Taça. O bilhete que valeu cada cêntimo e um desfecho que parecia estar escrito
O Sporting venceu o FC Porto nos penáltis e sagrou-se vencedor da prova rainha do futebol português. É o segundo troféu de Marcel Keizer, que chegou há seis meses ao comando técnico do emblema de Alvalade.
Sábado. Meio dia. O sol não dava tréguas e ajudava, por isso, a justificar mais facilmente a razão de puxar outra cervejinha da geleira. A bifana com a batata frita a acompanhar era o ‘match’ perfeito para a ocasião.
Os parques improvisados em redor do Jamor são cenário ideal para os piqueniques já habituais na festa da Taça de Portugal. Por essa hora, as camisolas verdes e brancas são as que se fazem notar mais. E os sportinguistas dizem estar confiantes para o jogo que se avizinha, apesar de alguns dos adeptos leoninos nas imediações não terem conseguido um ingresso.
Não tem importância. Afinal, por esta altura, a festa faz-se fora de campo. E em família.
Não falta paciência para esperar por um lugar e as buzinadelas só servem para começar a afinar as gargantas para o clássico que se segue entre Sporting e FC Porto.
Entre os adeptos do emblema de Alvalade ainda está bem presente a memória do encontro do último ano, precisamente neste palco. Não pela derrota, que fique claro, mas pelo contexto das lágrimas que por aqui foram derramadas.
Acreditam, agora, numa vitória e num final feliz, e lembram a Taça da Liga.
E prometem voltar a chorar. Pela honra do clube.
Mas há ainda o outro lado: de vestes azuis e brancas, o triunfo também é dado como garantido, numa época que já se revelou frustrante. Aliás, a missão de vencer a prova rainha do futebol português parece ser, aliás, obrigatória.
Os adeptos portistas acreditam numa vitória em tempo útil, e por isto subentendam-se os 90 minutos.
Alguns até arriscam resultados bem ousados e prometem que a cevada ainda não está a influenciar a aposta.
A barriga está aconchegada e a alma também. É hora de colocar a mão no bolso à caça do bilhete e seguir rumo aos torniquetes. Sempre em festa, claro.
As bancadas do estádio do Jamor vão–se compondo até ficarem oficialmente divididas, embora numa festa só.
Um lado pintado de verde, o outro de azul.
A bola está quase a começar a rolar e as emoções também. De um lado para o outro. Literalmente.
Dinheiro bem gasto!
Os cânticos ecoavam quando o apito inicial se fez ouvir.
Jogo quente, ambiente também, e era nesta harmonia que chegava o primeiro golo. Jamor em festa de um lado, protestos do outro. Com razão. Marega sorria depois de inaugurar o marcador, colocando o FC Porto em vantagem, mas por pouco tempo. Consultado o VAR, o golo do avançado maliano foi anulado (e bem) por fora de jogo. Alívio leonino e sorriso amarelo no dragão, ainda que por pouco tempo.
Depois de terem ameaçado, os azuis-e-brancos chegaram mesmo à vantagem, ainda na primeira metade, mas por Tiquinho Soares (41’), que depressa ergueu a camisola com o nome de Iker Casillas, que assistia atento ao encontro na bancada.
A euforia dos adeptos portistas voltava a fazer tremer um dos lados do Jamor. Tremiam, por sua vez, as pernas dos sportinguistas, do outro.
Mas não demorou a ser colocado um ponto final na ansiedade verde-e-branca. Pelo suspeito do costume, mais uma vez. Ainda antes do intervalo, Bruno Fernandes rematou, e com a ajuda de Danilo, a bola chegou ao fundo da baliza à guarda de Vaná.
Tudo empatado, tempo de descanso, e emoções ao rubro no Estádio Nacional. Que prometiam continuar. Se prometiam!
Se o FC Porto parecia estar por cima do encontro, o Sporting revelava-se uma equipa mais assertiva.
A falta de golos na segunda metade esteve longe de ser sinónimo de um jogo sem oportunidades ou interesse. Muito pelo contrário. E a merecer o rótulo de festa mais bonita do futebol português, a prova seguia para o prolongamento, com o 1-1 verificado na primeira metade.
Seguiu-se o tempo extra, e como valeu a pena! Se, por vezes, esta é muitas vezes a fase do deixa arrastar, tal esteve muito longe de acontecer.
Mais uma vez, um leão inteligente, e a querer provar que vinha repôr justiça depois do último ano, carimbou a reviravolta no marcador e colocou-se pela primeira vez em vantagem nesta final. Bas Dost (101’) não deu hipóteses ao guardião do FC Porto, deixando metade do Jamor em delírio.
O tempo jogava, agora, a favor do conjunto leonino e no banco (e bancada) portista o desespero estava bem presente nas expressões dos jogadores (e adeptos).
O relógio não parava e, quando já tudo parecia estar certo para o Sporting vingar a edição da prova de 2017/18, eis que um cabeceamento de Filipe, nos últimos suspiros da partida, volta a colocar o marcador em igualdade (2-2).
Por esta altura, havia um sentimento em comum: independentemente do clube, ou mesmo para qualquer adepto de futebol, este era daqueles jogos em que cada cêntino do bilhete valeu bem a pena.
A discussão foi, entretanto, empurrada para as grandes penalidades e foi nesta lotaria (espetacular!) que o Sporting(curiosamente o primeiro a falhar) viria a conquistar a Taça de Portugal. À semelhança do que tinha acontecido na Taça da Liga, Renan Ribeiro voltou a ser o protagonista, ao defender uma das grandes penalidades. Uma referência também para Luiz Phellype, que apontou o último penálti, garantido que a Taça seguiria para Alvalade.
Foi a 17.ª Taça de Portugal da história do Sporting, que não vencia a prova desde 2014/15.
À saída, a alegria dos adeptos leoninos contrastava com a desilusão dos dragões – que fecham a época sem conquistar nenhum troféu.
Entre os verdes e brancos a felicidade prometia seguir para o Estádio de Alvalade, onde a festa estava agendada.
Os adeptos também não se esqueceram de Marcel Keizer, técnico holandês que chegou há seis meses ao Sporting e alcançou dois troféus em 2018/19.
Defendem que foi uma aposta certeira por parte de Frederico Varandas, presidente leonino que não conseguiu conter as lágrimas após a conquista. Afinal, esta Taça de Portugal era muito mais do que apenas mais um título no currículo do clube. Era uma questão de honra.
Os adeptos estão entusiasmados em relação ao que se segue. E não há sequer dúvidas sobre o principal desejo: o campeonato português. Que os leões não vencem desde 2001/02. A hora chegou. Por aqui, pelo menos, é essa a certeza entre os sportinguistas.