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Quase um terço dos estudantes abandona ensino superior

Jornal Noticias

Quase um terço dos estudantes (29%) abandona o ensino superior e mais de metade (54%) não termina a licenciatura em três anos. Os dados constam de um relatório da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) que aponta as dificuldades escolares como a principal causa de insucesso e recomenda às instituições que sinalizem e acompanhem os estudantes.

A DGEEC sinalizou os estudantes que chegaram ao ensino superior no ano letivo 2010-2011 e verificou quantos destes, quatro anos depois, já se tinham formado, ainda estavam a frequentar a mesma licenciatura, tinham mudado de curso e desistido. Há mais abandono nos politécnicos (30%) do que nas universidades públicas (26%) e a desistência é superior entre os que ingressam pelo concurso para maiores de 23 anos (50%) ou que pedem transferência de instituições (62%) do que entre os que ingressam pelo regime geral (21%).

A partir da nota de ingresso, o estudo conclui que as dificuldades escolares são a principal causa de abandono: dos alunos que ingressaram com média de 10 valores apenas 19% concluiu o curso em três anos e 54% desistiram; comparativamente, entre os que entraram com média de 14, 52% concluíram a licenciatura no tempo previsto e saíram 20%. A relação leva a DGEEC a recomendar às instituições mecanismos de apoio. “Um aluno que ingresse com classificação de 10 ou 11 tem, logo à partida, um risco de insucesso merecedor de uma sinalização e monitorização mais próximas do seu progresso, o que nem sempre acontece”, lê-se.

Os presidentes da Associação Académica de Coimbra e da Federação Académica de Lisboa não ficaram surpreendidos com os números agora revelados num estudo inédito. “O estudo prova que o ensino superior ainda tem muito que palmilhar para ser inclusivo”, reage João Rodrigues (Lisboa).

Alexandre Amado (Coimbra) começa por defender que todas as instituições deviam ter gabinetes de apoio, pois neste momento os mecanismos são dispersos. Depois frisa que o abandono por razões de dificuldades financeiras “devia ser reduzido a zero”. “A maioria das bolsas serve para pagar propinas e a Ação Social devia antes servir para apoiar o alojamento, transportes e material escolar”, defende.

O reforço da Ação Social e a revisão das propinas é uma batalha antiga que terá de ser vencida para a estatística ser revertida, defendem.
“Temos uma fraca Ação Social que só abrange 20% dos estudantes. Hipoteca-se as expectativas dos alunos mas também do desenvolvimento científico e económico do país”, frisa João Rodrigues. A Federação Académica de Lisboa apresenta hoje o “Livro Negro” que alerta para a estagnação do investimento no ensino superior.

Informáticos são os que mais desistem

Entre as áreas de formação, é na Informática que se registou maior abandono: 36%, sendo que apenas 22% dos estudantes inscritos em 2011, concluíram a licenciatura em três anos. Ou seja, além das desistências esta também é a área com menor taxa de conclusão – que a DGEEC atribui à influência do mercado de trabalho. Humanidades (29%), Direito (26%) e Ciências Empresariais (24%) são as outras áreas com mais saídas. Os Serviços Sociais, Saúde, Jornalismo e Ciências Veterinárias são as áreas com taxas de conclusão mais elevadas: 75, 70, 69 e 68%, respetivamente.

Outro dos indicadores analisados, como determinante para o sucesso, foi verificar se são os estudantes deslocados que mais abandonam, devido ao desenraizamento social e aos custos financeiros acrescidos. Pelo contrário, revelam os dados. Os alunos deslocados abandonam menos (18% comparativamente com os 22% dos não deslocados) e são mais os que terminam as licenciaturas em três anos (54% face a 50% dos não deslocados). A motivação e empenho são fatores chave neste indicador, conclui a DGEEC.

Quanto à escolaridade das mães, os dados revelam que filhos de pais com formação superior desistem menos (15%) mas não são os que mais terminam a licenciatura no tempo previsto – 50% contra os 54% alcançado por filhos de pais com o 6º ano.

Origem
JN
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