AS MÃOS JÁ NÃO AGUENTAM TANTA DESINFEÇÃO? SAIBA COMO MANTÊ-LAS CUIDADAS
Com o surto de pandemia da covid-19, lavar as mãos passou a ser uma ação ainda mais necessária e repetida. Aliás, é uma das principais recomendações da Organização Mundial de Saúde para evitar o contágio com o novo coronavírus. Mas o que fazer para que tanta desinfeção não agrida a saúde da pele? Falámos com a dermatologista Andréa Martins.
Entrevista por Rute Cruz
Com água e sabão, com álcool em gel ou simplesmente com álcool, desinfetar as mãos passou a ser um gesto que deve ser repetido várias vezes ao dia. Contudo, a frequência necessária pode ter efeitos desagradáveis na saúde das mãos, a exposição constante a fórmulas à base de álcool e até mesmo a lavagem das mãos com sabão causam secura, vermelhidão, irritação e as unhas também são afetadas, ressecando as cutículas, que podem mesmo levantar.
É assim necessário garantir o reforço de hidratação e compensar a perda da camada de gordura e da humidade natural da pele. Usar um creme hidratante depois de cada higienização passa a ser, também, uma obrigação.
Em conversa com a DN Life, Andréa Martins dermatologista no Hospital da Cruz Vermelha dá conselhos de como cuidar das mãos em tempos de pandemia.
No cenário que estamos a viver com a pandemia da covid-19, com a importância de lavar e de desinfetar as mãos, qual o erro mais comum?
O erro mais comum é desinfetar as mãos com álcool ou álcool gel quando temos hipótese de lavar com água e sabão, nomeadamente quando estamos em casa. Se estamos na rua e a contactar com muitas superfícies, para evitar esta higienização excessiva, podemos usar luvas de nitrilo ou de plástico. As luvas de látex são ainda mais irritantes para a pele.
Por que é que o álcool 70% é mais eficaz que o álcool comum?
É menos irritante e demora mais tempo a evaporar (mantendo-se em contacto mais tempo contra o agente em causa) e, por ter um maior poder de penetração na parede celular do microorganismo, tem uma ação desinfetante mais eficaz do que o álcool 96%.
O álcool gel é menos agressivo que o álcool?
Sim, a formulação em gel é menos agressiva e mais prática para aplicar nas mãos.
Há alguma receita de álcool gel caseiro que recomende?
Não recomendo que se faça álcool gel em casa pelo risco da preparação ser inadequada e o produto tornar-se mais agressivo para a pele e eventualmente ineficaz contra o vírus, dependendo do espessante utilizado. Como na sua base será geralmente usado álcool líquido, é sinal que temos álcool líquido em casa. Portanto, na falta do gel, mais vale usar o líquido.
Para quem continua a sair pouco à rua, é necessário lavar e desinfetar as mãos? O número de vezes é o mesmo recomendado pela OMS para quem sai todos os dias?
Se não sair de casa, não há esta necessidade. No entanto, por vezes “saímos de casa, sem sair da casa”. Por exemplo, se receber uma encomenda em casa, tocar no botão do elevador do prédio, for à caixa do correio, os cuidados são os mesmos de quem sai de casa. Mas basta lavar as mãos corretamente e de cada vez que voltar a contactar com artigos ou superfícies do exterior, que não é preciso desinfetar depois de lavar.
O que pode causar à pele devido à higienização frequente (lavar com sabão e usar desinfetantes)?
Pode causar eczema das mãos, que pode manifestar-se por pele muito seca, descamativa, vermelha e até mesmo com pequenas bolhas ou fissuras. Geralmente é sintomático, com ardor, prurido ou dor. E pode também, como complicação do eczema, surgir uma infeção bacteriana na pele.
E como recuperar a saúde da pele?
Para recuperar, devemos aplicar creme hidratante várias vezes por dia e lavar as mãos com água fria, uma vez que a água quente seca ainda mais a pele.
Com que frequência deve aplicar-se o hidratante?
Devemos aplicar o hidratante preferencialmente após cada lavagem das mãos e ao deitar.
Qual a quantidade recomendada de hidratante para que as mãos não fiquem demasiado gordurosas?
A quantidade é a suficiente para conseguir espalhar por toda a superfície das mãos, sem sobrar, e vai depender da textura do hidratante.
Qualquer hidratante é eficaz ou depende do tipo de pele? Quais a fórmulas que recomenda?
Aqui o tipo de pele não é o mais importante, porque nesta fase geralmente estão todos com a pele seca. A eficácia do hidratante depende da quantidade de vezes que se aplica, quanto mais vezes, melhor.
No entanto, a permanência do creme na pele depende das tarefas que realizamos a seguir. As texturas mais fluidas são menos eficazes, mas deixam as mãos menos gordurosas, permitindo a realização da maioria das tarefas de casa ou no trabalho.
As texturas mais espessas são mais eficazes, mas limitam-nos em relação ao contacto com determinadas superfícies, como por exemplo o teclado do telemóvel ou do computador.
Recomendo as fórmulas sem perfume, pois este pode irritar ainda mais a pele. Quanto à textura, pode ser em emulsão, creme ou pomada, do menos ao mais gorduroso por esta ordem. E vai depender do estado da pele e das tarefas que estamos a realizar.
Nesta fase recomenda uma esfoliação?
Não recomendo esfoliação nesta fase, pois pode irritar ainda mais a pele, que por si só já está muito sensibilizada.