Novo Banco enviou aos deputados a auditoria da Deloitte expurgada de dados sigilosos
O documento de 397 páginas, deverá ser tornado público brevemente, confirmou fonte ligada ao processo. Esta terça-feira, dia 8 de setembro, realiza-se uma reunião da Comissão de Orçamento e Finanças, que irá abordar o tema.
Foi enviado ao fim do dia de sexta-feira a versão da auditoria especial da Deloitte já expurgada de dados que violem o sigilo bancário, nomeadamente o nome dos clientes, mas não só, confirmou o Jornal Económico.https://s.frames.news/cards/lucros-do-novo-banco/?article-id=1643859&publisher=www.jornaleconomico.sapo.pt&publisher=www.jornaleconomico.sapo.pt
O jornal Eco avançou que os deputados já tinham a versão publicável da auditoria da Deloitte, e que esta terça-feira ao meio-dia, a mesa e os coordenadores da comissão encontravam-se para definir a programação dos trabalhos. Sendo que, segundo o jornal online, depois do almoço serão votadas diversas propostas dos partidos para audição de vários intervenientes e para a disponibilização pública do relatório da auditoria.
A emergência em criar todas as condições para que a auditoria se torne pública, surge numa altura em que vários partidos da oposição questionam a independência do trabalho elaborado pela Deloitte & Associados SROC, na sequência da notícia do Jornal Económico que a Deloitte Espanha tinha assessorado o Novo Banco numa das vendas que geraram perdas de 250 milhões para o banco, cobertas pelo mecanismo de capitalização contingente, e que estão abrangidas por esta auditoria independente, a venda da GNB Vida.
O documento de 397 páginas, deverá ser tornado público brevemente, confirmou fonte ligada ao processo. Esta terça-feira, dia 8 de setembro, realiza-se uma reunião da Comissão de Orçamento e Finanças, que irá abordar o tema, tal como avançado pela edição de sexta-feira do JE.
A auditoria especial e independente, que teve por objeto um conjunto alargado de operações que originaram perdas para o Novo Banco, entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018, de 4.042 milhões de euros, detetou imparidades para crédito no valor de 2.320 milhões em 201 operações.
As imparidades com crédito representam 57% do total dos quatro mil milhões de perdas. A quase totalidade de perdas com créditos resultam de imparidades, já que a única venda de portefólio de malparado abrangida pela análise é a do Nata I.
Deloitte faz recomendações de melhoria ao Novo Banco
O relatório da auditoria ao BES/Novo Banco “descreve um conjunto de insuficiências e deficiências graves de controlo interno” até 2014 do BES no processo de concessão e acompanhamento do crédito, bem como relativamente ao investimento noutros ativos financeiros e imobiliários.
“O relatório descreve os progressos realizados nestas matérias no período de atividade do Novo Banco”, admitiu em comunicado o Governo.
Mas “não obstante a evolução verificada no período de atividade do Novo Banco”, o Governo considera “imprescindível que sejam desenvolvidas, por todos os intervenientes, todas as ações necessárias para assegurar a rápida e integral correção das questões identificadas no relatório da auditoria especial. Reitera-se a importância do integral cumprimento dos compromissos contratualmente assumidos, designadamente perante o Fundo de Resolução, o qual deverá avaliar quaisquer situações identificadas à luz das respetivas prerrogativas”, revelou o Ministério das Finanças.
Também o Novo Banco em comunicado admitiu que há recomendações da Deloitte ao banco. O Novo Banco diz estar “totalmente empenhado em continuar o caminho traçado” para “cumprir na íntegra as indicações” referidas no relatório de auditoria.
Na conferência de imprensa, o CEO deu exemplos. “Existem dois pareceres contraditórios na contratação de um consultor para efeitos da venda de uma carteira de imobiliário” e a Deloitte pede uma clareza das regras de compliance, sobre “se devemos ou não permitir que um determinado consultor trabalhe, por exemplo, uma operação em Espanha quando não pode trabalhar essa operação em Portugal”.
Há ainda uma sugestão que é a “de passarmos a fazer contrapontos de avaliação dos imóveis, quando há desvios significativos entre os avaliadores independentes, nas avaliações que fazem de um ano para o outro”, a Deloitte pede que os avaliadores expliquem bem as diferenças de avaliações. “Iremos com certeza fazê-lo”, garante.
Surge também uma crítica da Deloitte ao facto de o banco não ter feito uma reavaliação das participações em Fundos de Reestruturação que tem em carteira. “Como sabe fizemos essa reavaliação no primeiro semestre de 2020 e não o fizemos antes porque o contrato do CCA não o permitia fazer até outubro de 2019. O fair value devia ter sido realizado, diz a Deloitte. Já o fizemos”. O Novo Banco registou uma desvalorização de 260,6 milhões destes fundos de reestruturação, em resposta à decisão constante na SREP letter do BCE.