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Corrida à vacina da gripe. Farmácias temem não ter stock para tanta procura

Esta segunda-feira, os mais velhos (65 anos ou mais) e doentes crónicos começam a ser vacinados contra a gripe, mas a corrida às vacinas começou em agosto. A procura aumentou este ano e teme-se que o stock de 2 milhões do SNS e 500 mil das farmácias não chegue para as encomendas.

É o maior número de sempre de doses de vacinas da gripe adquiridas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS): dois milhões, a serem administradas até ao final do ano. Mais 500 mil do que na época passada, em que, de acordo com o relatório final do Vacinómetro, foram vacinadas 1 544 781 pessoas com 65 anos ou mais e 279 540 entre os 60 e os 64 anos, tendo sido atingida a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS), com 76 por cento dos maiores de 65 a aderirem à vacinação. Naqueles que têm entre 60 e 64 anos e a quem a vacina é também fortemente recomendada, a cobertura ficou-se pelos 43,2 por cento.

Segundo o mesmo barómetro, que é uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, com o apoio da Sanofi Pasteur, realizada desde 2009, a cobertura entre os portadores de doença crónica foi de 72 por cento, de 58,9 por cento entre os profissionais de saúde e de 23,5 por cento entre as grávidas. A principal razão apresentada para fazer a vacina foi a recomendação médica (61,8 por cento). 11,9 por cento vacinaram-se por iniciativa própria e 24,6 por iniciativa da entidade empregadora.

Números que se estima que aumentem este ano, devido à pandemia de covid-19, com mais médicos a prescrever a vacina e mais pessoas a procurá-la por iniciativa própria. As farmácias estão a receber encomendas desde agosto e algumas temem mesmo que o stock não seja suficiente e por isso não estão a aceitar mais reservas.

Doentes crónicas e pessoas com mais de 65 anos são os destinatários da 2.ª fase da vacinação

Para isso contribuiu um reforço do apelo à vacinação por parte do Ministério da Saúde e da Direção Geral da Saúde, que iniciaram a campanha de vacinação gratuita duas semanas mais cedo do que o habitual em anos anteriores – a 28 de setembro -, abrangendo, na primeira fase, residentes, utentes e profissionais de estabelecimentos de respostas sociais, doentes e profissionais da rede de cuidados continuados integrados, profissionais do SNS e grávidas.

A diretora-geral da saúde, Graça Freitas, assegurou, no entanto, na última conferência de imprensa da DGS, em que deu conta da estratégia de reforço, no SNS, da vacinação contra a gripe sazonal, que a cobertura e o acesso à vacina estão garantidos.

“Já temos distribuídos 785 mil doses de vacinas e na próxima semana [que se inicia hoje] chegaremos a um milhão e quatrocentas mil doses”, disse a responsável, adiantando que “há vacinas suficientes para dar início à segunda fase”, dirigida às pessoas com 65 anos ou mais e àquelas que têm doenças crónicas ou graves, a partir dos seis meses, a quem as vacinas são administradas gratuitamente.

500 mil nas farmácias

Segundo a Associação Nacional de Farmácias (ANF), além dos dois milhões de doses que serão disponibilizados de forma gratuita pelo SNS, “as farmácias asseguraram o acesso a 500 mil vacinas, para o seu próprio serviço de vacinação, que existe há 12 anos, tendo assim Portugal 2,5 milhões de vacinas disponíveis”.

A operacionalização da vacinação gratuita e a distribuição no terreno é feita pelas ARS e assegurada pelos cuidados de saúde primários, nos centros de saúde, unidade de saúde familiar e unidades locais de saúde, mas este ano os idosos que não queiram ir ao centro de saúde, podem recorrer a uma farmácia

A partir desta segunda-feira, também as farmácias aderentes prestarão este serviço, estando previsto receberem 10 por cento do stock de vacinas do SNS reservadas aos idosos (65 anos ou mais), no âmbito do programa “Vacinação SNS Local”.

O programa, inspirado num projeto-piloto levado a cabo nos últimos dois anos em Loures, resultante de uma parceria daquela autarquia com a ANF para a vacinação da gripe, com resultados muito positivos, tendo aumentado “em 33% a imunização contra a gripe da população maior de 65 anos” naquele concelho, segundo a representante das farmácias, assumiu este ano dimensão nacional, com 2 750 farmácias aderentes, de 37 concelhos, entre os quais Lisboa não figura.

“As farmácias aceitaram o desafio do Ministério da Saúde de vacinarem contra a gripe, e sem custos para o utente, pelo menos 150 mil pessoas maiores de 65 anos”, diz a ANF, esclarecendo que “a operacionalização será feita em regime de parceria com as câmaras municipais que contribuirão para o suporte desta iniciativa, o que deverá fazer subir o número de beneficiários para além deste primeiro contingente”.

Para quem não tem direito à vacinação gratuita, a vacina é dispensada apenas nas farmácias, com comparticipação de 37%, mediante prescrição médica. As receitas médicas nas quais seja prescrita exclusivamente a vacina contra a gripe são válidas até 31 de dezembro deste ano.

Perguntas & Respostas

Quem deve ser vacinado contra a gripe?

Pessoas consideradas com alto risco de desenvolver complicações pós gripe: com 65 anos ou mais, particularmente se residentes em lares de idosos ou outras instituições; residentes ou internados por períodos prolongados em instituições prestadoras de cuidados de saúde, como por exemplo hospitais; grávidas; doentes com mais de 6 meses de idade e que apresentem doenças crónicas ou imunitárias.

Pessoas com probabilidade acrescida de contrair e transmitir o vírus: que residem com crianças ou que lhes prestem cuidados, cuja idade não permita a vacinação e que tenham risco elevado de complicações; que residem com pessoas consideradas de alto risco de desenvolver complicações pós gripe.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Profissionais dos serviços de saúde (públicos e privados) e de outros serviços prestadores de cuidados; bombeiros; profissionais de infantários, creches e equiparados; profissionais dos estabelecimentos prisionais.

Pessoas incluídas nos seguintes contextos: residentes em instituições, incluindo lares de idosos, lares de apoio, lares residenciais e centros de acolhimento temporário; utentes de serviço de apoio domiciliário; doentes na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados; pessoas apoiadas no domicílio pelos serviços de apoio domiciliário (Segurança Social ou Misericórdias Portuguesas); doentes apoiados no domicílio pelas equipas de enfermagem das unidades funcionais prestadoras de cuidados de saúde ou com apoio domiciliário dos hospitais do SNS; doentes internados em unidades de saúde do SNS e que apresentem doenças crónicas para as quais se recomenda a vacina; reclusos nos estabelecimentos prisionais.

Recomenda-se ainda a vacinação das pessoas com idade entre os 60 e os 64 anos.

Quem tem direito à vacinação gratuita?

Pode vacinar-se gratuitamente nos centros de saúde e nas farmácias comunitárias (aqui apenas para utentes com mais de 65 anos) e sem necessidade de declaração médica:

Pessoas com 65 anos ou mais; grávidaspessoas com mais de 6 meses de idade com diabetes mellitus; que fazem diálise; que têm trissomia 21; transplantadaspessoas com mais de 6 meses de idade que estejam nos seguintes contextos: residentes em instituições, incluindo lares de idoso, lares de apoio, lares residenciais e centros de acolhimento temporário; utentes de serviço de apoio domiciliáriodoentes na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados; pessoas apoiadas no domicílio pelos serviços de apoio domiciliário (Segurança Social ou Misericórdias Portuguesas); doentes apoiados no domicílio pelas equipas de enfermagem das unidades funcionais prestadoras de cuidados de saúde ou com apoio domiciliário dos hospitais do SNS; doentes internados em unidades de saúde do SNS e que apresentem doenças crónicas para as quais se recomenda a vacina

A vacina contra a gripe é, ainda, gratuita para: profissionais do SNS, incluindo estudantes em estágios clínicos; bombeiros com atividade assistencial; residentes em instituições ou pessoas internadas em unidades do SNS; guardas prisionais e reclusos.

Quem pode fazer a vacina gratuitamente, com necessidade de declaração médica?

Pode vacinar-se gratuitamente nos centros de saúde e nas farmácias comunitárias (aqui apenas para utentes com mais de 65 anos) com necessidade de declaração médica as pessoas que: aguardam transplante de células precursoras hematopoiéticas ou de órgãos sólidos; tenham fibrose quística; tenham défice de alfa-1 antitripsina sob terapêutica de substituição; tenham patologia do interstício pulmonar sob terapêutica imunossupressora; tenham doença crónica com comprometimento da função respiratória, da eliminação de secreções ou com risco aumentado de aspiração de secreções; tenham doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC); tenham imunodepressão primária, secundária a doença, secundária a terapêutica (quimioterapia, fármacos biológicos, DMAS ou com corticoides sistémicos).

Onde é que as pessoas podem dirigir-se para fazer a vacina e quem tem direito a vacinação gratuita?

Podem contactar a sua unidade de saúde. Se tiverem 65 ou mais anos e se, no seu concelho, as farmácias vacinarem com a vacina do SNS poderão também ser vacinadas gratuitamente nestas farmácias aderentes.

Há 37 concelhos que já aderiram ao programa Vacinação SNS Local: Águeda; Amadora; Arganil; Azambuja; Batalha; Bombarral; Carrazeda de Ansiães; Castelo Branco; Fafe; Faro; Figueira da Foz; Fornos de Algodres; Guimarães; Ílhavo; Loures; Mafra; Matosinhos; Mealhada; Monção; Mondim de Basto; Moura; Óbidos; Oeiras; Oliveira de Frades; Oliveira do Bairro; Ourém; Penela; Porto; Reguengos de Monsaraz; Sabugal; Salvaterra de Magos; Setúbal; Sintra; Tomar; Torre de Moncorvo; Torres Vedras; Vouzela.

Quando deve ser feita a vacina e o que devem fazer as pessoas para evitar concentrações?

As pessoas podem agendar a sua vacinação, idealmente entre outubro e novembro e, de preferência até final do ano.

Há alguém que não deva ser vacinado?

Quem tenha antecedentes de alergia a qualquer dos componentes da vacina, nomeadamente aos excipientes ou às proteínas do ovo e quem tenha antecedentes de Síndroma de Guillain-Barré nas 6 semanas seguintes à administração de uma dose da vacina. A vacinação deverá ser adiada ainda em caso de doença febril, moderada ou grave ou doença aguda.

A vacina disponível este ano protege de que variantes da gripe?

De acordo com a recomendação da OMS, as vacinas tetravalentes contra a gripe na época 2020-2021, no Hemisfério Norte, incluem: A/Guandong-Maonan/SWL 1536/2019; A (H1N1)pdm09 – A/Hong Kong/2671/2019; A(H3N2) – B/Washington/02/2019; B/Victoria – B/Phuket/3073/2013; B/Yamaga

Porque é que é tão importante a vacinação neste ano em particular?

A vacinação dos grupos prioritários é sempre importante nesta época, independentemente de estar em curso a pandemia de covid-19. A vacinação contra a gripe este ano, poderá, no entanto, permitir que se faça um diagnóstico diferencial entre doenças respiratórias, nomeadamente gripe e covid-19.

O que é necessário que saibam aqueles que têm medo de ser vacinados?

É importante saber que uma vacina, como qualquer outro medicamento, tem de ter provada a sua eficácia e segurança. No caso da vacina da gripe, esta é uma realidade conhecida há muitos anos, com benefícios largamente conhecidos, em especial para os grupos prioritários como o dos idosos. A vacinação reduz muito o risco de contrair a infeção. Se for infetada, a pessoa vacinada terá um menor risco de ter complicações.

Quantos portugueses se espera que sejam vacinados em 2020.

Na primeira fase, estimava-se que a população-alvo fosse de cerca de 300 000 pessoas. Tendo em conta as taxas de coberturas de anos anteriores, a expectativa é ultrapassar uma taxa de cobertura de 90% nos lares e os 50% nas grávidas, mas só após a vacinação estar concluída será possível ter taxas consolidadas.

A vacina pode provocar a gripe?

Não. A vacina contra a gripe não contém vírus vivos, pelo que não pode provocar a doença. No entanto, as pessoas vacinadas podem contrair outras infeções respiratórias virais que ocorrem durante a época de gripe e para as quais não há vacina.

A vacina dá proteção a longo prazo?

Não. O vírus muda constantemente, surgindo novos tipos de vírus para os quais as pessoas não têm imunidade e a vacina anterior não confere proteção adequada. Por isso a vacina é diferente em cada ano.

Como foi a época gripal passada?

De acordo com o Instituto Ricardo Jorge, na época 2019/20, a epidemia de gripe teve um início mais precoce do que na maioria dos anos anteriores. O período epidémico de gripe ocorreu entre as semanas 50/2019 (09 a 15 de dezembro) e 06/2020 (03 a 09 de fevereiro), sendo que o valor máximo observado da taxa de incidência semanal de síndrome gripal foi de 62,2 casos por 100.000 habitantes na semana 03/2020.

De acordo com o histórico da vigilância da gripe, estes valores indicam uma atividade gripal de intensidade baixa. Neste período, co-circularam vírus do tipo A [em especial, do subtipo A(H1)]e B (em especial, B Victoria).

Sublinha-se que estes valores são estimados a partir de uma amostra de doentes com síndrome gripal que recorreram aos serviços de saúde e que foram identificados nas redes de vigilância da gripe, não correspondendo à totalidade dos casos de gripe ocorridos no país, uma vez que a gripe sazonal não é de notificação obrigatória.

Origem
DN.pt
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