta considerada prioritária, que devia ter resposta em dois meses. Além desta especialidade, ortopedia, urologia ou reumatologia são outras das áreas mais afetadas nos 60 hospitais analisados pelo DN. Falta de profissionais e de vagas são algumas das razões apontadas.

Em resposta enviada ao DN, o Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), que inclui o Hospital Infante D. Pedro, de Aveiro, informa que desde de dezembro já conseguiu reduzir os tempos de espera para a consulta prioritária de dermatologia, embora admita que continuam acima do desejado: 984 dias, quase três anos. “A verdade é que os tempos elevados se justificam pelo insuficiente número de médicos desta especialidade e, a este respeito, a direção clínica esclarece que o Centro Hospitalar solicitou vagas de várias especialidades, entre as quais as de dermatologia e reumatologia, sendo que, no último procedimento concursal para recrutamento de pessoal médico, não foi atribuída a este Centro Hospitalar nenhuma vaga de reumatologia, tendo sido atribuída uma vaga de dermatologia – de resto, a única vaga da região centro – à qual não concorreu nenhum recém-especialista”, justifica o CHBV. “Atendendo à evidente carência de especialistas de dermatologia, no CHBV, afigura-se crucial a atribuição desta vaga, por parte da tutela, e deveria ser evitado, a todo o custo, a contratação direta de especialistas por outros hospitais da zona centro.”

Questionada sobre as críticas sobre a falta de profissionais nestes hospitais e porque não são os doentes encaminhados para outras unidades com tempos de resposta dentro do que a lei prevê, a Administração Central dos Sistemas de Saúde não respondeu às perguntas colocadas pelo DN. Mas para Américo Figueiredo, ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia e diretor de serviço no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, atrasos tão acentuados como o de Aveiro têm que ver com “a exiguidade do quadro” e com o medo dos especialistas em aceitar esses lugares. “As vagas ficam desertas porque não se pode abrir só uma, tem de se aguardar dois ou três anos para conseguir abrir mais vagas. Nenhum jovem médico vai para um lugar onde no dia seguinte terá centenas de doentes em lista de espera e ninguém mais velho com quem se aconselhar, até porque têm outras alternativas, até no privado.”

O dermatologista admite que é difícil abrir mais lugares, porque não há profissionais em número suficiente e há outros hospitais com os mesmos problemas. “Não há nada que não seja engolido pela procura. Há falta de noção do que é realmente importante e o que não é”, critica Américo Figueiredo.

image.aspx?brand=DN&type=generate&name=original&id=9246441&source=ng-17ec6d9e-b378-450a-8845-a72e72cff554 Três anos de espera para consulta que devia ser feita em dois meses

Falta de especialistas

Se dermatologia é a especialidade que apresenta mais problemas – pelo menos 13 consultas literalmente de norte a sul do país têm mais de um ano de tempos de espera -, o hospital de Vila Real destaca-se como a unidade com mais especialidades com atrasos superiores a dois anos: quatro, desde logo com urologia, que em novembro apresentava um tempo de espera médio de 1599 dias (mais de quatro anos), o segundo mais dilatado. O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes não respondeu aos pedidos de esclarecimentos enviados pelo DN, ao contrário do hospital de Braga, que vem em terceiro lugar nessa lista, com os 1075 dias (três anos) para uma consulta considerada normal de genética médica.

Mas também neste caso a administração esclarece que atualmente esse prazo está um pouco abaixo dos dois anos (687 dias). “A redução do tempo médio de resposta para a consulta de genética médica é a prioridade para este serviço e uma das medidas implementadas é o reforço da equipa através da contratação de um especialista”, informa o hospital, que adianta ainda que “o recrutamento está já a decorrer e o desfecho está dependente da conclusão do exame nacional da especialidade de genética médica, que tem apenas três médicos inscritos”. Também nesta especialidade – de prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças de origem genética – “a escassez de especialistas em Portugal é uma realidade que tem dificultado os processos de recrutamento”, argumenta o hospital de Braga, que conclui dizendo que os utentes que aguardam consulta de genética médica estão já a ser acompanhados por médicos de outras especialidades.

Especialidade habitualmente com atrasos para cirurgia, o tratamento para a obesidade apresentava também, a 30 de novembro, esperas próximas dos dois anos no hospital de São João (637 dias, 1863 doentes na lista) e no Amadora-Sintra (612 dias de espera média). E ambas incluídas na cirurgia geral. “Os hospitais têm a maioria das consultas fechadas, não querem aumentar as listas de espera”, aponta o presidente da Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos. “E percebemos isto porque as listas não variam muito de ano para ano, só aceitam sensivelmente o mesmo número de doentes para primeira consulta dos que saem para cirurgia, isto apesar de termos muito mais procura pelas consultas”, acrescenta Carlos Oliveira.

Num levantamento feito no início do ano, o Sindicato Independente dos Médicos argumentava que os atrasos nas consultas de especialidade devem-se a que cerca de metade do horário normal de trabalho dos especialistas seja dedicado ao serviço de urgências. A análise agora feita pelo DN deteve-se nos 60 hospitais com urgências que disponibilizam dados para o portal dos tempos de espera do Ministério da Saúde.

Origem
DN
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