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Lesados da VW unem-se e avançam para tribunais

Dinheiro Vivo

Centenas de consumidores queixam-se de idas constantes à oficina para resolver problemas mecânicos causados pelas reparações.

“Tive de voltar à oficina da marca por oito vezes. Já instalei dois injetores novos duas vezes, porque o software aumenta a pressão. Dizem-me que está tudo normal, mas o carro fica aos soluços e muitas vezes só anda com três cilindros.”

O Seat Ibiza 1.6 de Roberto Abraul nunca mais foi o mesmo depois de ter sido chamado para o arranjo nas oficinas do grupo Volkswagen em Portugal. É por causa de centenas de problemas causadas pela fraude nas emissões poluentes de 125 mil carros a gasóleo em Portugal – 11 milhões em todo o mundo – que está a ser criada uma associação de lesados, que quer ir para os tribunais contra o grupo alemão.

“Em Portugal, como nem toda a gente pode ir a tribunal, vamos constituir uma associação para podermos ter mais força junto das autoridades. Até final do mês vamos ter as primeiras reuniões”, conta Hélder Gomes, um dos membros desta associação, ao Dinheiro Vivo. Inspirado nos ‘lesados do BES’, este grupo “também servirá para alertar muitas pessoas que ainda não estão a par” dos problemas gerados pelas reparações.

“Admitimos que são casos que não deviam acontecer”, reconhece fonte oficial da SIVA. A importadora nacional da VW, Audi e Skoda diz que “tem analisado todas as reclamações” apresentadas ao longo do processo. “Provámos que só 10% das queixas têm alguma coisa a ver com as reparações”, refere a empresa, que já reparou 86 490 dos 101 600 carros afetados pelo caso. A Seat tem de reparar outros 23 351 veículos, mas não revela como está a correr o processo.

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O grupo introduziu uma medida de confiança, em junho do ano passado, para tentar tranquilizar os consumidores. Dá dois anos de garantia sobre 11 peças alvo da reparação, mesmo para quem foi à oficina antes de junho de 2017 tratar da atualização de software (motores 1.2 e 2.0) ou da instalação do estabilizador de fluxo (motor 1.6).

Mas André F. não se revê nesta confiança. “Como tenho ficado sem carro várias vezes, não tenho conseguido visitar a família, que fica fora de Lisboa. Fui à oficina em setembro de 2017; depois disso, já tive de mudar os injetores e trocar o radiador. Mesmo assim, o motor perde potência quando o depósito de combustível está abaixo do meio”. A marca não tem justificação para os problemas com o VW Golf 1.6. Filipe já tentou vender o carro, “mas como os stands sabem que foi afetado pelo Dieselgate reduzem bastante o preço”.

A confiança do grupo alemão tem outro limite: só os carros com menos de 250 000 quilómetros é que têm acesso à garantia de dois anos. “Está tudo errado na Europa: a reparação, que seria simples, está a revelar-se um grande transtorno. Não há resposta objetiva para estes problemas”, reclama Bruno Santos, especialista da Deco.

Reparação obrigatória A reparação dos carros afetados pelo Dieselgate em Portugal é obrigatória. O Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) refere que “um veículo pode reprovar na inspeção periódica caso não tenha efetuado a reparação no âmbito do caso”. Mas ainda não se sabe a partir de quando, porque está nas mãos de Bruxelas.

“A definição da data limite a partir da qual os veículos afetados têm que obrigatoriamente evidenciar a realização da ação da reposição da conformidade será estabelecida pelo IMT no âmbito da articulação mantida com os representes nacionais dos fabricantes e do acompanhamento que se encontra em curso por parte da Comissão Europeia.” A associação de defesa do consumidor, perante os problemas gerados com as reparações, pede ao IMT para suspender a obrigatoriedade da ida à oficina e lamenta a postura do grupo alemão. “São 11 contra 11, e no fim ganha sempre a Volkswagen.”

Joel Sousa, outro lesado, vai mais longe. “Conheço várias reparações que correram mal e que geraram problemas nos injetores e na válvula EGR. Se for obrigado a ir à oficina, o meu carro não vai ficar mais de um dia assim”, conta o proprietário de um VW Golf 1.6.

O Ministério da Economia, através do grupo criado em outubro de 2015, diz que “continua a acompanhar de perto o processo de chamada dos veículos para correção”. Mas só vai apresentar o relatório final “depois de terminada” a fase das reparações.

A SIVA prevê que em abril vai atingir conseguir chegar à meta de reparação de 90% dos carros. As oficinas da importadora, ainda assim, vão manter-se de portas abertas para arranjar os carros. E vê com confiança os processos em tribunal: “Todas as decisões têm sido a nosso favor”.

 

 

Origem
Dinheiro Vivo
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