O que será de Paris sem os sinos de Notre-Dame?
Catedral gótica é um dos monumentos mais visitados no mundo. As autoridades acreditam que o incêndio terá começado num andaime no local onde estavam a decorrer as obras de recuperação do edifício
Em Paris, há coisas que damos como adquiridas: o cheiro a croissants acabados de fazer, o bateau-mouche a descer o Sena e os sinos de Notre-Dame a receberem o novo dia. Podemos dar como adquirido tudo isto, mas não devemos. O incêndio que deflagrou ontem na catedral parisiense mostra que, num instante, tudo pode ser posto em causa.
Centenas de pessoas juntaram-se ontem nas ruas de Paris para, em silêncio, observarem as chamas. Um porta-voz da catedral disse à imprensa que a estrutura “está toda a arder”. “Não vai restar nada. Vamos ver se a abóbada, que protege a catedral, será afetada ou não”, afirmou. Segundo a agência France Press, os bombeiros começaram por levantar a hipótese de que a catedral podia não resistir às chamas. Mais tarde, avançaram com a informação de que a estrutura principal da Notre-Dame se encontrava a salvo
O incêndio deflagrou por volta das 19h00 (18h00 em Lisboa), no forro do edifício. Imagens de nuvens de fumo junto às emblemáticas torres espalharam-se rapidamente pelas redes sociais. O fogo tomou grandes proporções e, em menos de uma hora, o edifício com mais de 850 anos estava envolvido pelas chamas. Às 21h00 (20h00 hora de Lisboa), o pináculo – acrescentado à catedral do século XII apenas no século XIX – e o teto do edifício já tinham desabado.
Ainda não foram reveladas as causas do incêndio, mas fonte da polícia parisiense adiantou à imprensa local que o mais provável é que tenha começado num andaime no local onde estão a decorrer os trabalhos de recuperação do edifício, que arrancaram há mais de um ano com um investimento de 150 milhões de euros. Certo é que, pouco tempo depois de o fogo deflagrar, as autoridades francesas anunciaram a abertura de uma investigação às causas deste incêndio. Segundo a Reuters, há um bombeiro gravemente ferido. Por precaução, a polícia parisiense criou um perímetro de segurança alargado nas imediações de Notre-Dame.
Centenas de bombeiros estiveram no local a combater as chamas que destruíam este edifício, classificado Património da Humanidade pela UNESCO, organismo que já se disponibilizou para ajudar as autoridades francesas a recuperarem este edifício histórico. De acordo com a imprensa francesa, um dos focos dos bombeiros era salvar as obras de arte e objetos de valor cultural que se encontram dentro da catedral, um dos monumentos históricos mais visitados no mundo. Pelo menos 16 estátuas e obras de arte foram poupadas, por terem sido retiradas no edifício para restauro.
“Uma dor que nos trespassa o olhar” O Presidente francês Emmanuel Macron estave no local a acompanhar as operações. “A Notre-Dame de Paris está em chamas. Emoção de uma nação inteira. Penso em todos os católicos e em todos os franceses. Como todos os nossos compatriotas, estou triste esta noite por ver esta parte de nós arder”, escreveu na sua conta oficial no Twitter.
Também nas redes sociais, Donald Tusk e Angela Merkel reagiram ao que se estava a passar em Paris, dizendo que Notre Dame não era apenas um símbolo de Paris mas da Europa. “A Notre-Dame de Paris é a Notre-Dame de toda a Europa. Hoje estamos todos com Paris”, escreveu o presidente do Conselho Europeu na sua conta oficial. “A Nossa Senhora de Paris é um símbolo da França e da nossa cultura europeia”, publicou a chanceler alemã no Twitter.
Também a primeira-ministra britânica, Theresa May, usou as redes sociais para deixar uma mensagem de apoio aos franceses: “O povo de França e os serviços de emergência que combatem o terrível incêndio em Notre-Dame estão no meu pensamento”. Já o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, falou numa “dor que nos trespassa o olhar e logo nos marca a alma”. “Paris sempre Paris ferida na sua Catedral em chamas, um símbolo maior do imaginário coletivo a arder, uma tragédia francesa, europeia e mundial”, lê-se na mensagem enviada por Marcelo ao seu homólogo francês.
Uma das reações que mais deram que falar foi a de Donald Trump, um dos primeiros chefes de Estado a usar o Twitter para comentar o que se está a passar em Paris. “É horrível assistir ao grande fogo na catedral de Notre Dame em Paris. Talvez se possam usar meios aéreos para o apagar. É preciso agir depressa!”, escreveu. Os comentários não se fizeram esperar. Foram muitos os que usaram a internet para explicar que o uso de um canadair não é o mais adequado para combater um fogo urbano. A própria Proteção Civil francesa respondeu a Trump no Twitter, esclarecendo que o uso de meios aéreos poderia destruir toda a estrutura da catedral.